Esta BICA é dedicada ao Cinema. O Cinema que, aos 4 anos, enfeitiçou de tal forma Manuel Mozos, o realizador, actor, montador, assistente de realização, arquivista e técnico de restauro e recuperação de película, que o levou a abandonar o Curso de História, para se dedicar a contar-nos as estórias “que não podiam ficar por contar”, como nos explica numa entrevista que nos abre as portas à arte que Fellini definiu como “o modo divino de contar a vida.”
É, pois, desse “fluxo constante de sonho”, que falamos nesta edição. E se, de repente, fechados em casa, recuperássemos essa ousadia de sonhar? Sonhar ser super-heróis, ou índios, ou cowboys, ou escritores, ou simplesmente, septuagenários à beira da reforma, ansiosos por reencontrar o amor das nossas vidas, como se aventurou Miguel Lobo Antunes, ao aceitar o desafio de ser o protagonista do filme de João Nicolau, Technoboss, como nos conta, numa longa conversa em sua casa, no tempo em que ainda nos era permitido visitarmo-nos. Um tempo em que João Bénard da Costa era “muito lá de casa” e nos ensinou, com os seus textos, a ver o Cinema com outros olhos. Por isso, com a colaboração da Cinemateca, recuperámos uma das suas mais emblemáticas crónicas, da mesma forma que decidimos publicar a introdução do livro “Os Filmes da Minha Vida”, de François Truffaut. E é, exactamente, sobre os filmes das suas vidas que nos escrevem a Joana Bertholo, o Pedro Boucherie Mendes, o Víctor Cunha e a Patrícia Castello Branco. Já o João Albuquerque Carreiras e o Paulo Batista decidiram revisitar os “cinemas” das suas vidas. Convidámos o José Manuel Costa, a revelar-nos a sua ideia de Cinemateca e António Preto a escrever sobre o nosso Cineasta Maior, Manoel de Oliveira. Desafiámos, ainda, o Professor Carlos Fiolhais a escrever sobre a ligação entre Cinema e Ciência e o João Pedro Costa a explicar-nos o modo como a 7ª Arte mudou a vida de alguns destinos turísticos. A Vanessa Pires de Almeida, partindo do filme “Sono de Inverno”, de Nuri Bilge Ceylan, reflecte sobre a ligação íntima entre Cinema e Arquitectura. E, porque há textos que valem uma revista, aconselhamos a leitura da Crónica do Pedro Santos Guerreiro, “No futuro é que era bom”. Não se irão arrepender.
NOTA – Esta BICA sairá, pela primeira vez, online, sem previsão de lançamento da sua edição física, mas com a promessa de que, mal nos seja possível, a distribuiremos em papel, nos locais habituais. Nestes tempos de excepção, decidimos, excepcionalmente, oferecer, aos nossos leitores uma BICA maior, na edição virtual. Esperemos que gostem.
Revista Bica