Mar alto

Mar Alto | Caleb Azumah Nelson

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Hoje, trago-vos uma obra pelas mãos de Caleb Azumah Nelson (@caleb_anelson ), um jovem escritor e fotógrafo britânico, de origem ganesa, que reside, actualmente, em Londres (sortudo!🙃).
Chama-se “Mar Alto” e transmite ao leitor precisamente essa sensação de navegar em águas escuras, profundas e atribuladas – as da mente do narrador.
O que poderia ser uma simples história de amor new age, transforma-se numa densa e rica viagem interior que nos apresenta as dores de vida sentidas pela personagem principal, que se debate com uma dificuldade crescente de pertença num mundo que parece ter sido talhado para uma raça que não a dele e que lhe faz sentir, constantemente, o seu peso nos ombros.
O legado histórico do racismo contra os negros é um tema latente, a cada virar de página. E, a certa altura, acaba por paralisar emocionalmente o narrador.

“Saidiya Hartman descreve a passagem dos Negros do estatuto de bens móveis ao de homens e mulheres, e explica que este novo estatuto era uma forma de liberdade, pelo menos em teoria; (…) Por vezes, o peso é incomportável. A dor no teu peito enche, como uma bolha esticada, e, embora o desejes, a dor não vai rebentar. Ponderas fazer terapia e explicar que sentes que foste transformado num corpo, num receptáculo, num recipiente, e que isto te preocupa, porque os dias em que acreditas nisto tornaram-se frequentes.”

Derradeiramente, esta obra (re)lembra-nos de que o amor não consegue salvar-nos, se não formos nós a abrir a porta à salvação.

Saliento, ainda, as maravilhosas relações de intertextualidade que o autor estabelece entre diferentes formas de arte, como a música e o cinema.
É um livro multissensorial que me conquistou pela transparência, despojamento e desafectação da escrita.
Não pretende ser absolutamente nada, além daquilo que, de facto, é.

 

Gabriela Cunha

 

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