Prontos para mais um dia 15, às 15h?
Este vem da Irlanda e foi tudo aquilo que eu estava a precisar (e não sabia!).
Já conhecia a escrita da Naosie Dolan, desde o seu romance de estreia – “Tempos Emocionantes” – mas nada me preparou para o que fui encontrar nesta sua segunda obra: “O Casal Feliz”.
A história (contada a seis vozes) resulta num interessante caleidoscópio narrativo que culmina no dia do casamento – momento em que se entrelaçam as perspectivas das diferentes personagens acerca do acontecimento.
Escusado será referir que, à medida que vamos entrando no espaço interior de cada um deles, rapidamente percebemos o jugo da heteronormatividade, do ideal romântico e do consequente isolamento emocional que todos eles suportam. Todos tão próximos e, simultaneamente, tão distantes de si mesmos e de todos os que os rodeiam. Sem dúvida alguma, uma inteligente e subtil crítica à instituição do casamento e aos mecanismos sociais que nos movem em direcção ao “felizes para sempre”, que somos ensinados a romantizar, desde tenra idade.
Contudo, o que me fez apaixonar por este livro foi a característica que, surpreendentemente, tem vindo a ser criticada de forma mais impiedosa: o sentido de humor ácido e corrosivo.
Acusado por muitos de conter um “humor demasiado cerebral”, que “distancia, gerando frieza e afastando o leitor”, na minha opinião nada mais é do que um belíssimo exercício de constante sarcasmo, que expressa na perfeição a frustração existencial, transversal a todas as personagens e com a qual todos nos poderemos identificar, em determinados momentos das nossas vidas.
Portanto, se procuram uma obra incisiva e actual sobre o amor, retratado com todas as suas imperfeições, com uma dose generosa de agudeza intelectual e crítica social, que confronte mais do que aquilo que conforta, encontraram! Está aqui.



