Esta exposição, organizada em colaboração com a WPP, transporta-nos para os dias históricos do 25 de Abril de 1974, estendendo-se até ao intenso Verão Quente de 1975.
Mais do que simples cartazes, as peças apresentadas nesta exposição são testemunhos visuais de um período de transformação política e social, resgatados dos muros e paredes onde foram originalmente afixados e preservados numa pasta de desenhos durante cinco décadas. Refletindo o clamor pela liberdade e as diferentes expressões de esperança e desafio, estes cartazes capturam a essência de um Portugal em movimento e libertado da censura. Cada peça exposta representa uma voz emergente, contendo perspetivas dos vários quadrantes políticos da época.
Lisboa, 1976.
Entre os quiosques de jornais com manchetes febris e as conversas agitadas nas esquinas, uma nova pele cobria os muros da cidade de Lisboa, habitualmente cinzentos e silenciosos: cartazes políticos. Colados uns sobre os outros, expressavam uma nova onda de liberdade, contestação e desejo de mudança. Era a cidade a escrever a sua própria história, num turbilhão de palavras, imagens e símbolos que se acumulavam como sedimentos de uma revolução em curso. O fogo tinha passado, mas as cinzas ainda ardiam.
A ditadura tinha deixado para trás um país pobre, atrasado e cinzento, mas a revolução tinha aberto as portas à vontade — individual e coletiva — de andar em frente. Por um lado, vivia-se um Portugal com pouco emprego e poucos meios; por outro, emergia um povo movido pelas ideias, ansioso por exprimir a sua recém- -chegada liberdade de expressão e construir um novo Portugal.
Este fervilhar político era, como sempre é o caso, mais evidente nos jovens. Os jovens do pós-25 de Abril eram inquietos e impacientes, mas também portadores de um entusiasmo que só pode existir quando a História se abre num caminho desconhecido. Para muitos, a política deixou de ser uma esfera abstrata e distante, e passou a ser um código de identidade, uma forma de viver.
Um desses jovens era Manuel Maltez, na época um rapaz de 16 anos e autodeclarado anarquista. A sua relação com os cartazes e com a rua é um reflexo claro do espírito daquele tempo: a cada esquina, um cartaz novo. A cada conversa, um conceito revolucionário. O mundo parecia, pela primeira vez, disponível para ser reinventado. E, para Manuel, que não queria apenas assistir à mudança, mas senti-la entre os dedos, arrancar cartazes das paredes foi o seu próprio ato de arquivo e participação: o ato de preservar uma história que estava a ser escrita nas ruas.
Na década de 1970, a comunicação política era visceral, urgente e sem filtros. O design gráfico desse período refletia a efervescência ideológica da época, com cartazes impressos em serigrafia, tipografias em negrito e composições gráficas impactantes. As cores primárias — vermelho, preto e branco — dominavam, simbolizando luta, resistência e transformação. O visual era muitas vezes bruto e direto, de caráter quase artesanal, fruto da necessidade de produzir rapidamente materiais de mobilização.
Estes cartazes, cuidadosamente guardados ao longo dos anos por Maltez, são testemunhos de um tempo em ebulição. Convocatórias para plenários, manifestações, proclamações de partidos e sindicatos, e slogans de resistência convidam-nos a revisitar um momento único da nossa História, transportam-nos a um Portugal que descobria a liberdade e a democracia, e oferecem-nos a oportunidade de refletir sobre o papel da liberdade de expressão. Os cartazes tornaram-se símbolos, mas também memória material de um tempo que, apesar de parecer distante, ainda reverbera no presente.
PROGRAMA PÚBLICO | Visitas à exposição
26/04 — 16h00
03/05 — 16h30
07/06 — 16h30
27/09 — 16h30
Exposição patente até 28 de setembro.
Fonte: ccb.pt