Costa Nova: Dar futuro ao passado

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Nascida da ousadia de dois engenheiros cerâmicos que decidiram apostar na utilização do grés fino para o fabrico de artigos de mesa e acessórios para servir, a Grestel, tem vindo a afirmar-se no mercado nacional e, sobretudo internacional, como uma das empresas de produtos cerâmicos de referência. Conciliando uma avançada tecnologia de fabrico com a experiência artesanal, numa combinação permanente entre tradição e modernidade, os produtos Grestel e, em particular, a sua marca de referência, a Costa Nova, são vendidos nos cinco continentes e estão presentes nas mais conceituados lojas e hotéis do mundo inteiro.

Para melhor compreendermos este caso de sucesso conversámos com Liliana Cachim e Carlos Ruão, nas instalações da Grestel.

A Costa Nova é a principal marca da Grestel. Como surgiu a empresa?

Costa Nova (CN) – A empresa surge em 1998 do interesse de dois engenheiros cerâmicos da Universidade de Aveiro em fazer um produto diferente em grés. Na altura havia muitas fábricas de cerâmica de porcelana e faiança e o grés era algo que estava muito localizado no norte do País e era um grés pesado e grosso. Desde o início a Grestel apostou em fazer um produto diferente, de alta qualidade e com uma forte componente de design. Isto foi uma revolução na forma de ver e trabalhar o grés.

É normal que, quando se é inovador e bem sucedido, outras empresas decidam seguir o exemplo. Sentiram que de alguma forma vos passaram a copiar?

Sim. Mas vemos isso de forma positiva. É sinal que estamos no bom caminho.

E o que fez com que tivessem decidido criar a marca Costa Nova? O mercado tem sofrido alterações?
Nas diferentes feiras internacionais em que participámos percebemos que havia espaço para afirmar uma marca. Sabíamos também que isto seria obrigatório para permitir uma internacionalização a longo prazo. Além disso, esta aposta permitiu-nos passar a responder a uma necessidade do mercado de pedidos de pequenas quantidades.

Sim. Posso dar como exemplo um fenómeno muito interessante dos hotéis e restaurantes em que há uns anos queriam o que as pessoas tinham em casa. Isto inverteu-se completamente e agora são as pessoas que querem em casa o que viram nos hotéis e restaurantes. Isto projecta-nos mais para o mercado da hotelaria para o qual há aspectos fundamentais que nós temos, tais como uma excelente resistência do material ou a possibilidade de ir ao forno.

As exportações têm uma expressão muito grande?

O negócio em Portugal era perfeitamente marginal, mas agora, com a hotelaria, passou a ser mais interessante. Começámos muito prematuramente a trabalhar com o chefe José Avillez o que permitiu dar notoriedade à marca e aos nossos produtos diferenciadores. Neste mercado da restauração também houve uma alteração de abordagem. Contrariamente ao que se passava no passado, os chefes passaram a ter uma voz muito activa na escolha dos produtos de porcelana, pois têm noção que estes são importantes para realçar as suas criações.

Quais são os vossos principais mercados?

Os mais importantes são o Japão, Coreia do Sul e só depois a Europa e neste momento estamos a apostar em novos mercados como Singapura, Hong-Kong ou Vietnam, pois são muito interessantes pelo seu enorme potencial. Mas estamos a investir muito nos Estados Unidos, onde inclusivamente comprámos recentemente uma empresa, e acreditamos que no futuro este será o nosso maior mercado. Já estamos inclusivamente a trabalhar uma marca que essa empresa já detinha – Casafina.

Não há o perigo de haver sobreposição de posicionamento entre a Costa Nova e a Casafina? 

A Costa Nova é uma marca de tradição contemporânea ou casual chic e tem uma certa discrição de cor e é fácil identificar uma ligação entre os diferentes produtos. A Casafina, por outro lado, é uma marca de inspiração italiana com uma vertente muito mais kitchen e fun house e é mais divertida em termos de cores. Ou seja, A Costa Nova tem uma componente muito mais de mesa e a Casafina é muito mais apoiada na cozinha.

Vão apresentar alguma novidade brevemente?

No futuro próximo a maior novidade não será de inovação do produto, mas na distribuição. Até hoje a marca foi crescendo assente apenas em distribuição independente, mas sentimos que estava na altura de termos também uma loja própria. Esta flagship store vai abrir em Setembro na Rua Castilho em Lisboa. A loja será um espaço normal de venda ao público onde toda a colecção Costa Nova estará disponível e vai ter um corner Casafina, mas servirá também como showroom para a hotelaria onde haverá uma cozinha que permitirá uma agenda de eventos com os chefes a quem estamos associados.

Também exploram as vendas online?

O online é uma das nossas apostas estratégicas. Funciona muito bem e apresenta um crescimento muito forte. É curioso que, ainda assim, continuamos a receber imensos e-mails de pessoas de todo o mundo que vêm visitar Lisboa e nos perguntam onde podem visitar a nossa loja.

Actualmente qual é o peso da hotelaria no volume de negócios?

Em termos de private label não tem muita expressão e, em termos gerais e apesar do crescimento, ainda não é superior a 10%.

O facto de em Portugal haver uma tradição na área das porcelanas ajudou a abrir portas?

Não. De certa forma no início até foi uma barreira, porque as pessoas associavam os produtos às coisas antigas das avós que já ninguém queria e que eram deixadas fechadas dentro dos caixotes. Internacionalmente deu-nos alguma credibilidade, pois a cerâmica em Portugal, pela sua longa tradição, era bem vista. Mas muito foi feito e Portugal, neste momento e para o posicionamento nos segmentos médio e médio-alto, é visto claramente como sinónimo de aposta na qualidade e na inovação.

No caso da Costa Nova percebe-se que há um objectivo claro e permanente de inovar…

Tentamos ir sempre one step ahead. Ao ponto de, às vezes e como dizem os brasileiros, “darmos com os burros na água”. Lançámos por exemplo peças com ouro dois anos antes da altura certa e agora estamos a lançá-las novamente.

A oferta de colecções é muito diversificada? 

Tem de ser. Não só porque os diferentes mercados exigem produtos e abordagens diferentes, mas também porque a fase de afirmação da marca nos diferentes países obriga a haja uma evolução na introdução das colecções. Começámos por colecções mais provençais, mais casual e country, depois passámos também a produzir uma vertente mais jovem e urbana. Actualmente já temos colecções específicas que se podem considerar de moda em que algumas delas são desenvolvidas em parceria com pessoas de outras áreas, como o florista internacionalmente conhecido Christian Tortu, o que faz com que também tenhamos entrado no segmento decorativo.

E como é que tudo isto funciona do ponto de vista da produção?

Os nossos produtos são feitos em grés. Neste momento apenas estamos dependentes do fornecimento de pasta de exterior e de vidros. Em tudo o resto somos verticais, fazemos tudo internamente. A grande diferença que temos é que, ao contrário da faiança, a nossa pasta é super compacta, o que dá uma enorme resistência ao produto. Temos um processo de mono cozedura o que permite uma simbiose muito grande entre a pasta e o vidro e faz com que deixe de ser duas superfícies para ser uma única o que também ajuda na robustez do produto. O processo em teoria é simples, mas, na prática, acaba por ser bastante complexo, porque a tendência é fazer cada vez mais séries e cada uma delas com menores quantidades. Como cada série tem as suas especificidades em processos como, por exemplo, a prensagem ou vidragem, as coisas são muito mais complicadas do que à primeira vista podem parecer.

Além dos processos, é fundamental ter uma boa equipa.

Beneficiamos imenso do facto do nosso administrador e fundador ser formado em Engenharia Cerâmica e de se ter rodeado de especialistas com enorme experiência no sector, não só nas vertentes ligadas ao processo de produção, mas também à mais comercial de desenvolvimento de marcas e sua expansão internacional ou de design. Mas a empresa funciona como um bloco e conta com uma equipa de quase 650 colaboradores que permanentemente ajudam ao seu crescimento e a que consigamos produzir cerca de 35 mil peças por dia.

 

Por: Nuno Maia
Foto: Costa Nova

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