PEDRA, PALAVRA DE USO VULGAR

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Pedras e rochas são a mesma coisa? – Pergunta quem não sabe e tem gosto em saber. Praticamente, a resposta é sim. Apanhamos uma pedra do chão, mas, quando estudamos, falamos quase sempre de rochas.

Num modo simples de falar, podemos dizer que as pedras são bocados de rocha. Não são feitas pelas pessoas ou, dizendo de outra maneira, são objectos naturais. Não se amolgam nem se dobram e, por isso, dizemos que são rígidas; geralmente não se esboroam nem se esfarelam, podendo assim dizer-se que são coesas; e fazem mossa, onde quer que batam, porque são duras. E são feitas de minerais, entendendo, por mineral, todo o elemento ou composto químico, geralmente cristalino, gerado por um processo geológico.

Pedra chegou-nos, do grego, petrós, através do latim, petra, que traduz a ideia de uma entidade natural, rígida, coesa e dura, a que também chamamos rocha. Rocha veio do francês roche que, entre nós, acabou por substituir o nosso termo roca, bem mais antigo, talvez anterior à presença aqui dos romanos e que, entretanto, caiu no esquecimento. Mas ainda usamos este termo, por exemplo na expressão Cabo da Roca, ou na composição da palavra “enrocamento”, com que se designa o acto de proteger com blocos de rocha certos pontos da linha de costa face à acção erosiva das vagas.

Na forma portuguesa ou na da sua raiz latina, a palavra pedra tem grande utilização no nosso vocabulário.

Petra é a antiga cidade da Jordânia, repleta de monumentais ruínas escavadas na rocha, e petróleo é o óleo saído do chão, de dentro das pedras, assim como o carvão-de-pedra é o que se extrai das entranhas da Terra, como se de pedra se tratasse. Petrologia é a ciência que estuda as rochas e petrólogos os seus cultores.

Petrificados ficamos quando uma notícia nos gela o sangue e nos imobiliza. Petrificados estão os fósseis, ou seja, os restos dos seres vivos do passado que chegaram até nós transformados em pedra. Pedrada, pedregulho, pedra de moinho, pedra de afiar ou de amolar, pedra-de-armas, pedra preciosa, pedra lascada e pedra polida, Idade da Pedra, pedra-mármore, pedra-pomes, pedra-ume, pedra-sabão, chuva-de-pedra, pedrinha de sal, pedra argueireira, pedra no sapato, coração de pedra são expressões que caracterizam o conceito empírico que todos temos de pedra como rocha. De pedra eram a ardósia e o lápis em que esboçámos as primeiras letras, sendo curioso assinalar que lápis, do latim lapis, também quer dizer pedra.
Empedernido diz-se daquele que é insensível como a pedra e pedernal ou pederneira é o sílex, que os nossos avós usavam nos bacamartes, ou que os tetravós destes lascavam, fazendo machados, facas e pontas de seta.
Pedra angular quer dizer fundamento, base ou suporte. Pedro, nome de gente, vem de pedra. «Tu és Pedro e sobre ti levantarei a minha Igreja» disse Jesus ao discípulo. São Petersburgo é o nome da antiga Petrogrado, na Rússia, em homenagem a Pedro, o Grande, e Petrópolis é a cidade brasileira assim chamada em memória do seu primeiro imperador, D. Pedro II de Portugal.
Pedra filosofal ou da sabedoria, que em árabe se diz, al kimia, foi o lema de um saber notável durante a Idade Média, nem sempre devidamente valorizado, onde radicam ciências como a Química e a Mineralogia.
Pedrógão, Alter Pedroso, Pedrouços e Pedrulha são topónimos relacionados com pedras. Aumentativo de pedra, pedrão deu padrão, o marco que os nossos navegadores deixaram na rota dos descobrimentos. Pêro é o nome arcaico de Pedro e Peres são os seus descendentes. Pêro Vaz de Caminha e Pêro da Covilhã são nomes conhecidos da nossa história e Pêro Botelho é o Diabo que não pára de rugir na caldeira que tem o seu nome, no sítio das Furnas, na ilha açoriana de S. Miguel. Peroliva, Peramanca e Perafita são nomes de sítios do Alentejo que evocam grandes marcos de pedra, através do prefixo pera, que traduz a mesma ideia. Tais pedras ou eram verdes (oliva) ou estavam mancas, isto é, tombadas, ou ainda se mantinham fitas, maneira antiga de dizer erguidas, na postura fálica em que as colocavam os nossos antepassados do período megalítico e que os pré-historiadores franceses divulgaram sob o nome de menhires, mantendo a expressão original bretã, men hir, que significa pedra comprida.

 

Professor Galopim de Carvalho

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