O poeta Nuno Júdice foi ontem à noite anunciado, no Brasil, vencedor do Prémio Oceanos 2024, a título póstumo, com Uma Colheita de Silêncios, publicado pela Dom Quixote em Março de 2023, precisamente um ano antes do seu desaparecimento.
Depois de numa primeira fase ter sido incluído entre os cinco finalistas, seleccionados dos 1204 livros a concurso, Uma Colheita de Silêncios tornou-se, para o júri do Prémio Oceanos, o melhor livro de poesia publicado em lingua portuguesa em 2023, superando os outros quatro candidatos ao prémio: Criação do Fogo, de Ávaro Taruma (Moçambique); Limalha, de Rodrigo Lobo Damasceno (Brasil); Perder o Pio a Emendar a Morte, de José Luiz Tavares (Cabo Verde); Uma Volta pela Lagoa, de Juliana Krapp (Brasil).
O júri justificou esta escolha dizendo que Uma Colheita de Silêncios “expressa a melancolia frente à passagem do tempo e a ternura em relação àquilo que é indelével: a memória”.
Na cerimónia de anúncio dos vencedores do Prémio Oceanos, que ontem à noite decorreu em São Paulo, Manuel da Costa Pinto, curador do Oceanos para o Brasil, prestou homenagem a Nuno Júdice lembrando, ao mesmo tempo, que o poeta português “via a finitude com melancolia, mas, para ele, a poesia podia transcender esse limite, como deixou eternizado nesses versos”.
Através das páginas de Uma Colheita de Silêncios o leitor atravessa tempos e imagens que se apresentam como um filme ou uma exposição, entre sequências que nascem de lembranças de épocas vividas em convívio com os escritores evocados, e outras que decorrem de fotografias que constituem quadros em que o erotismo e a natureza formam dois conjuntos que interagem.
Nuno Júdice nasceu na Mexilhoeira Grande, Algarve, em 1949.
Formou-se em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa.
Foi professor associado da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989, e autor de estudos sobre teoria da literatura e literatura portuguesa.
Entre 1997 e 2004 desempenhou as funções de Conselheiro Cultural e Director do Instituto Camões em Paris.
Dirigiu, até 1999, a revista Tabacaria da Casa Fernando Pessoa.
Em 2009 assumiu a direcção da revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian.
O seu primeiro livro de poesia – A Noção de Poema – foi publicado em 1972.
Desde então, tornou-se um dos mais notáveis e reconhecidos poetas portugueses, tendo recebido importantes prémios, em Portugal e no estrangeiro, onde está traduzido em muitas línguas.
Alguns desses prémios:
XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (2013)
Prémio de Poesia Poetas del Mundo Latino Victor Sandoval (2014)
Prémio Argana de Poesia da Maison de la Poésie (2015)
Prémio Literário Fundação Inês de Castro – Tributo de Consagração (2015)
Prémio El Ojo Crítico Iberoamericano da Rádio Nacional de Espanha (2016)
Prémio Carlo Betocchi (2022)
Prémio Internacional de Poesia do Festival Poetry & Liquor (2022)
Nuno Júdice faleceu a 17 de Março de 2024.
Fonte: leya.com