De Portugal a Nova York
As pensões da nossa memória
Estou no Porto, num hotel de quatro estrelas que na realidade é basicamente uma pensão de duas estrelas e não podia estar mais contente com isso.
-DONA ARLEEEETE. O QUARTO DA SENHORA ESTÁ PRONTO?
– ~s q~~t~ e~tão t~õd~~ron~t~s
Esperamos. Eu percebi tudo, só espero por respeito. Por isso, esperamos os dois.
– OH DONA ARLETE OS QUARTOS ESTÃO OU NÃO ESTÃO PRONTOS?
A dona Arlete esforça a sua voz muito rouca e responde da mesma maneira, dolorosa só
de ouvir. Estão todos prontos, o senhor só percebeu à terceira.
– É os nervos, o tempo também não ajuda e a pessoa perde a voz. Diz o senhor da recepção.
ou:
– O quarto é no segundo andar a mãezinha consegue subir?
Um hotel não nos diz nada disto.
Aquele gosto duvidoso de caixilharias castanhas e o cheirinho a sabão azul e branco transportou-me no tempo. Lembro-me de todas as pensões da minha vida e de como só um hotel de cinco estrelas consegue competir com isto. Os intermediários deixam pouca memória e, se por vezes só quero mesmo onde passar a noite, de todas as outras o que quero mesmo é memórias. Ricas, cómicas, ternurentas ou surpreendentes.
Espero que amanhã sirvam aquele típico pequeno almoço da carcaça e o café com leite. Não lhe vou tocar, mas quero-o lá. para me lembrar dos tempos em que não existiam dietas sem hidratos de carbono e de como a vida era tão mais fácil.
Conheci o Norte de Portugal quando tinha 17 anos e trabalhei a fazer estudos de mercado. Foram umas férias fabulosas e extenuantes a fazer entrevistas irrepetíveis de porta a porta. Duravam 40 minutos e as pessoas respondiam a tudo.
– Daqui a um bocado ´tá-me a perguntar quando vou à casa de banho!
E eu dizia que já lá chegava. A brincar atirava a pergunta e as pessoas respondiam mesmo. Nem sabiam, nem elas nem eu, que como resultado desse estudo iriam nascer dois novos canais privados que melhor do que lhes perguntar quando vão à casa de banho iriam mostrar isso, e o quê e como o faziam no quarto. E as pessoas haviam de assinar
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Por :Marta Gonzaga