Mounira Al-Solh reflete sobre a memória da guerra e os grandes traumas contemporâneos

Mounira Al-Solh reflete sobre a memória da guerra e os grandes traumas contemporâneos

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Fundação de Serralves apresenta a exposição Y’a Hamam Yalla Ma Tnam, Ma Tnam (“Oh Pombo, Não Durmas, Não Durmas”), da conceituada artista Mounira Al-Solh, uma meditação sobre o trauma das guerras no Médio Oriente e a urgência da ação política para os resolver.
Mounira Al Solh nasceu em Beirute, Líbano, em 1970, e vive atualmente entre Amsterdão e a capital libanesa.  Representou o Pavilhão do Líbano na última Bienal de Veneza e trabalha com vídeo, instalação, pintura, desenho, têxteis, texto e performance, explorando paisagens sociais e políticas complexas, com foco em temas feministas, no conflito, nos movimentos migratórios forçados pela perda e do ponto de vista das comunidades marginalizadas. A sua abordagem combina crítica política e escapismo poético, recorrendo a histórias orais e colaborações interdisciplinares.
Profundamente marcada pela guerra civil libanesa e outros conflitos nessa região, Mounira Al Solh canaliza as suas experiências através da arte, promovendo uma reflexão sobre paz, empatia e justiça, denunciando o sofrimento humano e reafirmando a resiliência face à adversidade.
Y’a Hamam Yalla Ma Tnam, Ma Tnam, cujo nome é retirado do verso de uma canção de embalar muito popular no Líbano e na Síria, é a maior exposição da artista em Portugal e reúne obras que nunca foram apresentadas juntas, criando uma narrativa única que explora o profundo envolvimento de Al Solh com micro-histórias e a ação política.
A curadoria é de João Mourão e Luís Silva.
A exposição apresenta obras nunca mostradas em conjunto, com grande destaque para a instalação Nami Nami Noooom, Yalla Tnaaam (“Sleep, Sleep, Sleep, Let’s Sleep”), de 2023, inspirada na infância da artista durante a Guerra Civil Libanesa. Baseia-se num ritual de costura reconfortante que Al Solh praticava para lidar com o caos da guerra, agora recriado com a participação de mulheres libanesas e holandesas, incluindo migrantes, que costuram os seus próprios pijamas enquanto partilham histórias de resistência e solidariedade.
A instalação inclui também um ambiente sonoro com canções de embalar em diversas línguas, ligando experiências de conforto e memória. Para Serralves, esta paisagem sonora incluirá canções de embalar cantadas por crianças do Porto, ligando experiências locais e globais de conforto, memória e resistência à adversidade.
São também apresentadas pinturas que exploram a guerra, a memória e o humor negro, como Al Hanin (2024), que retrata uma mulher a dançar em cima de uma carrinha numa Beirute devastada, e Head Between Tanks (2024), uma poderosa metáfora sobre o impacto psicológico da guerra. A instalação Lackadaisical Sunset to Sunset (2021) assume a forma de uma tenda bordada, evocando um refúgio temporário e um espaço de partilha de histórias. Um vídeo íntimo mostra a artista a acariciar o seu próprio cabelo, num gesto de autocuidado e introspeção.
A complementar este conjunto de obras, uma nova animação, criada especialmente paraY’a Hamam Yalla Ma Tnam, Ma Tnamserá projetada sobre um dos pijamas suspensos. Mantendo o estilo figurativo distintivo da artista, caracterizado por gestos expressivos e cores vibrantes, a peça integra som e voz para dar vida à narrativa. A animação retrata uma mulher nua, carregando uma mala, que corre em direção ao oceano enquanto escapa por pouco às bombas lançadas por dois aviões de guerra. Através desta obra, são exploradas questões de trauma e resiliência, combinando mito e autoficção para refletir sobre as experiências de deslocamento forçado e migração, temas que têm assumido um papel central no trabalho recente de Al Solh.
Conversa com a artista
Com base na instalação Nami Nami Noooom, Yalla Tnaaam, juntamente com outras obras, os curadores e a artista vão apresentar a sua perspetiva sobre a pesquisa contínua de Al Solh.
Será uma discussão que explorará contextos sociais e políticos intrincados, com ênfase particular em temas feministas, narrativas micro-históricas e os impactos do conflito e da migração.
Está marcada para dia 28 de fevereiro, às19 horas, no Museu.
Y’a Hamam Yalla Ma Tnam, Ma Tnam é organizada pela Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, comissariada por João Mourão e Luís Silva, com coordenação de Giovana Gabriel.
Estará patente de 28 de fevereiro a 31 de agosto.
A exposição tem o apoio do Mondriaan Fund.
Sobre Mounira Al Solh
Mounira Al Solh representou o Líbano na 60ª Bienal de Veneza (2024) e inaugurará uma exposição solo no Museu Bonnefanten, em Maastricht, em junho de 2025; Mounira Al Solh realizou exposições no BALTIC Centre for Contemporary Art, Gateshead, Reino Unido (2022); Mori Art Museum, Tóquio (2020); Jameel Arts Centre, Dubai (2018); Mathaf: Arab Museum of Modern Art, Doha (2018); e no The Art Institute Chicago (2018). Al Solh também participou em exposições coletivas, incluindo a Bienal de São Paulo (2024), Bienal de Sharjah (2023); Museum Het Valkhof, Nijmegen, Países Baixos (2022); Bienal de Busan (2022); ROZENSTRAAT, Amesterdão (2022); Musée National de Pablo Picasso–La Guerre et la Paix, Vallauris, França (2020); Palais de Tokyo, Paris (2020); Van Abbemuseum, Eindhoven (2020); Carré d’Art Musée d’art contemporain de Nîmes (2018); Documenta 14, Kassel e Atenas (2017); Bienal de Veneza (2015); New Museum Triennial, Nova Iorque (2012); Bienal de Sharjah 9 (2009); e 11ª Bienal Internacional de Istambul (2009), entre outras. A artista venceu o Prémio de Arte ABN AMRO (2023); o Derek Williams Trust Artes Mundi Purchase Prize (2023), recebeu o Prémio Uriôt da Rijksakademie, Amesterdão (2007); e o Black Magic Woman Award, Amesterdão (2007). Foi também finalista do Prémio de Arte Abraaj Group, Dubai (2015) e nomeada para o Prémio Volkskrant, Amesterdão (2009). O seu vídeo Rawane’s Song venceu o prémio do júri no Videobrasil (2007).
Sobre os curadores
João Mourão e Luís Silva trabalham como dupla curatorial desde 2009. São Co-Diretores da Kunsthalle Lissabon, que fundaram juntos no mesmo ano. Foram os curadores do Pavilhão de Portugal na 59ª Bienal de Veneza (2022) com “Vampires in Space”, um projeto individual de Isadora Neves Marques. Uma seleção de projetos recentes que curaram inclui exposições individuais de Jonathas de Andrade (CRAC Alsace, Altkirsch, França e MAAT, Lisboa, Portugal), Manuel Solano (Pivô, São Paulo, Brasil), Pedro Barateiro (Fundação Carmona e Costa, Lisboa, Portugal) e Carla Filipe (MAAT, Lisboa, Portugal). Atualmente, estão a preparar a primeira grande exposição institucional de Inês Zenha no CA2M, em Madrid. Enquanto co-diretores da Kunsthalle Lissabon, apresentaram exposições individuais de Teresa Solar, La Chola Poblete, Sara Sadik, Gabriel Chaile, Sheroanawe Hakihiiwe, Ad Minoliti, Zheng Bo, Laure Prouvost, Caroline Mesquita, Sol Calero, Petrit Halilaj e Naufus Ramírez-Figueroa, entre outros. Além da sua prática curatorial, João Mourão e Luís Silva contribuem regularmente para diversas publicações periódicas e editaram várias monografias. Foram também curadores da ZONA MACO SUR (2015-2017), a secção de projetos individuais da feira de arte contemporânea da Cidade do México, e da secção Disegni da Artissima (2017-2019), em Turim.
Foto: © nvstudio
Fonte: serralves.pt

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