Podemos seguir numa nova direção?
A convite do CAM, a artista Gabriela Albergaria propõe que o contentor se transforme num espaço comum, com habitações esporádicas de ações comunitárias e que criem relações com quem passa nesse lugar.
«Este contentor está ao lado da entrada de um centro comercial, mas também ao lado de uma esplendida pequena «plantação» de jacarandás e que, infelizmente, serve de sombra para o estacionamento de carros e não para sombra de uns banquinhos de jardim.
O local tem um conjunto de estradas de alta velocidade, mas também está muito próxima, a pé, de Monsanto. Ao lado tem um quiosque para beber café e umas mesinhas para sentar. Muitos outros detalhes contribuíram para eu decidir que o ideal seria usar o espaço como sala de ações, que convidam a pensar se de facto não podemos seguir numa nova direção?
Uma ação de repensar a nossa atitude perante o desperdício.»
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Todo o meu trabalho enquanto artista se preocupou em criar ligações com a Natureza no sentido da chamada de atenção para a necessidade de uma união Homem/Natureza. Para isso recorri sempre a estudos de campos do conhecimento que abarcam desde a agricultura ou jardinagem, situações mais vernaculares, até situações da ciência, da antropologia etc.
Visitar locais onde a natureza está presente tem sido também uma opção de pontos de partida para alguns projetos. Assim, visito e visitei várias paisagens históricas, ou não, mas que de alguma forma me suscitaram a curiosidade.
Integrei uma visita de cientistas à Amazónia, fiz viagens de campo pelos Estados Unidos, onde visitei parques naturais e explorei paisagens menos conhecidas para mim. Viajo sempre que posso por locais mais ou menos remotos, ou apenas pelo jardimfloresta atrás de casa, ou pela praça com duas árvores por onde passo frequentemente. Estas visitas são acompanhadas de uma prática de recolha de imagens, desenhos, objetos e histórias que depois são trazidos para o ateliê e a partir daqui elaboro as peças possíveis.
Nos últimos anos interessei-me pela ação de recuperar, reutilizar, e preocupo-me sempre em usar materiais mais ou menos perecíveis, não agressivos para o ambiente e que possam, de alguma forma, mais tarde ou mais cedo, voltar ao seu estado de terra, solo.
A conceção desta peça, a qual dou o nome de Can we go in a new direction? [Podemos seguir numa nova direção?], parte do pressuposto dado pelo próprio projeto: um contentor que pode conter arte contemporânea.
Por um lado um recetáculo, por outro uma atitude.
Interessou-me desde o início usar o espaço do contentor como espaço, mas também como lugar que recebe ações.
Ao pensar no contentor como espaço para conter arte, recusei de imediato uma ideia de contemplação de arte num contentor, por não em parecer adequado e por razões que nem sei explicar.
O que me apeteceu foi mesmo pensar em criar um espaço comum, com habitações esporádicas de ações comunitárias e que criassem alguma relação de educação/ chamada de atenção com o publico que passa nesse lugar em Benfica.
Este contentor está ao lado da entrada de um centro comercial, mas também ao lado de uma esplendida pequena «plantação» de jacarandás e que infelizmente serve de sombra para o estacionamento de carros e não para sombra de uns banquinhos de jardim.
O local tem um conjunto de estradas de alta velocidade, mas também está muito próxima, distancia a pé, de Monsanto. Próximo tem um quiosque para beber café e umas mesinhas para sentar. Muitos outros detalhes contribuíram para eu decidir que o ideal seria usar o espaço como sala de ações, que convidam a pensar se de facto não podemos seguir numa nova direção?
Uma ação de repensar a nossa atitude perante o desperdício.
A ideia de recuperar ou de retomar a atenção aos detalhes de por exemplo o ciclo completo da Natureza passando pela (re)observação de sistemas mais vernaculares de fazer as coisas. Recuperar, remendar, reutilizar. Pontos de partida para esta peça/espaço.
A ideia é usar madeiras de utilizações anteriores e cobrir o contentor nas duas faces laterais obtendo duas paredes onde a história das madeiras fica presente. Nos dois topos, o contentor continua com o seu especto original.
O telhado idealmente será um telhado “verde”. Referencia à natureza, mas também a uma ideia tão usada na arquitetura de usar a terra e os telhados verdes como forma de refrescar as casas.
Creio obter assim um espaço que se relaciona também com a escultura de alguma forma. Se fechar as portas do contentor temos 4 pontos de vista diferentes uns dos outros e um topo que acrescenta outro sentido áquilo que pode ser uma escultura.
O interior repete de alguma forma o exterior, mas será tratado como se fosse madeira nova. Tem que «sofrer» a ação da lixa provavelmente. O chão também deve ser de madeira assim como o teto.
A ideia é criar a cabana de madeira, estranha, mas sim uma cabana de madeira. O plano de ter uma parede de vidro ou acrílico no topo já foi desenvolvido pela Sofia e temos desenhos que ela entregou. Esta parede de vidro permite entrada de luz natural e repensar a claustrofobia que este espaço pode exercer em algumas pessoas. Temos que ter luz artificial. Linhas de luz tipo fluorescente com luz de dia.
Uma rampa para acesso ao interior e manter diariamente o hábito de abrir as portas de manhã e fechar á noite.
As paredes no interior vão ser suporte para uma outra peça que tenho estado a desenvolver e que agora me parece ser um local ideal. Trata-se de textos desenhados a lápis de cor, sobre vários papeis reutilizados. Ficam linhas de texto, mais longos ou menos e que vão ser instalados no espaço de maneira a criar vários sentidos e conexões.
Os textos são referencias ao livro Direitos da Natureza de Gudynas, e que se debruça sobre os sistemas de valorização da Natureza. Talvez tenham que ser protegidos com placas de acrílico simples para evitar roubos, mas também serem tocados.
Podem ser presos à parede com ímanes e protegidos com placas de acrílico cortados à medida. Ou posso pensar também numa outra solução de concentrar os textos numa área e ter uma grande placa de acrílico nessa área.
O interior deste espaço vai ter bancos e mesas para dar oportunidade de se poderem realizar uma serie de ações em formato de workshop. Estas ações vão ser desenvolvidas pelo departamento de Educação do CAM.”
Gabriela Albergaria
Até 4 mar – 31 jul 2023