TERRAS DA CHANFANA ®

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LOUSÃ | MIRANDA DO CORVO | PENELA | VILA NOVA DE POIARES

DE PRATO FAMILIAR DE DIAS DE FESTA – ANÓNIMO NA SUA SIMPLICIDADE DE CONFECÇÃO –, A IMAGEM DE MARCA DE UMA REGIÃO… O LONGO PERCURSO IDENTITÁRIO DA CHANFANA, ENQUANTO REFERÊNCIA DE UM TERRITÓRIO!

O TERRITÓRIO

Delimitado a Norte pelos Rios Mondego e Alva os quais definem uma fronteira natural e integram uma rede hidrográfica expressiva, o território de abrangência da Dueceira -Associação de Desenvolvimento Local, gestora da marca Terras da Chanfana – caracteriza-se como Zona de Montanha, constituindo o Maciço Montanhoso da Serra da Lousã o que mais contribui para a orografia da região. As paisagens de xisto revelam contornos imponentes marcados, característicos da topografia serrana. Mais a Norte, as Serras do Carvalho e do Bidueiro constituem outras referências orográficas que envolvem a zona central coincidente com os terrenos assentes na denominada Bacia da Lousã.

Trata-se de uma região com um elevado valor ambiental em que o biótipo classificado da Serra da Lousã (Rede Natura 2000), define e cria espaços de lazer e fruição da natureza, com preponderância para a riqueza da fauna (veados, corços, javalis, esquilos) e de núcleos de flora autóctone onde abundam os soutos e carvalhais, a par com outras espécies como os sobreiros, azevinhos, medronheiros, azereiros. É preponderante a apetência florestal e a lógica de povoamento é assente numa estrutura tradicional com uma economia rural dispersa e vilas de grande expressão populacional.

Reflexo de realidade socio-económica ditada pela transformação dos modos de vida, pela proximidade a Coimbra e pela qualidade da sua paisagem, o território tem também uma forte expressão empresarial nos sectores da indústria e comércio, evidenciando-se também os empreendimentos na área do Turismo, sector em franca expansão.

É neste espaço territorial que se reconhece uma cultura muito própria onde as aldeias serranas de xisto, os castelos, as ermidas e santuários, achados arqueológicos, bem como, outros edificados de valor arquitectónico constituem um património expressivo, a que as lendas e mistérios locais conferem magia e encantamento. Os usos e costumes, o artesanato, as peculiaridades das comunidades acrescentam-se como atractivos inimitáveis e assumem em conjunto, verdadeiro capital simbólico. Este, é ainda enriquecido pela gastronomia típica e, para além da Chanfana, juntar-se-ão no receituário local outros manjares, alguns provenientes também da cabra.

 

 A(S) HISTÓRIA(S)

A História da Chanfana perde-se em tempos mais imorredouros enquanto tradição alimentar das populações das Beiras, com predominância para o Pinhal Interior Norte e Beira Litoral, sendo a sua origem ainda alvo de uma saudável disputa local e, assumindo as várias versões da História, contornos igualmente plausíveis e quiçá complementares.

Não existem estudos científicos que permitam asseverar ou concluir a sua real origem. Dentro da História da Chanfana há muitas Histórias, todas comportando o seu próprio grau de verdade e de imaginário, contudo todas admissíveis. Os concelhos de Vila Nova de Poiares e de Miranda do Corvo reclamam para si a proveniência deste prato típico, mas o mesmo tem também forte implantação nos sabores e cultura dos concelhos vizinhos da Lousã e Penela e também em Góis.

Por exemplo, no concelho de Miranda do Corvo assume-se a lenda de que a chanfana terá surgido no Mosteiro de Semide. Outra versão da História, remete-nos à época das invasões francesas também nos primórdios do século XIX. Outros estudiosos, mais do que definirem a origem precisa desta iguaria, definem de forma mais ampla que o prato é parte integrante da cultura e da herança gastronómica da Serra da Lousã, porquanto resultado da actividade pastoril, profusa noutras épocas, perante a natureza pobre dos solos e a geomorfologia sinuosa com características xistosas.

Na nossa perspectiva, quer fosse dos grandes rebanhos do Mosteiro, da escassez de bens aquando das invasões napoleónicas, da própria orografia acentuada destas serranias ou da dureza da vida das populações de antanho, todas constituem premissas que ditam a formulam a narrativa associada à Chanfana.

Não obstante, queremos acreditar que o que mais importa não é o ter nascido nesta ou naquela paragem, o que efectivamente importa é assumir-se como o DNA, o elemento identitário das comunidades que ao longo dos séculos conferiram o seu saber e dedicação na sua confecção e permitiram que este se assumisse como um activo único e inimitável nos nossos tempos.

 

 AS CONFRARIAS

Resultado do trabalho iniciado há cerca de década e meia, a Chanfana ganha raiz na região e protagonismo enquanto prato típico de valor inegável. Em todo o processo há, pois, que valorizar o trabalho fundamental destas Associações sem fins lucrativos que assumiram como missão dignificar a Chanfana conferindo-lhe espaço gastronómico no receituário local e o reconhecimento nacional.

No concelho de Vila Nova de Poiares foi constituída em 2001, a Confraria da Chanfana, com o fim específico o levantamento, defesa e divulgação do Património Gastronómico da Região das Beiras e em especial, desta iguaria, possuindo o registo da marca Vila Nova de Poiares, Capital Universal da Chanfana. E, em 2003, no concelho de Miranda do Corvo, objectivando promover e salvaguardar os pratos confeccionados à base de carne de cabra, é criada a Real Confraria da Cabra Velha, afirmando desde 2005 a marca registada Capital da Chanfana.

Para além deste processo de afirmação local, ambas as entidades reforçaram, no seu proveitoso e salutar despique e picardia de tantos anos, a importância deste prato enquanto símbolo de identidade destes concelhos e, desde essa época, concorreram para a dinamização de eventos promocionais envaidecendo a Chanfana e conferindo-lhe importância crucial na e para a economias locais.

Confeccionadas de forma similar porquanto os seus ingredientes são idênticos: a carne de cabra, o vinho tinto, o alho, os temperos; a distinção é conferida pelos segredos próprios de cada Mãe de Família ou do cozinheiro que a prepara. Também a olaria, mais um aspecto de referência da tradição local, assumirá importância no processo, sendo que os caçoilos de barro vermelho do Carapinhal ou preto de Olho Marinho, contribuirão igualmente para a criação destas imagens de marca. Por fim, o aspecto crucial da lenta cozedura em forno de lenha, característica que irá transformar em iguaria de paladar intenso e inesquecível a simplicidade da carne de cabra.

Um facto é indiscutível, a Chanfana é um ex-libris gastronómico e constitui prato obrigatório destas paragens, principalmente em ocasiões especiais e em todas as festividades religiosas. Actualmente, vários são os eventos de natureza turística que anualmente são realizados para sua promoção, num conjunto de iniciativas culturais e

recreativas de defesa da gastronomia enquanto elemento de cultura e património local.

 

A DUECEIRA E A ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

PARA O TERRITÓRIO

Os limites culturais são, porém, ténues e já muito antes, quando em 1994 a Dueceira foi fundada – com o perfil de ADL – Associação de Desenvolvimento Local, num contexto de Entidade Gestora do Programa de Iniciativa Comunitária LEADER para actuar na área geográfica dos concelhos de Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares -, perspectiva esta região como um todo, viável enquanto conjunto de base territorial e com suporte em premissas tais como a Tradição | a Identidade Local | A Cultura | O Património e identifica na sua Estratégia esta natureza gastronómica das comunidades, quase telúrica porquanto parte da sua narrativa. Uma identidade gastronómica observada, desde sempre, como um fio condutor na construção de matrizes de actuação.

Na sua Estratégia de Desenvolvimento Local – suportada num quadro associativo coeso de 53 parceiros (entre entidades colectivas públicas e privadas dos mais diversos sectores) -, define dinâmicas, acções e iniciativas sociais e económicas, que perspectivam a fixação das populações, suportadas em princípios e valores de identidade estimulando mudanças positivas e o aumento do Afecto territorial.

Os ‘nossos Recursos’, as ‘nossas Actividades’, os ‘nossos Produtos’ assumem relevo nesta abordagem, a qual apresenta como enfoques prioritários os sectores emergentes do Turismo Verde, de Natureza, de Montanha, Desportivo e Radical; o potencial de transformação, valorização e comercialização dos produtos endógenos; a importância na consolidação de princípios e valores em torno do conceito Região Solidária e Inclusiva, o qual em permanente construção, fomenta novos modelos ecológicos de neo-ruralidade e estilos saudáveis de vida.

É neste contexto, que a vocação da Dueceira se estabiliza, assumindo-se também como espaço de convergência de interesses, incentivando à criação de soluções comuns, supra-municipais, por forma a satisfazer os anseios e expectativas das comunidades e criando sinergias que se constituem como estímulo para o incremento das economias locais, visando esse fim último de desenvolvimento harmonioso do território e de bem-estar das comunidades.

 

7 MARAVILHAS À MESA… MUITO PARA ALÉM DE UM CONCURSO, O VALOR DO CAPITAL SIMBÓLICO

Não obstante as suas características de animação e competências de mediadora de processos locais, apenas em finais de 2017, a Dueceira consegue reunir as condições convenientes para a convergência de todos os interlocutores na demanda de valorização da Chanfana.

Este processo, associado ao concurso 7 Maravilhas à Mesa®, promovido pela televisão pública, apesar dos formatos pré-definidos pelo seu regulamento, veio possibilitar a formulação da candidatura Terras da Chanfana enquanto representativa do Território no seu todo patrimonial, criando espaço de diálogo e envolvimento das entidades (Câmaras Municipais, Confrarias, Associações de Produtores, Empresas), das Comunidades e também a valorização de outros produtos com significado local inquestionável.

Nesta primeira abordagem ao Concurso acompanharam a Chanfana – esta assumida como referência identitária principal – outros patrimónios, também eles ex-libris locais: os produtos DOP- Denominação de Origem Protegida Mel da Serra da Lousã e Queijo Rabaçal; o Licor Beirão; o Vinho da Quinta do Conde de Foz de Arouce. Para além desta composição de sabores, a candidatura foi enriquecida com uma componente de Roteiros, representados pelo património edificado do Mosteiro de Santa Maria de Semide e as experiências únicas proporcionadas pelos “Trilhos da Natureza da Serra da Lousã”.

Na verdade, o mediatismo e visibilidade conferidos pela televisão permitiram reforçar os elos políticos, administrativos, culturais e informais em torno de uma identidade, finalmente assumida como comum, criando uniformidade de sentimentos perante representações tais como “juntos somos mais fortes” ou “Terras da Chanfana, uma marca que nos une!”.

O aumento dos níveis de auto-estima territorial foi plenamente alcançado e visível no orgulho incontido das comunidades aquando de cada fase concursal ultrapassada com sucesso. As Terras da Chanfana assumiam-se desta forma simbólica – mas com grande significado perante o histórico do processo – como Marca de Prestígio do território, mas e também das próprias comunidades, numa evidente manifestação de apreço no ‘ser das terras da Chanfana’, no ‘ser d’aqui!’.

E, o ‘ser d’aqui’ adquire uma acepção maior que o próprio ex-libris que lhe confere o nome. Representa toda uma região, vasta em outras riquezas naturais, edificadas, culturais e naturalmente gastronómicas (como não referenciar o cabrito assado, as migas serranas, os negalhos, as sopas de casamento, o vinho de Lamas, a jeropiga de Moinhos ou doçaria como a tigelada serrana, as nabadas e outros doces conventuais, os serranitos, os poiaritos, os talasnicos, entre tantos mais registos?).

O ‘ser d’aqui’ identifica os valores associados aos usos e costumes, à hospitalidade das gentes, à qualidade de vida nas vilas e aldeias e ao modo de vida que, apesar de próprio do mundo rural, é compatível com a modernidade.

Alcançado o propósito de união conferido pelo concurso, é este agora o novo universo de actuação das Terras da Chanfana: o de criação do seu próprio estatuto de Marca de um produto e de Marca de uma região (*) e em que os processos de divulgação, promoção e qualificação do território e agentes se assumem como objectivos centrais de uma acção concertada, demonstrando que estes 4 concelhos – mantendo as características que lhes são próprias – sabem também assumir escala, criando perspectiva e promovendo, em conjunto, as condições ideias para uma maior competitividade territorial, a qual concorra para o reconhecimento externo, atraindo com o seu valor e qualidade visitantes, turistas, investidores e até novos residentes.

Se é incontestável que a Gastronomia está na moda e, por tal, esta é a ocasião ideal para fazer da Chanfana uma referência por todos conhecida e apreciada, o fundamental é acreditarmos que pela intensidade e alma dos cheiros e sabores, mais do que o palato, se alcança o Cerne, o Ser e o Estar das Gentes destas Terras e que, deste modo, se preserva a tradição e identidade dos povos e se contribui para a construção da nossa própria História!

As Terras da Chanfana aguardam por vós!

Ana Souto de Matos

Dueceira -Associação de Desenvolvimento do Ceira e Dueça

Lousã | Miranda do Corvo | Penela | Vila Nova de Poiares

 

(*) Terras da Chanfana ® é Marca Registada desde Outubro de 2018

Observação: O texto não se rege pelo NAO

 

A RECEITA

Acreditamos que cada família, cada restaurante tenha o seu pequeno-grande segredo na confecção deste prato típico.

Apresentamos, no entanto, a receita facultada pela Confraria da Chanfana.

 

Ingredientes

2,5 Kg de carne de cabra velha

1 cabeça de alho inteira

1 folha de louro

1 colher de sobremesa de colorau

1 colher de banha de porco ou azeite (actualmente)

Sal (q.b.) e piri-piri

Vinho tinto

 

Modo de Preparação

Coloca-se num caçoilo de barro preto a carne de cabra velha, devidamente partida em pedaços com aproximadamente 5 cm, dependendo da peça do animal.

Adicionam-se os restantes ingredientes. No final rega-se com vinho tinto, que deve ser de boa qualidade.

Os caçoilos que no passado eram tapados com testo de barro ou folha de couve são agora habitualmente tapados com folha de papel de alumínio.

Coloca-se no forno de lenha bem quente, com a preciosa ajuda da pá do forno, durante de duas a três horas até apurar muito bem.

 

TERRAS DA CHANFANA

DESCRIÇÃO DE UMA MESA VENCEDORA

[Cartão de Visita para um Roteiro de Fim-de-Semana]

 

“A cumplicidade com os sabores ancestrais e inigualáveis da Chanfana, originária destas paragens, confeccionada com carne de cabra e vinho tinto e que se assume gastronomicamente como denominador comum dos concelhos de Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares e a proximidade com sensações e vivências de uma envolvente verdejante em que o desporto de natureza é experiência imperdível fazem da Mesa das Terras da Chanfana, uma proposta única e inimitável, nossa expressão de identidade! A dignidade de um vinho tinto excepcional das Vinhas Velhas de Santa Maria da Quinta de Foz de Arouce, torna o manjar próprio para palatos exigentes, sendo completado em jeito de pospasto com Queijo do Rabaçal de sabor forte do leite de cabra e ovelha intensificado pela cura e, com Mel da Serra da Lousã, néctar endógeno de tom âmbar e sabor intenso que advém da flora serrana em que predomina a urze. O Licor Beirão e o Beirão de Honra, são os digestivos que permitem terminar a refeição com arte e mestria centenária e, já recuperado o corpo e a mente, permitir a visita ao Mosteiro de Santa Maria de Semide, classificado de interesse público e que remonta aos primórdios da nacionalidade”

 

TERRAS DA CHANFANA – A PARCERIA

 

  • Dueceira- Associação de Desenvolvimento do Ceira e Dueça
  • Município de Lousã
  • Município de Miranda do Corvo
  • Município de Penela
  • Município de Vila Nova de Poiares
  • CEARTE – Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património
  • AproRabaçal – Associação de Produtores do Rabaçal
  • Carranca Redondo & Filhos, Lda. (Licor Beirão)
  • Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Semide
  • Lousãmel – Cooperativa dos Apicultores do Concelho da Lousã e Limítrofes, CRL.
  • Quinta do Conde de Foz de Arouce (Vinhos de João Portugal Ramos)
  • Confraria da Chanfana de Vila Nova de Poiares
  • Confraria do Queijo do Rabaçal
  • Real Confraria da Cabra Velha de Miranda do Corvo

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