Viagens à volta do Vinho – Trás-os-Montes

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Situada a Nordeste de Portugal, a Região de Trás-os-Montes, revela-se uma Região com características muito próprias, marcada pelo relevo acentuado das cadeias montanhosas e bacias hidrográficas que a cruzam.

A Região de Trás-os-Montes é uma zona montanhosa, de altitude elevada e com solos essencialmente graníticos, com algumas manchas de xisto. O clima é continental rigoroso, muito seco e quente no verão e com invernos prolongados e gélidos.

A vinha surge desde os vales exuberantes na sua vegetação, até aos planaltos e encostas secas de solos pobres e com fraca pluviosidade, convivendo com as culturas tradicionais da região: olivais, amendoais, árvores de fruto e bosques, criando um mosaico variado na paisagem, muito característico da região.

Apesar de ser relativamente jovem no que respeita à sua demarcação e denominação, a actividade vitivinícola é de origem secular, como provam os vários lagares talhados na rocha existentes desde a época Romana ou pré-Romana.

É uma região que esteve isolada e desvalorizada durante muito tempo, porém, o que perdeu em inovação e técnica, ganhou em tradição e genuinidade. A existência de vinhas velhas com uma grande variedade de castas centenárias, marca de forma peculiar a qualidade dos seus vinhos.

As castas plantadas são, praticamente, todas comuns nas três sub-regiões. Nas tintas, destaque para a Touriga Nacional, Bastardo, Marufo, Tinta Roriz, Touriga Franca e Trincadeira. Nas brancas, as de maior expressão são, a Côdega do Larinho, Fernão Pires, Gouveio, Malvasia Fina, Rabigato, Síria e Viosinho.

A Região Demarcada de Trás-os-Montes encontra-se subdividida em três sub-regiões, Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês, dispostas ao longo dos vales dos rios que as atravessam. É importante conhecer, dentro dos elos comum que as unes, as especificidades de cada uma, pois têm características bastante distintas, que dão origem a vinhos diferentes.

CARACTERÍSTICAS DOS VINHOS

Relativamente à especificidade dos vinhos da região de Trás-os-Montes, para além da diversidade, existem traços comuns a todos. Os brancos revelam-se muito frutados, minerais e com paladar harmonioso, este, marcado por uma boa acidez que lhes confere frescura e complexidade.

No caso dos tintos, caracterizam-se, sobretudo, pela sua frescura, que advém da composição fenólica, a revelar taninos frescos e concentrados, aos quais o tempo atribui elegância e carácter. São vinhos com complexidade aromática intensa, encorpados e com boa estrutura, o que os torna vinhos muito gastronómicos.

 

Sub-regiões

Apesar de características muito próprias, na região de Trás-os-Montes verifica-se a existência de vários microclimas, que aliados às diferenças existentes na constituição dos solos, bem como à maior adaptabilidade de determinadas castas, permitem obter vinhos muito diferenciados. Tais diferenças permitiram definir três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade, com direito a DO Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes, exposição solar, clima e a constituição dos solos.

Sub-região de Chaves

Localizada na fronteira com Espanha, para Norte, as vinhas situam-se nas encostas de pequenos vales que se encontram no vale do Rio Tâmega. Nesta sub-região, os solos são essencialmente graníticos, com várias manchas de xisto, a altitude ronda os 350 a 400 m, valores elevados de pluviosidade e teores elevados de humidade relativa.

Área Geográfica: Abrange os concelhos de Chaves e Vila Pouca de Aguiar

Sub-região de Valpaços

A sub-região de Valpaços localiza-se no centro do coração da Terra Quente Transmontana. Amplamente reconhecida pela produção de vinhos que remontam a tempos romanos, tal presença está intrinsecamente marcada nas rochas, através do maior número de lagares cavados na rocha até hoje identificados. Nesta Sub-região, os solos apresentam diferenças significativas, ocorrendo uma maior incidência de manchas de xisto, existindo muitas zonas de transição com solos graníticos, com a altitude a rondar os 450 a 650 m. No que se refere ao clima, verifica-se a ocorrência de temperaturas mais elevadas durante o verão e valores mais baixos de humidade relativa, bem como valores inferiores de pluviosidade.

Área Geográfica: Abrange os concelhos de Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Murça, Valpaços e Vinhais

Sub-região do Planalto Mirandês

Localizada no sudeste da Região de Trás-os-Montes, na sub-região do Planalto Mirandês é o rio Douro que influência o cultivo da vinha. Os solos são essencialmente xistosos, a altitude ronda os 350 a 600 m, verificando-se a ocorrência de grandes amplitudes térmicas e muito baixos teores de humidade relativa, bem como de incidência de ventos. Tais características, associadas ao tradicional modo de condução da vinha em taça, permitem um maior controlo da vinha, inibindo o desenvolvimento de certas doenças e permitindo, desta forma, uma viticultura praticamente biológica.

Área Geográfica: Abrange os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo

 

Aliados a todos estes factores de clima, solo e tradição, que diferenciam os vinhedos e os seus vinhos, são parte fundamental e indissociável da equação as castas que nele se cultivam, pelo que é imperativo que se conheçam as características de cada uma.

 

Por José Paulo Teixeira* 

*Sommelier 

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