Portugal é um país gigante!

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Hoje Portugal está no top 20 das maiores Zonas Económicas Exclusivas mundiais e pode chegar ao top 10 se vir aceite a sua pretensão de alargamento da sua ZEE. São hoje 1.7 Milhões de quilómetros quadrados de território com uma forte probabilidade desse tamanho vir a duplicar. Pouco se fala desta actual posição de relevo e da pretensão de alargamento. Talvez porque se ache cada vez mais que do mar nada se retira. Em 2007 Dennis Hope visitou Portugal com a devida pompa e foi noticiado pela conferência de imprensa agendada no sentido de inaugurar a Embaixada Lunar em Portugal.

Afirmando que já contava na sua lista de clientes com um vasto número de nomes sonantes como Ronald Reagan, Nicole Kidnam, Clint Eastwood, Tom Cruise e anunciando que por 25 Euros por hectare seria possível adquirir um pedaço na lua. A verdade é que o Senhor vendeu mais de 6 milhões de dólares em terrenos lunares acabando por avaliar os 37 milhões de quilómetros quadrados em 97 mil milhões de dólares. Dennis encontrou uma forma de valorizar um activo que à data de hoje não serve para mais nada a não ser para ser observado daqui de longe… de muito longe.

As vantagens de uma Zona Económica Exclusiva composta por mar a perder de vista são hoje muito difíceis de perceber. Por agora o que temos mesmo é um acrescido custo com a protecção e fiscalização dessa gigante zona que pelo menos não arde. Um vasto território marítimo é uma absoluta riqueza natural de valor inquantificável, mas ainda não fazemos o papel do Dennis e, portanto, ainda não conseguimos incorporar desse bem um significativo valor económico. Dennis encontrou valor económico na lua em que só metade tem vista mar… para o nosso mar. Por piada, ingenuidade, esperança, ou outra qualquer motivação ou sentimento de posse, a verdade é que encontrou clientes para um produto que, sendo tão ridiculamente óbvio, vê ignoradas quaisquer similaridades com uma grandiosa fraude imobiliária.

Hoje do mar Português retiramos pouco. A biodiversidade é utilizada essencialmente na indústria farmacêutica e cosmética e indústria alimentar, com as limitações que todos sabemos. O nosso vasto território marítimo não trouxe petróleo nem gás natural em barda (e agora também já é tarde), não trouxe pontos de passagem su cientemente estratégicos que nos permitissem as receitas de um canal do Panamá, não nos trouxe uma colónia rara de um qualquer tipo de peixe Dragão que pudesse ser valorizado ao peso do ouro no Japão. Não construímos um porto como o de Roterdão, nem assumimos o posicionamento de trader de uma Arábia Saudita, e, isso sim, poderíamos ter feito no passado longínquo assim tivéssemos as demais infra-estruturas necessárias nos assegurassem mais proximidade com a Europa Central. Hoje o nosso mar não nos traz muito mais do que uma grandiosa vista explorada pelo segmento do Real Estate: um clima moderado por uma costa turística.

Os cientistas da Nasa estão empenhados em criar um modelo de colonização de Marte. Dizem eles que a única barreira significativa no momento é a forma de lidar com o vento solar que na terra esbarra com o invisível escudo electromagnético terrestre. Tirando alguns projectos materializados e por materializar nos mares do Dubai, parece mais interessante ir habitar Marte do que fazer penetrar a nossa vida oceanos adentro.

São inúmeros na história civilizacional os projectos ambiciosos e aparentemente impossíveis até se materializarem; até que alguém leva a sua persistência ao ponto de fazer acontecer! Desde a linha de comboio global que ainda é apenas um projecto, passando por ilhas artificiais (que no Dubai se tiraram do papel), temos provas de que a evolução do mundo nos presenteia com novas necessidades que forçam realidades outrora impossíveis. Pensar no nosso mar de forma aberta e ilimitada pode ser o primeiro passo para nos elevarmos como a grande potência mundial que já fomos quando nos atrevemos a dominar os mares.

Foi preciso o Garrett McNamara levar ao mundo o canhão da Nazaré que já ali está desde todo o sempre, mas antes ele do que ninguém e antes tarde do que nunca. Precisamos de mentes tão abertas quanto audaciosas que não se inspirem no mar mas que se inspirem por ele. O potencial já o temos, cabe-nos agora explorá-lo e retirá-lo da prateleira do potencial- mente potencial. Se é com um mega porto flutuante lá mais para junto de França para fazer concorrência ao porto de Roterdão, ou com um comboio submarino que ligue Portugal a Calais. Se é com uma estação de dessalinização, com a exploração de areias abissais, com hotéis flutuantes ou com a criação e exploração do óleo da sardinha, desafio a que olhemos para o mar e que, bebendo a tranquilidade do vazio o consigamos encher de algo que nos enriqueça espiritualmente, ecologicamente, socialmente e economicamente.

Não sabemos se um dia o mar vai ser a fonte de energia do futuro. Sabemos, quase todos os Portugueses, que o mar dá energia à alma e que portanto nada fará sentido economicamente se, ecologicamente, tal representar a destruição do que já temos. Se porventura não encontrarmos forma de algum dia retirar vantagem económica sem prejudicar a ecológica, então que se retirem vantagens ecológicas sem prejudicar as económicas. É que fazendo parte do Top 20 (e quem sabe um dia Top 10) dos “maiores” países, talvez possamos e devamos ter uma voz internacionalmente forte na contribuição técnica e legislativa para um mundo ambientalmente muito melhor.

Somos conhecidos por um dia termos abusado de coragem para conquistar o mundo pelo mar… que sejamos amanhã conhecidos por conquistar o mar… pelo mundo.

Eu acredito o suficiente para comprar uns hectares de mar esperando pelo futuro.

Por:  Bernardo Mota Veiga

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