Nos anos 70, Saramago pensava que seria apenas um rodapé na História da Literatura Portuguesa.
O editor do Nobel Português que contrariou o parecer das chancelas que rejeitaram Levantado do Chão, publicou Alice Vieira e Mia Couto desde as suas primeiras obras, o nome que apostou em Gonçalo M. Tavares ou em Ondjaki, o jovem septuagenário que se deixa encantar pela escrita de Patrícia Portela ou de Kalaf Ângelo ou de Isabela Figueiredo.
Zeferino Antas de Sousa Porto nasceu em 1945, na conservadora Paredes, e frequentou o pouco politizado Liceu de Guimarães. Até ironiza: “não nasci no Couço, nem na terra da Catarina Eufémia” – a primeira, terra de forte contestação antifascista e de feroz repressão durante o salazarismo; a outra, Baleizão, onde foi assassinada a lendária camponesa comunista. Ao ir para a Faculdade de Letras do Porto, onde foi um dos 40 matriculados no Curso de Filosofia que abriu nesse ano, encontrou, finalmente, a sua família política. A maioria dos seus colegas, “onde havia gente interessantíssima”, era claramente antifascista (alguns até já tinham estado presos) e Zeferino Coelho, “um tipo ingénuo, com 16/17 anos, que vinha da província”, passava as tardes no café “Piolho” e as noites numa tertúlia no Café Ceuta a fazer a sua formação política. Nunca se esqueceria de certa noite, quando se discutia política internacional, ouvir um dos mais velhos vociferar contra “aquele filho da puta do general Sukarno”, que tinha massacrado meio milhão de comunistas na Indonésia. Aquela expressão, escutada num misto de espanto e de fascínio, mais reforçou a sua identidade.
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Por Fernando Madaíl
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