Uma conversa à volta das histórias de um livreiro
Jaime Bulhosa tem 55 anos, 33 deles passados a trabalhar com livros. Começou em 1985, na mais antiga livraria do mundo, a Bertrand do Chiado, para dois anos depois, juntamente com os irmãos Paulo e Gonçalo, fundar uma das livrarias de referência de Lisboa, a Bulhosa Livreiros, no Centro Comercial das Amoreiras. O sucesso foi tanto que, no espaço de 6 anos, espalharam a marca pela cidade em outras tantas livrarias com o mesmo nome. Irrequieto, insatisfeito, irreverente, Jaime vendeu a sua quota e ingressou no Grupo JRP, que detinha, na altura, diversas editoras e as lojas Valentim de Carvalho, para onde foi trabalhar como Director Comercial até 2006, altura em que saiu para abrir, com Isabel Nogueira, a Pó dos Livros.
O primeiro livro que vendeu na sua livraria, foi a um amigo, que fez questão de ser o primeiro cliente, O Pequeno Livro do Grande Terramoto, do Rui Tavares, editado pela Tinta da China, da Bárbada Bulhosa, com quem era casado à época. Durante 11 anos, a Pó dos Livros foi a mais prestigiada livraria independente de Lisboa, revolucionando a forma de vender livros, para cativar leitores e enfrentar a concorrência das grandes cadeias de distribuição que dominavam o mercado, organizando tertúlias, debates, apresentações, cursos e um sem número de actividades que fizeram do número 58 da Avenida Duque de Ávila, mais do que uma livraria, um espaço de convívio e de conversa, tendo os livros como pretexto.
Ao longo de uma vida dedicada aos livros, Jaime foi escrevendo pequenas histórias, algumas publicadas no blogue da Pó dos Livros, outras tantas, apenas pelo prazer de registar memórias. Compilou-as, agora, no extraordinário “Pedra de Afiar Livros e Outras Histórias de Um Livreiro”.
Numa longa conversa à volta de um cozido à portuguesa e com muitos cigarros por companhia, Jaime Bulhosa falou-nos do seu amor pelos livros, herdado de seu pai, de cultura, de edição e, sobretudo, do orgulho de ter incutido, em tanta gente, o gosto pela leitura, porque, como escreve: “Um livreiro não vende livros. Um livreiro vende: Aventuras, viagens, e Volta ao Mundo em Oitenta Dias. Continentes, países e Cidade Proibida. Romances, dramas e Sexus. História, pré-história e civilizações clássicas. Batalhas, Guerra e Paz. Reis, rainhas, O Príncipe e O Conde de Monte Cristo. Pintores, escultores, O Arquitecto, fotografias. Música, versos e poemas. Sonhos, auto-ajuda, artes divinatórias e outras mentiras. Constituições, leis, decretos-lei. Tudo isto e muito mais numa caixa mágica chamada livro.”
Lê-se pouco, em Portugal?
A leitura sempre foi para um nicho. Trabalho como livreiro há 33 anos e comecei num tempo em que havia 10 lojas da Bertrand, que eram todas diferentes, e livrarias independentes que representavam 75% do mercado. Hoje em dia, nem 10% representam. A grande alteração deu-se com a entrada da Fnac há cerca de 20 anos e do grande capital no mercado livreiro quando, de repente, se percebeu que o livro poderia entrar nas bombas de gasolina, nos supermercados, em todo lado. Foi isso que fez o boom dos livros. Passou-se a editar muito mais e passou-se a ler mais. Agora, se se lê com mais qualidade, já são outros quinhentos (risos).
Esse boom não trouxe benefícios como, por exemplo, o aparecimento de muitos novos escritores que, apesar de muito jovens, conseguem editar as suas obras?
De facto, isso não existia e é um dos lados bons. Mas, não nos podemos esquecer que antes, como havia menos autores, o crivo era mais apertado. As editoras filtravam o que era e não era bom. Hoje em dia aparece muita coisa, edita-se por dá cá aquela palha. Se isso é bom, não sei. Até pode ser, mas tenho as minhas dúvidas.
O desaparecimento das livrarias independentes ficou a dever-se, exclusivamente, à entrada no mercado de grandes cadeias internacionais?
Quando o grande capital entrou no mercado dos livros, as livrarias independentes começaram a desaparecer, porque não tinham hipótese de ser competitivas e, também, porque não se adaptaram à nova realidade. Hoje em dia, as coisas acontecem muito rapidamente, o que torna muito difícil esse ajuste. Ainda para mais quando os livreiros estavam habituados a trabalhar, há imensos anos, de determinada forma. Mesmo adaptando-se, como alguns fizeram, a concorrência é tão desleal que não dá hipótese. Eu não posso concorrer com uma Fnac ou com uma Bertrand, que fazem descontos em que o preço final ao público acaba por ser inferior ao que me custa a mim a comprar. É impossível concorrer contra isso, assim como é impossível concorrer contra a internet que, cada vez mais, é um canal de vendas.
O problema de se perderem as livrarias independentes é que, se olharmos para o mercado de hoje em dia, há uma concentração, há um oligopólio. No retalho há 3 players – Fnac, Continente e Bertrand – e na área editorial há dois – Porto Editora e Leya. Isto faz com que não haja diversidade, porque a venda dos livros faz-se maioritariamente sobre um número limitado de títulos.
Mas hoje não temos mais autores publicados?
Sim, mas deve-se muito às redes sociais e à necessidade das grandes editoras editarem muito.
Qual a razão dessa necessidade?
Essa necessidade existe, porque a rotação dos livros é muito rápida. Um livro está em destaque numa livraria apenas 1 mês, e ao fim de 3 a 6 meses, se não vender, é devolvido. O que faz rodar são as novidades. As editoras têm que estar sempre a inventar novos títulos, sempre a pôr a máquina a funcionar, e, quando pega um bestseller, paga os outros todos. Para se contruir um autor, é preciso apostar nesse autor, porque no primeiro livro, se calhar, não vende 500 exemplares, mas no segundo, se calhar, já vai vender 1000 e, em 4 ou 5 anos, pode tornar-se um grande autor. Isso hoje não existe. Ou tens um autor novo que tem grande visibilidade por aparecer na televisão, por falar na rádio, porque escreve no Facebook ou tem um blog famoso ou não tens hipótese. Quem não é conhecido tem muita dificuldade em pôr os livros nas livrarias. Nem sequer aparecem. São postos de lado.
Para se sobreviver no mercado editorial é preciso ser-se diferente? Como, por exemplo, a Tinta da China que se distingue pela imagem gráfica ou pela qualidade de impressão.
Só podia funcionar assim. Se não houvesse diferenciação pela imagem e diferente selecção de autores, não tinha grande hipótese de sucesso. Só consegues sobreviver neste mercado se tiveres a capacidade de ser diferente.
No caso da Tinta da China, novamente, a ideia de lançar colecções, como a de viagens, dirigida pelo Carlos Vaz Marques, teve algum sucesso.
Era uma coisa que já tinha existido antes e, entretanto, tinha caído em desuso. Mas, era algo de que as pessoas se lembravam e como a Bárbara (Bulhosa) escolheu para as dirigir pessoas com notoriedade, além da óbvia competência, o Carlos Vaz Marques, o Ricardo Araújo Pereira, o Pedro Mexia, a coisa funcionou.
Qual é o estado actual do meio editorial e, por consequência, do meio livreiro?
Na Alemanha venderam-se menos 6 milhões de livros. Em França menos 4 milhões. O que se está a verificar é que está a diminuir o número de leitores. Do ponto de vista do impacto que este fenómeno recente está a ter na edição, não sei dizer, porque não tenho dados concretos.
Mas, neste momento não se estão, também, a traduzir como nunca, autores estrangeiros não muito conhecidos e a publicar muitos mais livros?
O trabalho de um editor é descobrir novos autores, e descobrir autores estrangeiros que nunca foram traduzidos. Antes, a regra era o editor ler as versões originais e, se via que tinha potencial, comprava os direitos e traduzia. Hoje vai-se à feira de Frankfurt e tem-se acesso a uma lista de livros e o editor vai escolher o que os outros já escolheram. A selecção é muito baseada no que os livros já venderam nas edições de outros países. Os editores vão-me matar porque estou a generalizar e é evidente que nem todos fazem isto, mas não podemos negar que é uma prática corrente. O trabalho do editor está muito diminuído. Parece que a papa está toda feita.
Só escolhem best sellers?
Não, porque um best seller é caríssimo. Só os grandes editores é que conseguem.
Na tua livraria, a “Pó dos Livros”, tinhas leitores que se recusavam a comprar best sellers?
(Risos). Há best sellers que são bons. O que há agora são truques para que os livros vendam mais. Antigamente, uma segunda edição era uma alteração à primeira edição. Hoje chama-se segunda edição à segunda tiragem.
Nos dias de hoje os miúdos não conseguem ler mais do que uma frase, porque estão no Instagram onde não há publicações com mais do que duas frases. Os adultos estão no Facebook e eu, por experiência própria, se escrevo uma frase com mais do que duas linhas, tenho 200 likes, se coloco um texto longo, tenho apenas 1 ou 2 likes. E isso está-se a reflectir na experiência de leitura de um livro, especialmente para quem ainda não é leitor. Há uns tempos, perguntei a um miúdo qual a razão para ele não ler livros e ele respondeu que o livro não era interactivo e, além disso, porque não sentia pressão social, porque a namorada, os amigos e todos os que o rodeavam não liam. Eles não são parvos, atenção, mas não é nos livros que adquirem conhecimento. Tanto faz que a leitura seja em livro ou em outro suporte qualquer. O importante é que se leia. Porque a leitura faz a diferença. Ajuda uma pessoa a expressar-se, a perder preconceitos, a escolher em quem se deve votar, a perceber o que se passa no mundo, a perceber o Universo, a perceber quem és, a viajar através do livro. Um livro é podermos estar na cabeça e nos olhos de outra pessoa. É a vantagem de poder estar em casa e poder viajar para a Índia ou para o Tibete e ficar a saber imenso sobre esses locais sem nunca lá ter estado. O importante é ler e é deve ser esse o nosso combate – fazer com que as pessoas leiam.
Mas ainda há pessoas que não prescindem do formato físico do livro.
Eu não sou muito agarrado ao objecto, mas gosto. Habituei-me a sentir as folhas, a sentir a tinta e não é por acaso que o livro tem 500 anos como melhor suporte para a leitura. Quando uma pessoa se torna leitor, acho que vai, necessariamente, acabar no livro, porque percebe que esse é o melhor suporte. O problema é que os miúdos já não sabem o que é um livro. Antes, em cada casa havia pelo menos uma estante com livros. Os livros estavam presentes. Hoje isso não acontece.
És completamente fiel ao livro?
Já utilizo outros suportes. Sou capaz de ler imensas páginas seguidas no telemóvel, embora, depois, fique aflito da vista (risos).
Não consideras que, se as novas gerações não tiverem um bom primeiro contacto com os livros, não ganham o gosto pela leitura?
Isso leva-me ao que referi há pouco, que é a pressão que os mais velhos deviam fazer. Mas as coisas não são tão fáceis como à partida podem parecer. Tenho 3 filhos que, pelo facto de a mãe ser editora e o pai livreiro, desde pequeninos sempre nos viram a ler livros e, de repente, deixaram de ler, ou pelo menos, não o fazem com a regularidade com que a mãe e o pai faziam. O que é que falhou? Como é que um filho de uma editora e de um livreiro não tem hábitos fortes de leitura? Fomos nós que errámos?
Não será uma fase?
Pode ser uma fase, mas eles já têm 25, 22 e 16 anos. Além de perceber que não têm grandes hábitos de leitura, tenho imensa dificuldade em perceber de que é que os jovens falam entre eles. O tempo agora é mais curto. Temos de pensar que as coisas agora acontecem mais rapidamente, há muito mais estímulos e solicitações. Antigamente tinha-se tempo para parar e dedicar à leitura. Porque a leitura requer tempo e esforço. Depois ganha-se o gosto e aprende-se que é tão divertido como ver um filme.
Tão ou mais, por isso é que quem lê muito, normalmente, odeia adaptações.
Um filme nunca é um livro. Há filmes que são melhores que os livros, mas são muito raros. Um livro tem sempre muito mais descrição. No Guerra e Paz do Tolstoi, quem é que aguenta um capítulo inteiro de descrição de batalha? Hoje já aguento porque, quando parto para um livro, sei que vai requerer esforço, o que nem sempre me agrada. É que um livro não é uma coisa para passar tempo. O livro é uma coisa para aprender, para te fazer pensar, para te conheceres, para te questionares. É por isso que o local onde se lê um livro condiciona.
Ler um livro numa determinada circunstância pode mudar uma vida.
Li o Se isto é Um Homem do Primo Levi na praia e há uma descrição terrível sobre um Inverno no campo de concentração. Se estivesse a ler noutro sítio morria congelado, tal era a descrição do horror do frio. E, como estava na praia, senti que era um privilegiado. Foi o sítio ideal para perceber a sorte que tinha por nunca ter tido de passar por aquilo e isso ajudou-me a interiorizar que não nos devemos estar sempre a queixar e lamentar e que devemos reconhecer a sorte que temos por não ter tido de passar por semelhante experiência. Os livros têm a capacidade de destruir certezas e preconceitos.
É preciso ter-se alguma idade para perceber essas nuances. A idade é uma coisa maravilhosa. Podemos ficar com rugas, menos atraentes, mas há uma série de outras coisas extraordinariamente importantes que ganhamos.
Lembras-te do primeiro livro que leste?
O primeiro livro que li a sério foi a Presa Branca do Jack London. Foi esse livro que me fez despertar para a leitura. Foi uma descoberta. Eu via as imagens, eu via tudo. As descrições eram óptimas. Foi aí que senti aquela sensação de “eu quero isto”. Eu quero viver este mundo sozinho com o livro e viver aquela aventura como se fosse uma personagem. A partir daí, não parei mais. E não vou parar até os meus olhos permitirem, porque é o meu maior prazer, é o meu maior passatempo. Tenho sempre dois ou três livros comigo.
Quais foram os autores que mais te marcaram?
Voltaire é essencial. Gosto quando os escritores pensam como os sábios, mas falam como as pessoas simples, e, Voltaire, na ficção, é assim. Conheci muitos escritores e percebe-se a diferença entre os sábios e os que não são sábios, entre os que se armam e os que não se armam. Dou-te um exemplo: tive a felicidade de poder conversar alguns dias com o Eduardo Lourenço e nunca vi numa pessoa tanta humildade e tanta sabedoria. É uma pessoa que se consegue colocar ao nível do interlocutor, que percebe o meio em que está e com quem está a falar. Quando falei com ele, percebi que ele se pôs ao meu nível, que desceu para ficar ao meu nível.
Há muito mais autores de que gosto. Adoro os russos, por exemplo. Dostoiévski, Turgueniev Tchékhov, Gogol… agora não me estou a lembrar de mais nenhum, mas, pelo menos estes, são uma referência. O autor que mais li foi o Dostoiévski. Não é simples, mas gosto, porque os russos têm uma perspectiva diferente da vida, têm uma cultura muito diferente da nossa e uma sensibilidade muito estranha e muito forte.
Machado de Assis, que escreve maravilhosamente em português de Portugal. É um autor fantástico. E há muitos mais. Alguns que li muito pouco ou mesmo nada e ainda gostaria de o fazer. Voltamos à questão do problema do tempo. Quantos livros conseguimos ler numa vida? Sabes quantos livros são editados por ano?
Não faço ideia.
Neste momento, ronda os 3 milhões por ano e ficam mais 2 ou 3 milhões de manuscritos por editar. Existem milhões de livros e, se fizeres as contas para o cenário de seres um leitor assíduo, que lê 4 horas por dia, verificas que não consegues ler mais do que 5 mil livros na tua vida. 5 mil livros não é nada nesta imensidão de livros que há. Por isso, quando entramos na discussão do “tu leste isto ou leste aquilo”, acabamos por cair no ridículo. Isto obriga a que sejamos selectivos e o crivo do tempo é uma ajuda preciosa.
Um dia perguntaram ao MEC o que ele achava de um determinado autor contemporâneo e ele respondeu que só ontem tinha chegado aos russos.
(Risos) Isso é verdade. Como o compreendo. No entanto, ler 5 mil livros é muito. A maior parte das pessoas lê um livro na vida ou nem um livro. E como é que discutes com uma pessoa que nunca leu um livro? Como é que falas com ela? Não é fácil. Se virmos o Facebook, onde também estou, o banal é a regra. Ir buscar frases que, fora do contexto, não têm significado nenhum. Constatar que as pessoas não pensam o mínimo sobre nada entristece-me. Aflige-me muito, não para mim, mas pelas gerações que vêm a seguir. Preocupa-me que os mais jovens passem a vida a ver youtubers, porque o que está lá escrito, o que é dito e a forma como é dito, não podia ser mais básica.
Também te aflige que cada vez mais, os jornais e revistas deixem de ter revisores e apareçam com cada vez mais erros e gralhas?
Aflige-me muito. Todos os livros têm gralhas e erros e os revisores são essenciais. O problema é: quem são os revisores? Têm de saber muito sobre a língua portuguesa. Escrever é muito difícil, estamos sempre a ter dúvidas. Um bom revisor faz um bom livro, assim como um bom tradutor faz um bom livro. Isto leva-nos a uma coisa interessante que é o preço do livro. As pessoas não percebem que o autor apenas ganhe 10% sobre o preço de capa, porque esquecem-se que há revisão, paginação, divulgação, impressão, distribuição. Se fizermos as contas, as coisas estão bem divididas, porque há toda uma cadeia que o justifica. Na cultura tende-se a ignorar o que foi preciso fazer até termos contacto com o produto final.
O que é a cultura?
É tudo aquilo que não está na natureza. Quando se constrói alguma coisa para além daquilo que existe na natureza, é cultura. É ser sapateiro, alfaiate, alfarrabista, músico, artista…, tudo isto é cultura. Isto é o que nos distingue dos animais, mas parece que nos querem transformar em gado, em vacas ou ovelhas que devem seguir exactamente as indicações e o caminho que lhes são impostos.
O que é que mais te marcou enquanto livreiro?
Constatar que há ignorância activa, ou seja, aqueles que praticam a ignorância de livre e espontânea vontade, que têm todas as possibilidades de ter conhecimento e não querem. Na minha vida de livreiro verifiquei que há muitas pessoas que decidem ser ignorantes, que não querem aprender. E isso é um dos maiores crimes que se podem cometer.
Ao longo destes mais de 33 anos como livreiro, há alguma história que te tenha emocionado?
Vários jovens que descobriram a leitura através de livros que aconselhei, mas acho que há duas histórias que, efectivamente, me emocionaram. A primeira foi um texto que escrevi no blog e recebi um envelope com €20 para comprar à criança, que era uma personagem ficcional, um brinquedo, o que fez com que percebesse que, aquilo que escrevia mexia com as emoções das pessoas. Enganei o leitor, mas senti orgulho por ter sido convincente. A outra foi um miúdo que veio de Beja oferecer-me um livro em forma de agradecimento por gostar de ler as obras que eu aconselhava. Fazer alguém gostar de ler foi a minha maior conquista. É pouco, mas é tão singelo quanto isto.