VINHO – Oh, maravilha!!!!

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O brasileiro, nos últimos dez anos, vem aprendendo mais sobre a arte de degustar vinhos e passou, gradativamente, a inserir esta iguaria em seu cotidiano, independente do horário e do motivo da ocasião. Ainda que exista no país uma hegemonia comercial e temática sobre a cerveja, e não quero aqui polemizar, o vinho toma silenciosamente o seu lugar de destaque tanto em eventos quanto à boa mesa, porque não dizer, em momentos de diletantismo e desfrute. Diga-se, oportunamente, que a cerveja nacional, produzida em larga escala e não artesanal, não é, nem de longe, uma das melhores do mundo e isto é notório.

O que não se pode dizer do vinho brasileiro, que galga posições a cada dia mais elevadas no gosto e no mercado mundial, tal o trabalho técnico que vem sendo desenvolvido em inúmeras regiões do país para chegar a uma elaboração digna de aplausos dos paladares afetos e adictos da bebida, mais bem treinados e exigentes. Exemplos disto, apenas para citar, são dois vinhos brasileiros que configuraram, em 2015, na lista dos 10 melhores vinhos do mundo, pela Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores (WAWWJ). São eles: em 8º lugar, o Marcus James Espumante Brut, da Vinícola Aurora e em 9º lugar, o Espumante Garibaldi Prosecco Brut, da Cooperativa Vinícola Garibaldi.

Este ranking é baseado em 4 concursos mundiais de bebidas, como o Concours Mondial de Bruxelles e o International Wine Challenge.

E sim, não paramos por aí. Em 2016, outra obra prima alcançou por primeira vez uma medalha de ouro no Decanter World Wine Awards, uma das maiores e mais influentes competições de vinhos do mundo, e pasmem, não se trata de um vinho produzido nas tradicionais regiões vitivinícolas gaúchas e catarinenses, mas de uma iguaria elaborada no município paulista de Espírito Santo do Pinhal: chama-se Syrah Vista do Chá 2012, da promissora Vinícola Guaspari, localizada numa região conhecida pela excelência em produção de café, ora vejam só.

Vinho exige música em um volume suficiente, assim como exige ambiente. Não há como saborear-se uma boa taça às calçadas maltratadas e conversar aos berros degustando a bebida. E não se trata, pensemos bem a respeito, de elitização do consumidor, senão, de agregar valores a uma experiência dos sentidos e que também carrega em si cultura, conhecimento e alma. Talvez não tenham notado, mas não há propagandas televisivas sobre vinhos. Tampouco há cartazes nos bares, postes e muros ou outdoors mostrando mulheres e a bebida, aliás, uma infeliz, imprópria e caduca associação, visto que cremos que a figura feminina, definitivamente, mereça não ser tratada como coisa ou mercadoria. O vinho ama as mulheres, não as vitimiza.

Sabe-se há muito tempo que a cultura do vinho envolve uma produção coletiva, digamos comunitária. A mecanização entra apenas na parte final do processo produtivo. O senso comum, infelizmente, se move pela máxima de que “quanto mais velho, melhor”, o que é um ultraje. O vinho é um ser vivo, tem sua curva de vida tal qual outro organismo que nasce, cresce, amadurece, alcança seu apogeu e começa, gradativamente, seu declínio e falência até sua morte. Há que debruçar-se sobre o conhecimento que envolve as cepas, o mosto, a vinificação, o armazenamento, a geografia da região produtiva, o método utilizado pela vinícola, a distribuição e o varejo, assim como a taça ideal, temperaturas, harmonizações, aromas, etc.

Reforço, o senso comum não é medida. Se diz por aí que vinho é uma bebida cara, mas caro é um padrão subjetivo, visto que se encontram com facilidade boas garrafas de renomadas regiões, de vinícolas nacionais ou estrangeiras, por valores bem abaixo da imaginação. Vale informar-se e buscar as melhores alternativas. E, quase ia me esquecendo, pelo país, facilmente se acessa vinícolas de bicicleta (Cicloenoturismo, já publicado em edições anteriores), seja na Campanha Gaúcha, na Serra Catarinense ou no Vale do Rio São Francisco.

Para encerrar, aliás, como tenho formação na área de alimentos e bebidas, sempre me perguntam qual é o melhor vinho. Trato de indicar que o melhor vinho é aquele que a pessoa “entende”, aquele que lhe “diz” algo. Não mova sua escolha pela marca ou pelo valor mais caro, tente ler, pelo menos um pouquinho, a respeito e experimentar. Assim, você compreenderá os motivos de um Carmenère ser mais atrativo para o seu paladar do que um Montepulciano. Da mesma forma, será mais fácil de entender os motivos que vinhos tintos, em sua maioria, são ótima companhia para pratos de carnes vermelhas com molhos/guarnições fortes, assim como os vinhos brancos secos jovens e os maravilhosos rosés secos, levemente refrescados, fazem par ideal a pratos de pescados e frutos do mar.

Ah, e não esqueça. Mesmo que a temperatura ambiente esteja alta, normalidade encontrada em nosso país tropical, apenas refresque o vinho mas não o gele, pois o frio extremo não permitirá que os taninos do vinho tinto sejam degustados ou desprendidos, e o vinho branco, coitado, sem bouquet não terá graça nenhuma. Deixar a garrafa de vinho dentro de um balde com gelo por alguns minutos antes de servi-lo é uma boa alternativa.

No mais, aproveite a vida, reúna as pessoas queridas, diminua a luz, coloque aquela música suave, inspire e saboreie.

 

Por Therbio Felipe M. Cezar

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