NUM VIROTE de Joao cerveira

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NUM VIROTE é o título do seu próximo trabalho literário, editado pela Chiado Editora, Lisboa.

Ora aquém, ora além Tejo, num migrar (in)contrariável de busca e de (des)encontro, o mais é carcela de sonho(s) abotoando-se à(s) vida(s), e esta(s) se não despegando nunca dele(s). E é no ajustamento de um e outro panos que a peça se alinhava, prova e assenta na senha de viver Cava e lança, descava e lança-te…

” _ Longe, tão longe!…

     É. Se perto na’ se me resolve nada, logo tudo se m’ há-de absol…

     (Emenda.) Julgando melhor: se perto na’ se m’ absolve nada, logo longe se me resolverá tudo. Mas tudo, mesmo.

   Suspira e (ex)clama…

   Em puto palhaço, depois equilibrista; (E jura.) vin-ci-tu-ro doravante. O clangor dos acontecimentos, o tinir d’ Ipiranga, a independência autêntica, custe lá o que, a quem custar, fixado longe, muito, muito longe. (…)

   Pego de pequeno. Frente a frente, olhos nos olhos, sem truques nem artimanhas. Toiros bravos com casta, mansos imprevisíveis e, ainda assim, porque (me) não pegaria eu nunca (a)o demais, porquê!…

   Cerra os olhos querendo dar-se (ao) tempo e com isso clarear(se), clarificando…

    Cava e lança, descava e lança-te

    Cuida, cuida-te e colhe

    Disso (des)coberta(o), pão, usucapião.

    Caso não, afianço que tolhe(mos).

    Letra miúda, deitada, desenhada como só os aparos sabem, a preto, sem pontinha de borrão nem emendas. Adesivo aos quatro cantos do papel costaneiro amarelecido do sol. Pardo, seco, assim o carapau pela marginal da Nazaré, os montões de jornais, livros, livrecos e revistas no meu sótão, a mão mal cheia de retratos de menino por entre o negro da cartolina e o frágil do vegetal baço.

    Roda e acocora-se no peitoril ao longo da montra de velha loja, a sentar-se. Perna direita traçada firma-lhe o trespasse do casaco sobre o peito. Saca daí caixinha em lata dividida em duas, de arrumação de mortalha e do tabaco enrolado nela com vigor-vagar e cuspe.

    _ Olhe, desculpe, é de cá?

    _ Não, não, de passagem; à procura… 

       (Rem(e)ata) para si.) Enquanto durar.

    _ Logo vi., e sorri. “

João Cerveira (Lobito, Angola, 1960) é filho e neto de beirões das margens do Dão. Docente, desde 1984 que reside em São Pedro do Sul, de se haver enamorado pela magnificência das Serras da Arada e da Gralheira. Palavrador inveterado, formador na área das Expressões, assegura-nos que é através delas que 

CRESCEMOS, 

(nos) DESENVOLVEMOS 

e (nos) SURPREENCANTAMOS. 

E remata: é, porventura, o mais elevado estado de viver.

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