O renascimento de uma cidade

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Entrevista com José Ribau Esteves

A manhã está sublime. O Sol ilumina a cidade e anima os turistas que passeiam junto ao Canal Central surpreendidos com a agitação que inunda as ruas, uma réstia da terceira edição do Festival dos Canais. Visto do Jardim do Cais da Fonte Nova, o edifício da antiga Fábrica de Cerâmica Jeronymo Pereira Campos, um dos mais extraordinários exemplares da arquitectura industrial do país e actual Centro de Congressos de Aveiro, ganha ainda mais imponência. É lá que nos encontramos com o Engenheiro José Ribau Esteves, Presidente da Câmara de Aveiro para uma conversa que decorrerá durante um passeio pela cidade.

O Presidente da Câmara da “Veneza Portuguesa” é um homem alto e magro, de olhar penetrante e conversa contagiante. Assumiu a chefia da autarquia em 2013 depois de 4 mandatos à frente da vizinha cidade de Ílhavo, num período particularmente difícil em termos financeiros.

Quando assumiu a presidência da autarquia de Aveiro, há quase 5 anos, encontrou-a com seríssimos problemas financeiros. Através do Plano de Ajustamento Municipal, tem sido possível liquidar dívidas aos principais credores e reequilibrar as finanças camarárias. Em que fase se encontra este processo?

José Ribau Esteves – Quando cheguei, em Outubro de 2013, Aveiro tinha graves problemas financeiros e de disfuncionalidade de organização e de funcionamento, o que nos obrigou a contratualizar com o Fundo de Apoio Municipal (FAM) um Programa de Ajustamento Municipal (PAM), que estamos a cumprir com todo o rigor pelo segundo ano.

No ano de 2017 recebemos nota positiva em todas as quatro avaliações realizadas pelo FAM. Ao longo do último ano pagámos dívidas com mais de 20 anos a cidadãos e empresas, os fornecedores e investidores voltaram a confiar na Câmara Municipal de Aveiro (CMA), e o próprio investimento privado está em forte crescimento com uma presença intensa em todas as áreas do tecido económico, do turismo à indústria.

De que forma este quadro financeiro desfavorável limitou as políticas culturais da autarquia durante o seu primeiro mandato?

Teve impacto limitador numa primeira fase, mas avaliando à luz da situação que encontrámos, os resultados são muito bons. Obviamente que existem sempre pontos onde podemos melhorar, mas perante a situação que encontrámos quando chegámos à Câmara Municipal de Aveiro, com uma situação financeira e uma organização caóticas, sem meios para atingir os fins definidos, a classificação do trabalho efectuado é muito boa. Foi muito difícil, mas são notáveis os resultados alcançados, também ao nível cultural.

O caminho que iniciámos este ano com a candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura em 2027, começou a ser estruturado no ano de 2016, com o reforço da equipa na sua liderança de gestão do Teatro Aveirense, que se assumiu como o pólo central dessa nova dinâmica cultural do Município, com uma programação renovada e em crescimento ao longo destes últimos dois anos.

O Senhor Presidente assumiu a cultura como uma das prioridades para os próximos anos. Quais são as grandes apostas do Plano Estratégico para a Cultura levando em consideração a já anunciada candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura em 2017?

A CMA assumiu a aposta política em realizar um Plano Estratégico para a Cultura e uma Candidatura a Aveiro Capital Europeia da Cultura 2027, cumprindo também por estas vias a importância estrutural do pilar da Cultura na estratégia de desenvolvimento definida para o Município de Aveiro no anterior e no actual mandato autárquico.

Entendemos necessária e importante a realização do Plano Estratégico para a Cultura com o envolvimento das Associações privadas sem fins lucrativos e dos Agentes Institucionais Públicos e Privados que têm actividade na área da Cultura, assim como no processo da candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura 2027, dado que, embora sob a liderança da Câmara Municipal de Aveiro, estes são processos que exigem uma grande abrangência e participação de todos os interessados.

Capacitar a Rede de Agentes Culturais, aumentar a qualidade e a quantidade da oferta cultural, misturar com sentido estratégico os valores tradicionais de cultura com as abordagens modernas, internacionalizar Aveiro pela diferenciação da sua cultura, dar mais vida a Aveiro Doce e Contemporânea.
Esta é a primeira vez que a CMA tem um Plano Estratégico para a Cultura com esta amplitude e ambição, dando força ao trabalho desenvolvido ao longo do último mandato (2013/2017). Este plano é o mapa que irá guiar as políticas municipais para a Arte e a Cultura nos próximos 10 anos.

Aveiro ambiciona mais e melhor, queremos ser uma referência nacional e internacional, posicionando a cultura no centro da vida social, educativa, económica e urbana. É essa a missão deste plano e o contributo da candidatura a Capital Europeia da Cultura.

José Ribau Esteves gesticula ligeiramente enquanto fala, impelindo-nos a sair do edifício. No Canal Central espera-nos um Moliceiro. Quinze metros de barco, da proa à ré, laboriosamente talhado em madeira de pinho como manda a tradição, enchendo de cor as águas do canal. A cor das proas pintadas em tons garridos para dar ânimo aos homens da Ria. Noutros tempos, os moliceiros contavam-se aos milhares entre Mira e Ovar, apanhando as algas que serviam de adubo à lavoura, transportando mercadorias e gado. De costados baixos para facilitar a colheita e o carregamento do moliço, fundo plano e pequeno calado, para poderem navegar na Ria e nos seus braços de baixa profundidade sem encalharem nos bancos de areia, os moliceiros eram uma ferramenta agrícola “num ecossistema muito particular – a laguna – que era ao mesmo tempo rio e mar, terra e água.” Esgotada a sua função económica, quase desapareceram na década de setenta do século passado, para renascerem pouco depois, como barcos-museu, destinados a passeios turísticos – as gôndolas da Veneza portuguesa. Hoje são um símbolo cultural de Aveiro, lado a lado com os ovos moles e a Arte Nova.

É num destes símbolos que nos aventuramos pelo Canal Central, Aveiro adentro à descoberta, deixando para trás o Jardim do Cais da Fonte Nova onde recentemente decorreram grande parte das actividades da 3ª Edição do Festival dos Canais.

O Festival dos Canais, organizado sob a liderança do Teatro Aveirense, e que agora terminou, trouxe à cidade uma forte dinâmica cultural durante os cinco dias em que decorreu, com cerca de 350 artistas nacionais e internacionais e mais de 200 espectáculos. Qual o balanço que faz desta edição e de que forma este festival pode desempenhar o papel de locomotiva das atividades culturais da cidade e da região ao longo do ano, nomeadamente apoiando a divulgação de artistas locais e estimulando a criação artística?

A 3ª edição do Festival dos Canais foi um momento de crescimento e afirmação em termos de público, programação e promoção do património e da identidade de Aveiro.

O evento, animou as praças, jardins e outros espaços públicos da Cidade dos Canais, mostrou que a aposta iniciada em 2016 está no bom caminho, no quadro da fixação do Festival dos Canais como um evento de referência do Município e da Região de Aveiro.

Com a próxima edição – já anunciada – a acontecer de 10 a 14 de Julho de 2019, considero que estão criadas as condições para que o Festival dos Canais se transforme num evento de referência a nível nacional e europeu, também no âmbito da candidatura de Aveiro a Capital da Cultura 2027.

Para além da programação muito diversa e intensa, que marcou positivamente a geografia da cidade, o evento constituiu também um acontecimento relevante de marketing territorial, no qual o público teve uma parte activa fundamental. Queremos agradecer a participação dos milhares de Munícipes que marcaram presença na festa que celebrou a nossa cidade e aos outros tantos Cidadãos que trocaram os seus territórios pelo nosso, numa comunhão de apreço pela criatividade e pelo engenho das artes em espaço público.

Respondendo de forma mais objectiva à sua questão: o Festival dos Canais é um elemento de grande importância, tem esse “papel de locomotiva” que refere.

A nossa Cidade já não será vivida da mesma forma. Há um marco antes e depois do Festival dos Canais 2018. O sangue novo que trouxemos para as nossas ruas e praças, as companhias consagradas que nos confiaram estreias e primeiras internacionalizações e a entrega da comunidade à celebração dos Canais foram, sem dúvida, decisivas na prossecução deste objetivo.

A edição de 2019 do Festival dos Canais irá contribuir para reforçar esse caminho que temos vindo a construir, para o afirmar como um dos maiores e melhores festivais da Europa nesse género.

A chegada ao Rossio foi o mote para conversarmos sobre o processo de reabilitação proposto pela autarquia e que tem levantado bastante polémica. 

Está previsto para breve o início do processo de Reabilitação do Rossio, a Praça mais emblemática da Cidade, debaixo de fortes críticas por parte da oposição camarária e de grupos de cidadãos. Pode explicar-nos em que consiste esta requalificação?

A requalificação do Rossio faz parte de algo muito mais abrangente e estruturante para o futuro urbano e não só, da Cidade de Aveiro. Trata-se do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Aveiro (PEDUCA), aposta prioritária da CMA no presente mandato autárquico e que teve o seu início no anterior mandato, ao nível do investimento de qualificação e valorização da Cidade e do Município de Aveiro, aproveitando a oportunidade de financiamento dos Fundos Comunitários do Portugal 2020, numa perspectiva integrada.

A opção política assumida é a de dar à Cidade de Aveiro uma Praça Urbana de elevada qualidade, que conjugue um espaço livre e grande para a realização de eventos, um espaço de encontro das Pessoas, devidamente conjugado com bons espaços verdes e arborizados, numa organização que valorize devidamente a frente-Ria, do Canal Central e do Canal das Pirâmides, e a frente urbana daquela zona na qual existem vários exemplares Arte Nova de grande valor patrimonial.

Dar muito mais espaço à utilização pedonal alargando passeios e criando novas zonas de estar e de circular com qualidade, condicionar a circulação automóvel, organizar o estacionamento numa área de menor valor e sem impacto na paisagem urbana, resolver os problemas de segurança que existem conferindo um bom ambiente de segurança passiva, são objectivos assumidos nesta aposta de qualificação.

O que estamos a projectar e a conceber é exactamente essa recuperação com a necessária reabilitação do Rossio, sendo que a definição da ideia base de construir um parque de estacionamento subterrâneo, está a ser estudada com a devida objectividade técnica, ao nível dos estudos de tráfego e de procura de estacionamento, do estudo geotécnico e obviamente do estudo de sustentabilidade financeira.

Actualmente o Rossio tem um total de 140 lugares de estacionamento (com definição de ocupação por ligeiros), e com a obra terá capacidade para 300 lugares, incluindo estacionamento reservado para moradores. No bairro da Beira-Mar só vai ser permitida a circulação dos veículos dos moradores e comerciantes, num processo devidamente articulado com o do Rossio.

No estudo prévio do projecto vamos aumentar a área verde prevista na ideia base, mas dando-lhe qualidade que actualmente não tem, dado que na sua maior parte a actual área verde não é própria para o contacto com pessoas e principalmente crianças, pois coloca em causa a sua segurança devido à existência de muros e desníveis com os passeios que lhe dão acesso.

O estudo prévio do projecto que está em desenvolvimento e terá várias versões até à sua finalização, sendo absolutamente seguro que vai definir, em relação à situação existente, mais área de passeios junto à fachada urbana e junto aos Canais, menos área para a circulação e o estacionamento automóvel, uma boa área para a realização de eventos (tipo Praça, por exemplo para futuras “Praças do Mundial” e para as Festas de São Gonçalinho e outros eventos), terá uma bateria sanitária, entre outras capacidades.

Vai ser um muito melhor Rossio, o que vai surgir deste projecto em curso, seguramente do agrado da maioria dos Aveirenses e dos nossos Visitantes.

É no Rossio, em frente ao Museu Arte Nova que descemos para um périplo a pé pelo centro da cidade. A Casa Major Pessoa, que alberga o museu é um dos mais extraordinários exemplares desta corrente artística com o trabalho arquitectónico atribuído a Francisco Silva Rocha em colaboração com Ernesto Korrodi. À semelhança da generalidade dos outros exemplos espalhados um pouco por todo o centro da cidade, a Arte Nova aveirense é, sobretudo, fachadista, de grande influência brasileira e marcada pela utilização de azulejos com motivos naturalistas e de ferro, materiais abundantes na região. No interior, nota-se um esforço de recolha de elementos de época que ajudam a criar a ambiência de uma habitação Arte Nova, sobretudo, na Casa de Chá com uma esplanada convidativa. É por aí que saímos directamente para o Mercado do Peixe, outro exemplar da arquitectura Arte Nova da cidade, onde se destaca a utilização do ferro.

Convém referir que o centro de Aveiro está renovado. Um pouco por todo o lado é possível encontrar exemplos de espaços comerciais com propostas diferentes. O Zeca Aveiro, em homenagem a Zeca Afonso, filho da terra, cafetaria e loja onde é possível encontrar diversos produtos regionais como o célebre Licor do Alguidar, as ovas de bacalhau e uma diversidade de petiscos regionais é um dos exemplos desta renovação comercial, assim como a Aveiro Emotions que vende bacalhau seco ao sol e cosméticos à base de flor de sal.

Atravessando o canal é obrigatória a paragem na mais antiga casa de ovos moles da cidade – a Confeitaria Peixinho – onde não resistimos à tentação de experimentar umas barricas. 

Uma das faces mais visíveis do Património Cultural da cidade é o seu edificado histórico, em particular o arquitectónicamente representativo da Arte Nova, sujeito, apesar da sua relevância municipal e nacional, a diversas intervenções desregradas ao longo de décadas. Num momento em que é notória uma aposta na requalificação urbana, gostaríamos de saber se existe um plano de reabilitação, com normas definidas para a garantia de preservação dos edifícios emblemáticos da cidade.

Dentro deste processo de requalificação, terá início em breve a Reabilitação do Museu Arte Nova e a abertura de novo concurso para a reabilitação do Edifício Fernando Távora (ex-líbris arquitectónico de Aveiro), onde se instalará a biblioteca da cidade. Esta aposta na dinamização de equipamentos culturais estender-se-á por outros edifícios propriedade da autarquia?

O investimento em equipamentos culturais irá acontecendo de forma faseada, realizando investimentos regulares, distribuídos por todo o Município, devidamente planificados e com sustentabilidade financeira, cuidando da boa conservação das infra-estruturas existentes, aproveitando com intensidade os Fundos Comunitários de apoio ao investimento, gerindo bem a execução dos compromissos que assumimos com os Cidadãos.

O PEDUCA é uma aposta basilar neste processo reabilitação urbana a vários níveis, onde incluímos também a vertente cultural.

Depois de termos sido considerados um dos três melhores projectos da Região Centro e de termos assinado contrato de financiamento em Maio de 2016, garantindo 10 milhões de euros de financiamento, já aumentados para 11 milhões de euros por prémio de execução (do chamado “acelerador” do programa) em Dezembro de 2016, estamos em plena execução do PEDUCA, desenvolvendo estudos, projectos e obras no quadro desse acordo e das opções políticas que assumimos, numa operação que vai concretizar um investimento total de cerca de 25 milhões de euros.

A requalificação do edifício Fernando Távora faz parte deste plano de acção. Vamos reabilitar um dos edifícios mais marcantes da cidade, mantendo as suas características originais e reformulando os seus espaços interiores para receber os serviços de biblioteca e espaços de co-work e de apoio aos investidores e aos empreendedores.

Outro dos edifícios muito importantes a nível cultural onde vamos também investir na sua requalificação, é o edifício da antiga Estação da CP, que está abandonado e em estado de degradação. Queremos manter as suas características originais, preservando os painéis azulejares que o decoram e dotando-o de condições de conforto para a recepção de visitantes e promoção de produtos característicos da região.

Existem outras operações neste âmbito, nomeadamente ao nível da reabilitação dos Museus de Aveiro (Santa Joana, Cidade, Arte Nova e Marinha da Troncalhada), além de apostas novas como o Museu da Terra em Requeixo.

Regressamos ao Moliceiro, desta feita para percorrer o Canal das Pirâmides até ao Ecomuseu Marinha da Troncalhada, por entre marnotos trabalhando o sal e uma fauna e flora, impressionantes. Ali umas garças reflectidas na água do canal, além um bando de flamingos dominando o horizonte, acompanhando o moliceiro um ou outro alfaiate e por todo o lado pirâmides de sal. Aproveitamos a envolvência paradisíaca para conversar sobre a aposta de José Ribau Esteves nas questões ambientais e, sobretudo, na preservação da biodiversidade da Ria.

Outro dos desígnios anunciados como prioritários para este mandato pelo Senhor Engenheiro foi o ambiente, particularmente relevante numa cidade visceralmente ligada à Ria. Além do CMIA, que tivemos oportunidade de visitar há dias, e que tem desenvolvido um excelente trabalho de investigação e preservação da biodiversidade da região e de educação ambiental das novas gerações, e do Ecomuseu Marinha da Troncalhada, quais os principais projectos ambientais previstos para os próximos anos?

A Cultura e o Ambiente são os dois pilares principais onde assenta a nossa política de marketing territorial e de desenvolvimento turístico, valorizando os factores identitários e diferenciadores de Aveiro.

Queremos valorizar a frente-Ria, melhorando a sua percepção, intensificando a relação entre a terra e a água da Ria de Aveiro, apostando no modo de mobilidade eléctrico para as embarcações que circulam nos Canais urbanos.

Temos realizado vários investimentos de qualificação dos canais urbanos com obras de reabilitação, inaugurámos recentemente a nova Ponte de São João, que faz a travessia do Canal de São Roque e que permite a partir de agora que os barcos moliceiros tenham uma largura de navegação bem superior à que existia com a antiga ponte, garantindo-se a segurança dos seus utilizadores.

A Via Ecológica Ciclável (VEC) que estamos a desenvolver ao nível da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), terá um traçado final de mais de 300 km de extensão é ainda outro dos projectos.

A qualificação do Baixo Vouga Lagunar em fase de projecto, é outra frente de investimento de grande importância também ao nível ambiental.

A Ria, além de ex-líbris da Cidade, é pólo aglutinador de uma região mais vasta que se estende por 11 municípios, que constituem a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro a que o Senhor Engenheiro preside.  A diversidade cultural, etnográfica, gastronómica e paisagística da Região é, na sua opinião, um factor de atractividade e desenvolvimento?

Sem dúvida. A Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro tem feito um caminho pioneiro a vários níveis. O País tem na Região de Aveiro um exemplo muito bom e realizador, de que é a somar que somos mais fortes, aumentado assim a nossa atractividade e desenvolvimento. O trabalho de equipa dos onze Municípios da CIRA tem sido muito bom.

A VEC que ainda agora referi, ou o Parque de Ciência e Inovação (PCI) que inaugurámos em Março deste ano num investimento de elevada importância socio-económica para a Região de Aveiro, são alguns dos mais recentes exemplos.

Queremos explorar bem o valor intrínseco e as singularidades dos recursos turísticos (naturais ou culturais), para o que estamos a cuidar de melhorar as condições básicas necessárias para que os visitantes possam experienciar os territórios de uma forma o mais autónoma possível. Vamos conferir uma melhor acessibilidade do Homem à Natureza, para que esta possa ser compreendida e desfrutada por um maior número de pessoas e de uma forma mais intuitiva. Para cumprir este propósito é importante dotar os territórios de sinalética e estruturas de comunicação e construir estruturas de apoio à visitação.

É neste sentido que a VEC é tão importante para o Município e para a Região de Aveiro, e que estamos a ultimar a Grande Rota da Ria de Aveiro no âmbito da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro.

O facto de ter sido Presidente da Câmara de Ílhavo permite-lhe um olhar mais abrangente e menos “bairrista”, valorizando a intermunicipalidade?

Sou um Municipalista que aposta muito na intermunicipalidade. É um instrumento de capacitação dos Municípios e dos territórios que temos vindo a usar de forma crescente e muito realizadora, gerindo em função da dimensão dos projectos.

A cooperação entre pares, quer ao nível municipal, como regional, nacional ou internacional, tornou-se inevitável para o sucesso comum.

Sou vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, entidade que tem um trabalho de grande importância para os Município e para o País.

Sou membro do Comité das Regiões da União Europeia, cujo papel de contributo na gestão da União Europeia é relevante, na partilha das perspectivas dos poderes locais e regionais da Europa para as políticas europeias, numa lógica de cooperação e subsidiariedade no desenvolvimento das políticas públicas.

É muito importante a partilha e o trabalho em equipa, para a concretização de objectivos de cada Município e de cada Região, do País e da Europa, em conjunto com a forte proximidade dos Autarcas com os Cidadãos.

De que forma esta nova vaga turística que em boa hora descobriu Portugal e cuja repercussão se nota na cidade de Aveiro, tem potencial de crescimento, através de uma oferta mais alargada envolvendo a Comunidade Intermunicipal?

No último mês de Março a TAP, na sua revista mensal UP, teve como destaque a Região de Aveiro, numa acção em parceria que realizámos com o Turismo do Centro de Portugal (TCP). A estratégia será cada vez mais assente em acções de cooperação como esta.

O trabalho de cooperação que temos vindo a realizar tem sido decisivo para esse crescimento que registamos e queremos alimentar: CMA, CIRA, TCP, Universidade de Aveiro, Empresas Privadas.

Já falámos no PCI e na VEC, mas muitos mais projectos irão acontecer no âmbito da Região de Aveiro. Queremos atrair muitos mais turistas para Aveiro, cuidando de habilitar a Cidade e a Região para os continuar a receber com qualidade crescente.

Falar da Aveiro é falar da Ria de Aveiro, elemento central na oferta turística da Região, que tem uma rica diversidade e é um factor diferenciador de carácter único.

Já hoje necessitamos de mais hotéis, precisamos de mais restaurantes, porque temos já muitos dias do ano em que não há camas disponíveis e em que há gente à espera, à porta dos restaurantes.

A verdade é que o crescimento turístico dos últimos dois anos – este está a ser o terceiro ano de forte crescimento – tem sido muito grande e estes dois factores não o têm acompanhado, existindo, no entanto, um claro crescimento do investimento privado nessas áreas.

Tem sido evidente a forte ligação entre a Região e o Turismo do Centro, nomeadamente durante as últimas Bolsas de Turismo de Lisboa e outras feiras internacionais.  De que forma será possível, no seu entender, transformar o Centro, esse “país dentro do país”, numa região efectivamente turística?

Há várias matérias que têm de continuar a ser trabalhadas para consolidar e fazer crescer a Região de Aveiro e o Turismo do Centro de Portugal, que aliás tem a sua sede em Aveiro.

É preciso consolidar o processo de crescimento turístico da região Centro de Portugal, prosseguindo a estratégia de promoção da marca Centro de Portugal a nível nacional e internacional, que tem corrido muito bem.

Temos também de reforçar a aposta no turismo religioso, não só o católico, com Fátima, mas também o Judaico, muito expressivo em territórios de baixa densidade e de fronteira; apostar noutros nichos de mercado que aproveitem as potencialidades do Centro de Portugal, como são o turismo activo e desportivo, o turismo cultural e patrimonial, ou o turismo de natureza e o que está agregado aos negócios. Sempre colocando a sustentabilidade como um desígnio do turismo no Centro de Portugal.

Vamos apostar decisivamente na qualificação dos agentes, serviços e produtos da área do turismo, de forma a reforçar a qualidade e diversidade da oferta e, através disso, diminuirmos o efeito da sazonalidade e aumentar a permanência média na Região.

Temos uma boa relação com a Universidade de Aveiro (UA), ao nível do Município e da Região de Aveiro, que se expressa de forma evidente numa frase do ex-Reitor Prof. Manuel Assunção: “a UA é o décimo segundo Município da Região de Aveiro”.

Para terminar, gostaríamos que nos falasse das relações e eventuais projectos em parceria com a Universidade de Aveiro, um dos pólos de desenvolvimento do Centro?

Essa relação é de enorme importância estratégica e muito profícua, com trabalho de equipa ao nível do planeamento estratégico, e em especial ao nível da concepção e da execução de projectos, em áreas tão diversas como as novas tecnologias da informação, comunicação e electrónica, o ambiente, a saúde, a educação, a gestão do PCI, entre outras.

A dinâmica das nossas empresas, com uma nota especial para as industriais, vai ter no futuro uma marca forte e sempre moderna, que honra o bom passado e continuará a liderar o processo de geração de riqueza e de emprego cada vez mais qualificado, em ligação à Universidade de Aveiro e agora ao novo instrumento de desenvolvimento que é o PCI.

Aveiro é um exemplo a nível nacional e europeu em termos de cooperação entre a Universidade, os Poderes Públicos Locais e as Empresas Privadas.

O passeio termina no Rossio, porta aberta a uma cidade que se renova a olhos vistos, animada pelo turismo e, sobretudo, pelo reencontro dos seus habitantes com a sua Ria.

 

Por: Bruno Esteves

Foto: CM Aveiro

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