Ela era absolutamente normal. Não era bonita nem feia. Fazia as coisas sem entusiasmo de maior, mas também nunca reclamava. Deixava o marido viver a sua vida sem sobressaltos, como ele sempre gostara.
Até ao dia em que teve um sonho terrível e decidiu tornar-se vegetariana.
E essa sua renúncia à carne – que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu – acabou por desencadear reações extremadas da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros – o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria.
A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore. Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano.
«Para celebrar 60 anos de vida editorial, as Publicações Dom Quixote revisitam alguns dos marcos da ficção universal que, ao longo do tempo, ajudaram a definir o seu catálogo e a consolidar o seu papel na história literária em Portugal. Obras maiores que a editora deu a conhecer aos leitores portugueses, vozes incontornáveis, reunidas agora numa coleção singular que presta tributo ao passado, honra o presente e reafirma um compromisso duradouro com a literatura de excelência.»
Han Kang nasceu em Gwangju, na Coreia do Sul.
Em 1994 começou a sua carreira de escritora vencendo o primeiro lugar de um concurso literário em Seul.
A Vegetariana (2016), o seu primeiro romance publicado pela Dom Quixote, ganhou o Man Booker International Prize em 2016 e tornou-se um best-seller internacional.
Atos Humanos (2017) venceu o Prémio Manhae na Coreia do Sul e o Prémio Malaparte em Itália.
A obra seguinte, O Livro Branco (2019), foi finalista do Man Booker International Prize 2018. Publicou depois os romances Lições de Grego (2023) e Despedidas Impossíveis (2025), que venceu na edição francesa o Prémio Médicis Étranger 2023.
Han Kang recebeu ainda os prémios literários Yi Sang, Jovens Criadores, Melhor Romance da Coreia, Hwang Sun-won e Dongri.
E, «pela sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana», foi galardoada com o Prémio Nobel de Literatura 2024. Foi professora no Departamento de Escrita Criativa do Instituto das Artes de Seul e dedica-se atualmente apenas à escrita.
Está publicada em mais de trinta línguas.
Fonte: LeYa




