“Why can’t it be mine”?

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O dia em que os Pearl Jam
tocaram só para mim.

 

Passeio Marítimo de Algés, 13 e 14 de Julho de 2018.

 

Quando os Pearl Jam subiram ao Palco NOS perante uma multidão espremida para os receber, confesso que me emocionei. E não, não pensem que foi aquele arrepio que nos percorre o corpo antes duma descarga de adrenalina. Emocionei-me mesmo. Uma emoção incontrolável com direito a uma ou duas daquelas irreprimíveis lágrimas que nos embaraçam. Uma emoção que nos chega com a concretização dum sonho, por um motivo ou outro, sempre adiado. Claro que assim é fácil, não é Eddie? Pegar numa alma fragilizada como a minha e levá-la para onde se quiser. Foi literalmente isso que aconteceu na noite em que os Pearl Jam tocaram só para mim. Sim, eu sei que estava por lá mais gente. Muita gente. Uma multidão. Mas não durante o concerto. Não a partir do momento em que se ouviram os primeiros acordes de “Low Light”, com Eddie Vedder em palco perguntando, mais tarde, num português encantadoramente estrangeirado – Está tudo béééémmmm? – A partir desse momento estive sozinha com eles. Eu, perdida em divagações mentais no Passeio Marítimo, eles perdidos em divagações musicais em cima do palco. Este foi o meu concerto, as minhas músicas, o meu alinhamento. E ai de quem disser o contrário.

Da “Even Flow”, música que abriu o concerto que me perseguiu durante todos estes anos, às “Daughter” e “Jeremy”, passando pela arrebatadora “Rearviewmirror” e por “Black”, e com “Black” não me venham dizer que este concerto não foi só para mim, os Pearl Jam mostraram como envelhecem os génios – não envelhecendo, ponto. A voz e a energia são as mesmas que marcaram a minha infância e adolescência, a diferença, para melhor, foi tê-los ali à mão de semear, numa união tão perfeita que durante as horas de concerto (quantas foram mesmo?) fomos um só. Eles e eu e, ok, mais uns milhares de almas que por ali andavam.

Não sei quantos temas tocaram nem quanto tempo por ali estivemos juntos a partilhar o gosto comum pela genialidade musical, só sei que soube a pouco, apesar dos encores (cinco, ouvi depois) com direito a uma versão de “Imagine” de John Lennon e de “Comfortably Numb” dos Pink Floyd e a um “grand finale” com Jack White em palco para acompanhar o clássico de Neil Young “Rockin’in the free World”. Já estava farta de ler e ouvir que os Pearl Jam já são da casa, mas ouvir é uma coisa, sentir é outra. Melhor teria sido impossível!

Acabo como devia ter começado, com uma confissão: sempre tive, com o NOS Alive, uma espécie de relação amor/ódio. Durante anos andámos de candeias às avessas. Ele seguindo o seu caminho de afirmação e crescimento, esgotando a cada edição e trazendo a Portugal cada vez mais e melhores bandas, e eu, mais atreita a espaços menos concorridos e consensuais, percorrendo outros festivais seus concorrentes. Não me arrependo. Sem este distanciamento talvez as expectativas fossem maiores e eu não me sentisse de alma lavada. Mas, também por isso, seria injusto não falar dos grandes concertos de Queens of the Stone Age, Jack White, Franz Ferdinand, Yo la Tengo, Chvrches, Two Door Cinema Club, e, sobretudo, do extraordinário concerto que me fez fazer as pazes definitivas com os The National.

Mas de que vale tudo isso, se no dia 14 de Julho os Pearl Jam vieram a Algés tocar só para mim?

Miss Bungle

 

Foto: Hugo Macedo

 

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