“Nuno Álvares Pereira”, de Jaime Nogueira Pinto

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A Dom Quixote edita na próxima segunda-feira, 9 de junho, “Nuno Álvares Pereira”, de Jaime Nogueira Pinto, biografia de uma figura incontornável na história e identidade de Portugal, feita através   da releitura das fontes tradicionais, interpretando e integrando a História portuguesa na História europeia medieval, marcada pela Guerra dos Cem Anos.

“Será abusivo comparar este fenómeno histórico português ao nacionalismo defensivo» do nosso tempo? Talvez. Numa obra recente, Beth Rabinowitz define o «nacionalismo defensivo» como uma forma de populismo nacional, focado na protecção do Estado Nacional de ameaças globais identificadas e apelando para a reafirmação da soberania nacional perante influências externas, vistas como hostis. Poderão as actuais ameaças de uma “ordem autocrática internacional” comparar-se à ameaça de um rei “estrangeiro” que, escudado no direito internacional da época, reivindicava um reino? Talvez não. As ameaças de internacionalismo político e de globalismo financeiro e ideológico serão hoje diferentes, mas os valores ameaçados são os mesmos. Guardadas com inteligência e realismo as distâncias dos tempos e dos costumes, podemos encontrar um exemplo útil na vida e na acção do Condestável e inspiração na sua coragem, na sua fé, na sua defesa de valores novos e de sempre, adentrando-nos pela fascinante terra estranha de há sete séculos, a terra em que Nun’Álvares nasceu e pela qual lutou… para que agora a pudéssemos também chamar nossa”, escreve Jaime Nogueira Pinto no prefácio desta nova edição de uma obra editada em 2009.

Num tempo em que a nação volta a estar no centro da política das grandes potências, a originalidade do nacionalismo defensivo e identitário da revolução portuguesa de 1383-1385 ganha nova actualidade. Foi graças à vontade política de Nuno Álvares Pereira, ao seu génio militar e à sua integridade que os portugueses, na grande crise do século XIV, conseguiram derrotar as forças de D. João de Castela, contrariando a ordem internacional dinástica que os tornava súbditos de um rei estrangeiro. Mas o que sabemos do «cavaleiro-monge» que foi motor e braço do movimento interclassista e protodemocrático que guardou a nação independente, preparando-a para o novo tempo português de navegação e expansão além-mar?

Mas o que sabemos desta grande figura da nossa História que nas últimas décadas caiu no esquecimento? Quase 600 anos após a sua morte, a canonização solene em Roma do Santo Condestável de Portugal não deixou de causar espanto e de levantar velhas questões. Pode um chefe de guerra chegar aos altares? Pode um santo ser guerreiro e um guerreiro ser santo? Nuno Álvares Pereira mostra-nos que sim. E não por um qualquer arrependimento tardio, por uma troca aparentemente súbita e em fim de vida da cota de malha pelo hábito de monge: entre as intrigas da corrupta corte fernandina e o poder e a glória da Casa de Avis, nas horas difíceis da revolução de Lisboa e nas batalhas de Aljubarrota, Atoleiros e Valverde que marcaram a Guerra da Independência, S. Nuno de Santa Maria sempre procurou ser, no espírito e na letra, o cavaleiro perfeito, indo contra muito daquilo que, na guerra e na paz, era regra no tempo.

“Se o passado é sempre uma terra estranha, a Idade Média é um dos seus mais estranhos lugares: uma era distante, de contrastes e contradições, uma idade de mil anos que os humanistas, e depois os protestantes e os ilustrados, relegaram para as trevas e amalgamaram num brumoso tempo intermédio. É o fim deste tempo que Nun’Álvares prenuncia e plenamente vive e ilumina. O seu lugar, sendo pouco comum, é de todos os tempos, e a sua terra, sendo estranha, é também a nossa.”

JAIME NOGUEIRA PINTO nasceu no Porto em 1946, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa e é doutorado pelo Instituto de Ciências Sociais e Políticas. Foi director do jornal O Século, administrador da Bertrand e trabalha na área da consultoria estratégica. É presidente da FLAC – Fundação Luso-Africana para a Cultura, director da revista Crítica XXI e colabora regularmente nos media portugueses. Tem escrito sobre temas de Ciência Política e História Contemporânea, sendo autor de mais de vinte livros, entre os quais De Que Falamos Quando Falamos de Direita, Ideologia e Razão de Estado – Uma História do Poder, Portugal – Ascensão e Queda e os romances Novembro e Os Passageiros da Sombra. Escrito originalmente em 2009, Nuno Álvares Pereira é agora publicado pela Dom Quixote.

 

Fonte: LeYa

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