Podia começar pela vez em que ouvi um monstro na rua, em plena Lisboa, por volta das 11 da noite. Mas começo antes pelo encontro com o fantasma e só depois as coisas sérias.
Eu e o meu irmão André teríamos uns quatro e cinco anos, respetivamente, quando andávamos a passear entre a aldeia onde vivia o nosso pai e o estúdio que cava no cimo da falésia. Lá em baixo ardia uma enorme fogueira onde se encontrava reunida toda a aldeia. Eram músicos, artesãos, pintores e, acima de tudo, eram livres. À volta do fogo cantava-se, tocavam vários instrumentos e ria-se muito. Era uma vida tão marcante quanto bonita. Dávamos tantos passeios despreocupados nesses benditos dias em que as crianças andavam à solta e só quase voltavam a casa para comer. Nesses longínquos tempos em que não existiam predadores, ou não se ouvia falar deles, nem redes sociais para li(n)xar, educar e julgar os pais. Mas amigos tontos isso havia. E com fartura.
Andávamos nós, então, a passear pela falésia e eis que aparece um fantasma. O verdadeiro fantasma coberto de lençol dos pés à cabeça a fazer sons de assombração, tal como os conhecíamos dos desenhos animados. O que, para nós, crianças, seria o mesmo que o “verdadeiro”. Andou uns bons metros na nossa direcção e nós, no escuro, paralisámos de medo. Como num sonho mau, sem emitirmos um só som, até que se aproximou e nos pegou ao colo enquanto desatava a rir. Este nosso amigo vivia no cimo da aldeia, numa casa um bocado mais isolada e talvez por isso fosse o único que tinha corrente na porta. Esta era uma aldeia hippie e, segundo consta, a primeira de seu género a ser construída em Portugal.
Por: Marta Gonzaga
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