O que é o Arquivo? sessões de cinema e conferências na Cinemateca Portuguesa

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O segundo Laboratório do Ciclo de Encontros O que é O Arquivo? realiza-se nos dias 18, 19 e 20 de abril, a partir das 18h00, na Cinemateca Portuguesa, e é organizado pelo Arquivo Municipal de Lisboa-Videoteca, em parceria com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Três dias com sessões de cinema e mesas redondas, dedicados ao tema das relações entre Cinema e Arquivo e com entrada gratuita (com excepção da sessão de dia 18 de abril, às 21h30, na qual se aplica o preçário habitual da Cinemateca).

Após uma primeira edição, em 2017, dedicada aos cruzamentos entre Arte Contemporânea e Arquivo, este segundo Laboratório – com programação de Inês Sapeta Dias, Joana Ascensão e Susana Nascimento Duarte – tem como objetivo debater as relações que se estabelecem hoje entre as imagens em movimento e os modos do seu arquivamento e as deslocações na forma fílmica que daí decorrem no contexto da criação.

Cada sessão é composta por projeção de filmes seguida das intervenções de cineastas, investigadores, programadores e arquivistas. Os filmes, ponto de partida de cada sessão, permitem enraizar a discussão numa observação do modo como as relações entre Cinema e Arquivo afetam a forma e a prática fílmica. O programa inclui importantes obras como Perfect Film, de Ken Jacobs (1986), A Movie, de Bruce Conner (1958), uma versão de YouTube Trilogy, de James Benning (2010), Arbeiter verlassen die Fabrik, de Harun Farocki (1995), The Pixelated Revolution, de Rabih Mroué (2012), Journal No. 1 – An Artist’s Impression, de Hito Steyerl (2007),Found, Found, Found, de Dirk de Bruyn (2014), Black Code/Code Noir, de Louis Henderson (2015) e Pieces and Love all to Hell, de Dominic Gagnon (2011).

Para o debate, fazem parte do painel de convidados: Eric de Kuyper (cineasta e arquivista), responsável pelo lançamento Bits and Pieces, de que mostrará exemplos, Tiago Baptista (diretor do ANIM), Manuel Mozos (cineasta), Susana de Sousa Dias (cineasta), Christa Blümlinger (investigadora e professora de Cinema e Audiovisual em Paris 8), Jürgen Bock (diretor da Maumaus), Nuno Lisboa (director do Doc’s Kingdom), Inhabitants (artistas), Lara Baladi (fotógrafa e artista multimédia) e Jonathan Beller (professor no Pratt Institute e teórico do cinema), que estará pela primeira vez em Portugal.

Dentro dos temas abordados estão o trabalho com imagens pré-existentes e o paralelismo entre esse trabalho na prática fílmica e nos arquivos do cinema; as práticas arqueológicas que, no cinema, trabalham sobre os campos cegos do arquivo e mostram que este é também feito de buracos, ausências, destruições, esquecimentos; a ação disciplinar da programação e as práticas que operam para a subversão do princípio programático do Arquivo e do Cinema.

No dia 19, realiza-se ainda o lançamento do livro O que é o arquivo? Laboratório 1: Arte / Arquivo, a propósito do primeiro momento O que é o Arquivo?, realizado em 2017, cujo local e hora será anunciado em breve.

PROGRAMA

18 | 19 | 20 ABRIL 2018

18 ABRIL, 4ª feira

18h00 – 21h00 | MESA DE TRABALHO 1. APROPRIAÇÃO

Projeção de:
Perfect Film, Ken Jacobs, 1986, 22’
A Movie, Bruce Conner, 1958, 12’
YouTube Trilogy (versão), James Benning, 2010, 33’
seguida das intervenções de Eric de Kuyper (com projeção de Bits and Pieces), Tiago Baptista e Manuel Mozos

21h30 | Sans Soleil, Chris Marker, 1984, 104’

19 ABRIL, 5ª feira
18h00 – 21h00 | MESA DE TRABALHO 2. ARQUEOLOGIA

Projeção de:
Arbeiter verlassen die Fabrik, Harun Farocki, 1995, 36’
The Pixelated Revolution, Rabih Mroué, 2012, 22’
Journal No. 1 – An Artist’s Impression, Hito Steyerl, 2007, 21’

seguida das intervenções de Susana de Sousa Dias, Christa Blümlinger e Jürgen Bock

21h00 | Lançamento do livro O que é o arquivo? Laboratório 1: Arte / Arquivo, em parceria com a editora Sistema Solar, na livraria Linha de Sombra (na Cinemateca Portuguesa).

20 ABRIL, 6ª feira
18h00 – 21h00 | MESA DE TRABALHO 3. PROGRAMAÇÃO

Projeção de:
Found, Found, Found, Dirk de Bruyn, 2014, 18’
Black Code/Code Noir, Louis Henderson, 2015, 20’
Pieces and Love all to Hell, Dominic Gagnon, 2011, 61’
seguida das intervenções de Nuno Lisboa, Inhabitants (vídeo conferência), Lara Baladi

21h30
Constant – Association pour l’Art et les Médias (vídeo conferência) e Jonathan Beller

O que é o Arquivo? Laboratório 2: Cinema | Arquivo
O ciclo de encontros O que é o Arquivo? organiza-se anualmente através de Laboratórios, encontros de trabalho e de discussão, onde, de cada vez, esta pergunta é colocada a partir de práticas e saberes visuais particulares, e de campos de trabalho e de investigação específicos.

Está hoje em curso um intenso debate sobre as consequências das transformações tecnológicas para a gestão arquivística e para a preservação da memória. A transição para um paradigma digital supõe, no entanto, uma destabilização epistemológica mais profunda, com repercussões que vão além do eventual impacto ao nível da política arquivística. Uma transição que implica a nossa própria relação com os arquivos (pessoais e institucionais) e a sua partilha. É assim a própria noção de Arquivo, nas suas diversas acepções, comuns e especializadas, que é interpelada e de certo modo reconfigurada, quando a realidade do arquivo é literalmente posta em movimento pelo seu devir digital. Seja na sua acepção de coleção de traços do passado, de “conteúdo” de arquivo (documentos e registos propriamente ditos), de estrutura ou ordenação do material de arquivo, a digitalização veio perturbar totalmente a ordem arquivística da qual decorrem as significações desta noção. O que é, então, o Arquivo, hoje?

1. APROPRIAÇÃO
Nesta primeira mesa de trabalho, a proposta é pensar o trabalho de apropriação de imagens confrontando o trabalho desenvolvido nos arquivos do cinema e o trabalho criativo desenvolvido na prática fílmica, uma vez que as “imagens de arquivo” colocam frequentemente questões semelhantes a cineastas e arquivistas – possuem um excesso indexical e uma abertura que conduzem a uma multiplicidade de leituras e significações dependendo dos contextos em que se inserem, que arquivistas procuram classificar, e que cineastas e artistas não cessam de explorar, produzindo com frequência “Contra-Arquivos” que questionam a própria noção de Arquivo.

O impulso arquivístico no cinema é indissociável da sua vocação arqueológica, ou seja, da sua capacidade de nos elucidar sobre o próprio funcionamento do(s) arquivo(s), no sentido de Michel Foucault.

2. ARQUEOLOGA 
A arqueologia é a disciplina que permite a descrição do arquivo, das regras que definem para o nosso tempo o que é dizível e visível, conservado, apropriado, reactivado, mas também o que fica de fora, o que é reativado. Uma prática arqueológica cinematográfica supõe esta capacidade descritiva do cinema, de pelos seus próprios meios servir para inquirir o arquivo audiovisual contemporâneo, ou seja, as imagens-técnicas, incluindo as do próprio cinema, que articulam o que vemos, pensamos e fazemos, através da montagem. Não se trata, pois, de operar a restituição de uma origem absoluta ou mítica para a qual apontam as imagens na sua relação com o mundo, mas de as deixar insinuarem-se como traços mais ou menos obscuros, de um impensado do seu tempo. Dão-se menos pelo que nelas é imediatamente visível do que pelo que nelas se inscreve de uma legibilidade imperceptível. É a sua suposta proveniência que se trata de interrogar e fazer diferir, como modo de assim interpelar a realidade, a história e o presente, ensaiando formas de criticamente as analisar, recompor, fazer colidir, religar e articular. Esta mesa de trabalho organiza-se em torno da arqueologia enquanto prática fílmica que procura evidenciar a riqueza e singularidade de diversos registos audio-visuais, entendidos como documentos a retrabalhar e reescrever, manifestando os contra-campos ausentes das imagens, para fazer ver coisas que não são mostradas, no limite das imagens. Permite também refletir sobre a metamorfose funcional das imagens-técnicas contemporâneas, imagens que sugerem a interatividade e possibilidade de agenciamentos nas plataformas online, nomeadamente de ordem política e ativista, que urge pensar criticamente face ao seu reverso operacional de controlo e vigilância.

3. PROGRAMAÇÃO
Se desde logo é determinante para a definição do Arquivo (de qualquer arquivo), não apenas o que está dentro ou fora dele – sendo essa seleção um reflexo das decisões sobre o que pode ou não ser visto e dito –, mas também o contexto produzido com e para os objetos/documentos arquivados, a programação torna-se um problema fundamental para a definição do Arquivo no seu encontro com o Cinema. Enquanto distribuição num espaço, mas também enquanto ordenação no tempo, a programação é uma função (diagramática, para usar o termo de Gilles Deleuze quando lê Foucault) que trabalha para colocar as imagens a funcionar de determinada maneira e num certo sentido, e que assim define, controla, orienta e dirige o que se vê e como. Trabalho que o algoritmo, série de operações que ordena a circulação das imagens em ambientes digitais, veio radicalizar: sequenciação de imagens fundada no estudo, tratamento e processamento de hábitos de consumo, a programação é hoje uma função que cada vez mais opera para prever, encaixar e manter os espectadores/utilizadores nos seus lugares – o que fará com que Jonathan Beller, numa proposta revolucionária, defina o inconsciente como um produto do cinema. Nesta mesa de trabalho propomos observar e discutir a função disciplinar da programação e dar conta das práticas que, pelos meios disponibilizados pelas tecnologias digitais, procuram subverter o princípio programático do Arquivo e do Cinema, práticas que, fazendo a crítica do Arquivo, estão a criar novos e múltiplos arquivos, mais ou menos informais, todos eles radicais.

ORGANIZAÇÃO Câmara Municipal de Lisboa /Arquivo Municipal de Lisboa / Videoteca
PARCERIA Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema
PROGRAMAÇÃO Inês Sapeta Dias, Joana Ascensão, Susana Nascimento Duarte

ENTRADA LIVRE (mediante levantamento de ingresso) com excepção da sessão de dia 18 de abril, às 21h30, na qual se aplica o preçário habitual da Cinemateca Portuguesa.

Todos os filmes são legendados eletronicamente e as intervenções em língua estrangeira têm tradução simultânea para Português.

INFORMAÇÕES arquivomunicipal.cm-lisboa.pt |www.facebook.com/oqueeoarquivo | tel. 218 170 433 |

www.cinemateca.pt | bilheteira: 213 596 262

Fonte: Helena César

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