Música de génio em tempos sombrios

“Obrigado aos meus seguidores pelo apoio e lealdade durante todos estes anos. Esta é uma canção inédita que gravámos faz algum tempo e que pode ser interessante para vocês. Mantenham-se a salvo, fiquem atentos e que Deus esteja convosco”.

Foi com esta breve frase que Bob Dylan apresentou, na sua conta no Twitter, o seu novo tema inédito “Murder Most Foul”, uma das suas mais geniais criações musicais e poéticas. Durante quase 17 (!!!) minutos, Dylan conta, mais do que canta, de forma extraordinária, uma história dramática de declínio do Mundo Ocidental, tendo como ponto de partida o dia 22 de Novembro de 1963, data de assassinato de John F. Kennedy.

“It was a dark day in Dallas, November ’63 / A day that will live on in infamy / President Kennedy was a-ridin’ high / Good day to be livin’ and a good day to die”.

Apresentada ao mundo em dias sombrios, de clausura e medo, “Murder Most Foul”, inscreve-se, não tenho dúvidas, no núcleo duro das mais belas canções de Dylan, ombreando com temas como “Like a Rolling Stone”, “Sad-Eyed Lady of the Lowlands”, “Simple Twist of Fate”, “Rollin’and Tumblin’”ou “With God on Our Side”.

“Freedom, oh freedom, freedom over me / I hate to tell you, mister, but only dead men are free / Send me some lovin’, then tell me no lie”, desafia Dylan, num dos mais belos trechos desta canção densa e sombria, carregada de uma atmosfera que nos transporta para as sonoridades de Cohen e, embora possa parecer estranho, de Nick Cave.

Num ambiente profundamente bluesy, marcado por uma ligação perfeita entre cordas e percussão, tão suaves que apenas ajudam a realçar o piano e, sobretudo, a voz de Dylan, “Murder Most Foul” é um dos mais belos presentes que o Prémio Nobel da Literatura podia ter oferecido a um Mundo em busca de normalidade.

“Throw the gun in the gutter and walk on by/ Wake up, little Susie, let’s go for a drive / Cross the Trinity River, let’s keep hope alive”

Thank you Mr. Dylan

Por João Moreira