Pixies no Campo Pequeno – Um olhar crítico

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Depois dos coliseus em 1991, Super Bock Super Rock em Junho de 2004 e Paredes de Coura em 2005, a banda de rock alternativo criada em 1986 voltou a Portugal (Campo Pequeno – Lisboa) para mais um concerto, não mencionando as passagens pouco fulgurantes no Primavera Sound em 2014 e no Coliseu do Porto em 2016.  

Decidi dar uma nova oportunidade de redenção a uma banda de culto da juventude que tanto me decepcionou no primeiro concerto que vi deles, há pouco mais de 14 anos, no festival Paredes de Coura.
As constantes discussões entre o bipolar Black Francis, ou Frank Black ou Charles Thompson, e a baixista Kim Deal sempre foram públicas – ficou famosa a agressão, com uma guitarra em pleno palco, de Frank a Kim em Estugarda, em 1990, e a recusa de Kim em actuar em Frankfurt – que levou ao quase inevitável e previsível fim, sete anos após o seu início fulgurante e recheado de hinos que perduram até hoje.

Desde a separação em 1993, Black Francis lançou até 2001 praticamente um álbum em cada ano, com nenhum a atingir grande notoriedade, tendo inclusivSunday Sunny Mill Valley Groove Day, em 2000, visto cancelado o seu lançamento. Kim Deal, que já tinha o seu projecto “The Breeders“, viu, após o seu mega sucesso de “Last Splash, a curva descendente a iniciar-se precipitadamente, culminando no desastre de vendas de Title TK” em 2002, tendo em 2004 a Warner Music anunciado o plano de abandonar o apoio à banda.

O retorno surgiu então em 2004, com o primeiro concerto a ser realizado em 13 de Abril desse mesmo ano em  Minneapolis, Minnesota.
O motivo da reunião ajuda a explicar um pouco a opinião maioritária do público português que, após cinco ou seis meses desse reinício, viu um concerto desastroso, muito parado, sem ânimo, segundo rezam as crónicas do Super Bock Super Rock. Uma banda que se reúne devido aos fracassos musicais dos seus elementos a solo e à falta de dinheiro dificilmente conseguiria ultrapassar o enfado e criar empolgamento num público com altas espectativas sem esforço, entusiasmo e vontade dos seus elementos em agradá-los. No entanto, este vibra ainda assim com as suas músicas ou, pelo menos, com as músicas que já têm e sentem na cabeça.

Eis que chega o concerto de 2005 na praia fluvial do Taboão. Expectativa máxima para quem não viu o concerto do ano anterior. No entanto, vi uma banda sem chama, sem ânimo, parada, sem uma palavra para o público. Nem um “thank you“. Kim Deal sorria, mas era a única. Não se notava nenhuma interacção entre os elementos da banda, nem algum prazer de estar ali a tocar. Uma decepção para mim, em que o melhor que tinha a fazer era fechar os olhos e ouvir esses clássicos.

Em 2013, Kim Deal sai da banda e continua com The Breeders. Os Pixies continuam, e no ano seguinte lançam o álbum Indie Cindy, com um sucesso razoavelmente bom – conseguiu atingir o 23º lugar no US Billboard 200. Foi o melhor dos seus três álbuns que sucederam à saída de Kim Deal, em termos de vendas. Os seguintes  Head Carrier (2016) e Beneath the Eyrie (2019) – tiveram também boas vendas, apesar de inferiores.

É a 25 de Outubro de 2019 que se dá o retorno a Portugal, três anos depois do concerto no Porto. Os bilhetes esgotados vêm confirmar que a banda não se perdeu na memória dos portugueses, mesmo com a sempre usual polémica que os concertos no Campo Pequeno geram (segundo o argumento de estarem a financiar, mesmo que indirectamente, as touradas), motivo de algumas ausências naquele recinto.

Depois de uma actuação esforçada dos ingleses Blood Red Shoes, surgem, então, os Pixies calmamente em palco, iniciando o seu set para um público já algo grisalho, com alguma, surpreendente ou não, juventude à mistura. Surpreendente, sim, foi ver essa mesma juventude a vibrar e cantar com “Here Comes Your Man”, “Gigantic“, “Where Is My Mind“, etc., como se tivessem vivido esses tempos áureos da banda no final dos anos 80 e inícios de 90.

Bone MachineWave of MutilationDebaser, e Gigantic para finalizar, levantaram as bancadas do Campo Pequeno, usando cliché de ir dando um pouco de sabor durante o concerto – um clássico aqui, outro ali – e depois deixar o melhor para o fim. É consensual que não são uns animais de palco nem nunca foram, não é de esperar nada de novo nem grande performance, mas acabaram por dar um concerto satisfatório, sem rodeios e apenas música. Sem interacção entre os elementos da banda e o público, a despedida apenas se resumiu a uma vénia de todos os elementos e uma mão no coração de Black Francis.

Certamente uns patamares acima do espectáculo sofrido e cansado de Paredes de Coura em 2005. No entanto, voltar a ver Pixies ao vivo já só se resume a reviver o passado e a músicas que continuam vivas e pulsantes na memória, porque já nada de novo têm para oferecer e muito menos parece que seja isso que pretendem. 

 

Nuno Carvalho Homem

 

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