Na Europa, somos portugueses, fora da Europa, somos europeus.
Na Europa, passeando pelas ruas de Paris, Berlim, Londres, Madrid, Bruxelas, Atenas, Roma, Estocolmo ou Amesterdão, sinto-me “em casa”, experimento uma sensação de pertença. Não sou completamente dali, mas sou dali. Até em Varsóvia, Praga, Budapeste ou Belgrado, um europeu sente-se sempre perto de casa, senão em casa.
Por aquelas ruas, naqueles edifícios, está sempre algo da nossa história comum, da herança cultural partilhada que nos identifica enquanto povos. É na história e na cultura que mais nos identificamos com os nossos vizinhos europeus. E essa história, e essa cultura, influenciam um certo “modo de estar” e de ser europeu. Obviamente há, entre os incrivelmente diversos povos europeus, muitas diferenças.
Um país que tenha recebido uma enorme influência latina – grosso modo, os países do Sul da Europa – é diferente, as suas pessoas são diferentes, de um país do Norte. Nota-se em muitos aspectos, sobretudo na maneira de ser e de estar. Mas de todas as viagens que fiz – e tenho o privilégio de poder dizer que já são incontáveis – descubro que os europeus têm muito mais em comum do que à partida se imagina. E o projecto da CEE, agora União Europeia, veio intensificar essa proximidade entre os europeus.
Na Europa, sinto-me em casa, como em nenhum outro lado.
É verdade que, em África, nos países de língua portuguesa, sentimo-nos também em casa, como se pertencêssemos aquele lugar. Mas não é a mesma coisa, apesar de toda a afectividade que se sente, de tanta história comum. É como se estivéssemos em casa, sim, mas no jardim, em vez de estarmos no conforto do interior. Não sei como explicar melhor, é um pouco isto que sinto de cada vez que vou aos países africanos de língua portuguesa. Note-se, evidentemente, que o jardim é uma das partes da casa em que mais gosto de estar.
Na Ásia – onde vivi uns anos e viajei bastante, nas Américas – com destaque para os dois grandes países, Estados Unidos da América a Norte, Brasil a Sul, que são os que conheço melhor – sinto-me completamente… Europeu. E sei que me olham como europeu, ainda por cima de um país “estranho”, Portugal, que os brasileiros obviamente sabem perfeitamente o que é, mas os outros povos nem por isso. Os portugueses têm uma particularidade em relação aos restantes europeus: somos o povo que não se conteve no seu país nem se limitou a erguer colónias. Somos o povo europeu do mundo, os primeiros inventores da globalização, os que foram a todo o lado, com ganas de mundo, e em todo o lado deixaram marcas.
Isso faz-nos um pouco menos europeus aos olhos dos “outros”, somos mais próximos, somos mais “lá de casa”. Mas tudo isso é também história. Para as novas gerações de portugueses, para este Portugal democrático e totalmente embrenhado na União Europeia, seremos sempre portugueses primeiro, mas a nossa casa é cada vez mais a Europa.
E quem descobre Portugal, hoje em dia tão na moda, percebe isso facilmente. Aqui é Europa. E os portugueses que viajam e conhecem o mundo, percebem também de imediato. Somos portugueses na Europa, somos europeus no mundo.
André Serpa Soares