Tatiana Salém Levy tem jeito de menina. Talvez seja do ar descontraído com que se aproxima ou do sorriso sincero com que nos cumprimenta, mas deixa-nos uma sensação estranha de regresso à adolescência. No resto, nada indica que seja carioca, mas é. Ou melhor, é alfacinha de papel assinado e tudo, mas apenas porque nasceu em Lisboa, no exílio, durante a ditadura militar, porque a infância e a adolescência, essas viveu-as abençoada pelo generoso sol do Rio de Janeiro.
“Nasci no exílio em Portugal, de onde séculos antes a minha família havia sido expulsa por ser judia. […] Nasci fora do meu país, no inverno, num dia frio e cinzento”, escreve Tatiana no seu primeiro e tão elogiado romance “A Chave da Casa”, uma espécie de autoficção em torno da história de uma família judia que, expulsa de Portugal na época da Inquisição, vai viver para a Turquia e depois para o Brasil. Uma família que podia ser a sua, mas não é, ou talvez seja… Mas também a quem interessa isso? “A Chave da Casa”, assim como “Dois Rios” e “Paraíso” são belíssimos romances, todos eles inspirados em pedacinhos de memórias da infância e adolescência de Tatiana Salém Levy, mas cheios de imaginação e de fortes mensagens de preocupação política e social. E isso é algo que lhe está no sangue ou não fosse filha de um professor de filosofia e de uma mãe jornalista, perseguidos pela ditadura militar brasileira.
Doutorada em Estudos de Literatura pela PUC do Rio casou com um português, e vive em Lisboa, onde continua a escrever pausadamente como gosta, com saudades dos amigos do Rio e da informalidade carioca, mas conquistada pelo silêncio e pela tranquilidade da capital portuguesa.
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Por: João Moreira
Fotografia:Pedro Loureiro