Roberta Medina

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Catorze anos depois, o Rock in Rio já faz parte da vida da cidade de Lisboa, sendo percursor da “invasão” da cidade por brasileiros. Falámos com Roberta Medina para saber um pouco mais sobre este festival.

Bica: O RiR estreou-se em Lisboa em 2004, quais são as grandes diferenças entre o primeiro e o actual RiR?

Há 14 anos que marcamos presença em Portugal e o grande desafio a que nos propomos é, a cada edição, fazer mais e melhor. “Inovar” é a palavra de ordem para a nossa equipa.

Desde 2004 muita coisa mudou e, esta edição, a nossa proposta foi precisamente oferecer tudo novo. Costumava dizer que quem achava que conhecia a Cidade do Rock tinha que voltar este ano, porque tudo ia ser diferente e a verdade é que ao longo dos quatro dias do evento o público constatou isso mesmo e o desafio foi cumprido. Oferecemos mais horas de entretenimento, abrindo o recinto mais cedo – das 12h00 às 02h00 – e apostámos nas novas indústrias do entretenimento em crescimento e naquilo que o nosso público procura, oferecendo um quarteirão que celebrou a cultura pop e os seus principais ícones, numa área de 4.000 m2 onde conviviam conteúdos de música, dança, cinema, arte e gaming. Apostámos também na área do digital com o Super Bock Digital Stage; no gaming com a primeira arena de gaming a integrar um festival – Worten Game Ring; nas maiores festas da atualidade que trouxemos para o novo Music Valley, o palco non stop da Cidade do Rock; no Dino Parque da Lourinhã com atividades para toda a família; e ainda na gastronomia com o Time Out Market Rock in Rio.

Para além disso, também inovámos nas estruturas e cenografias de alguns palcos, como é o caso do próprio Palco Mundo, e oferecemos ainda uma EDP Rock Street exclusivamente dedicada ao continente africano, não deixando de parte o “mini festival” de dança que a Cidade do Rock acolhe com dança presente em todo o recinto e liderada pelo palco Yorn Street Dance. Estas são apenas algumas das apostas ganhas que destacamos esta edição, sendo que há muito mais a vir por aí.

 

A produção do Rock in Rio-Lisboa é feita maioritariamente por brasileiros, ou recorrem mais a staff português?

A nossa estrutura é composta por uma equipa fixa, que conta com cerca de 40 pessoas – entre Portugal e o Brasil. Inicialmente, esta era composta maioritariamente por brasileiros. No entanto, depois da primeira edição em Portugal, a equipa foi crescendo com vários elementos portugueses e, hoje em dia, cerca de metade da equipa é portuguesa e são vários os portugueses em cargos de coordenação. Em época de Rock in Rio, ao longo dos meses, e à medida que o evento se aproxima, a equipa vai crescendo, chegando aos 8 mil credenciados em dias de evento, que é o número de pessoas que contribuem para a Cidade do Rock funcionar.

 

Qual o concerto que mais a surpreendeu no Rock in Rio-Lisboa? E qual o músico que teve mais gosto em trazer aqui?

É muito difícil para mim ver concertos em dias de evento. No entanto, gosto sempre de espreitar o concerto dos Xutos & Pontapés pois é sempre um momento especial para mim. Este ano, com o momento de celebração ao Zé Pedro, foi ainda mais especial e bonito. Quanto ao músico que gostei de trazer… Confesso que fiquei muito contente por, finalmente, termos trazido Bruno Mars para o Parque da Bela Vista, uma vez que sou grande fã. É um show muito especial e foi absolutamente arrepiante ver a Cidade do Rock lotada, nessa noite, a cantar em uníssono.

 

Portugal foi inundado por festivais, como definiria em poucas palavras o RiR para se distinguir de todos os outros?

Cada evento tem a sua identidade e uma proposta distinta, tendo em conta o seu público-alvo. O Rock in Rio é cada vez mais um verdadeiro parque temático da música, sendo a nossa proposta trazer o melhor do entretenimento para dentro da Cidade do Rock, nunca esquecendo que a música, como linguagem universal, é o elo de ligação de todo o evento. Mas a verdade é que o mercado do entretenimento tem evoluído ano após ano, e como um evento para toda a família apostamos naquilo que verdadeiramente diverte o nosso público.

Esta oferta tão abrangente que o público encontra dentro da Cidade do Rock, aliada à qualidade do evento que entregamos (desde as infraestruturas, ao cartaz, ao elevado número de atividades e experiências que oferecemos) é o que faz do Rock in Rio tão único e especial. Além disso, e enquanto plataforma de comunicação, é um evento que permite aproximar determinados universos e linguagens (como o digital e o gaming) de públicos que, numa primeira instância, se poderia pensar não serem o target e que aqui podem ter um contacto mais direto com esses mundos.

 

A componente de sustentabilidade sempre esteve no RiR, bem expressa no slogan “Por um mundo melhor”, pode citar algumas das medidas tomadas pelo Rock in Rio neste sentido?

O Rock in Rio tem o propósito de unir as pessoas e proporcionar experiências diferenciadoras, sempre com o foco em contribuir para um mundo melhor. Por isso mesmo acreditamos que, mais do que um evento de música, o Rock in Rio é um evento responsável e sustentável, com poder de mobilização e consciencialização.

Foi em 2001, quando lançámos o projeto “Por um Mundo Melhor”, que assumimos o compromisso de consciencializar as pessoas para o facto de pequenas atitudes no dia-adia serem o caminho para fazer do mundo um lugar melhor para todos. Em 2013 este compromisso fez do Rock in Rio o único festival certificado nacionalmente com a norma ISO 20121 – Eventos Sustentáveis.

Esta edição, elevámos o grau de exigência e trouxemos novas práticas sustentáveis para dentro do evento, além de darmos continuidade a outras. Continuámos a implementar um plano de gestão de resíduos rigoroso, em parceira com a Sociedade Ponto Verde, a Valorsul e a Câmara Municipal de Lisboa; continuámos também o cálculo da pegada carbónica; desenhámos um vasto plano de mobilidade sustentável, com número recorde de operadores e abrangência nacional; montámos um plano de acessibilidade em parceria com a Santa Casa da Misericórdia; e adotámos, pela primeira vez, copos reutilizáveis com o lançamento de uma coleção exclusiva Rock in Rio-Lisboa, colecionável.

Além destas medidas, lançámos o projeto ESTÁ TUDO CONECTADO, uma iniciativa de mobilização cívica e promoção da cidadania ambiental desenvolvido em parceria com a Liga para a Protecção da Natureza (LPN). Este projeto abriga uma plataforma agregadora de conteúdos (www.estatudoconectado. pt) através da qual é possível obter informação sobre diversos projetos e iniciativas nacionais dedicados à conservação e restauração florestal (desde campanhas de sensibilização, a ações de prevenção contra os incêndios ou de preservação das florestas) além de um leilão de artigos doados e guitarras autografadas por artistas que atuaram na 8.ª edição do Rock in Rio-Lisboa. Neste mesmo leilão também se encontram três guitarras clássicas construídas pela APC – Instrumentos Musicais através da madeira de árvores queimadas nos incêndios de Braga de 2017. O valor angariado será aplicado ao projeto da LPN para a conservação e restauração florestal, com o apoio do FSC Portugal. E sendo a música o elo de tudo no Rock in Rio, Agir, Carolina Deslandes e Diogo Piçarra juntaram-se em estúdio pela primeira vez e compuseram o tema “RESPIRAR”, dedicado ao projeto ESTÁ TUDO CONECTADO e que fala sobre a relevância e o papel da floresta. Esta canção está disponível em todas as plataformas digitais e as vendas da mesma revertem igualmente para o projeto da LPN.

O perfil do público mudou desde a primeira edição? Acha que há uma mudança no público do RiR decorrente da nova vaga de emigração do Brasil para Portugal?

O foco do Rock in Rio desde a sua criação, em 1985, sempre foi unir as pessoas através de uma linguagem universal – que é a música – e isso nunca vai mudar. O nosso público é mainstream, maioritariamente português, sendo que a comunidade brasileira residente no país também acompanha a edição lisboeta desde sempre. E é muito gratificante promover este encontro de culturas.

Este ano tivemos, sim, maior afluência de público estrangeiro, sobretudo Europa, uma vez que a nossa venda internacional duplicou face à última edição, representando os fãs internacionais cerca de 17 mil pessoas que vieram principalmente de Espanha, UK, Itália, Alemanha, Irlanda, entre outros países. Este é um número muito positivo para nós uma vez que, dado o boom da cidade de Lisboa, este ano reforçámos a comunicação no exterior, e esse investimento refletiu-se neste aumento.

 

Conhece bem Portugal, qual a sua ideia do país hoje em dia?

Comparando com o Portugal que conheci quando cheguei aqui há 15 anos, hoje é um país muito mais internacional, mais moderno, mais otimista. A maior diferença que percebo, e que me parece a mais importante, é ver uma enorme mudança de mentalidade, abandonando o “vai se andando…” pelo “está tudo bem!”, que reflete a liberdade de estar bem independente de como e de como os outros estão e a confiança no futuro.

 

Por: Bruno Esteves

Foto: Rock in Rio

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