MO&MOA FREEDOM

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A história de um casal aventureiro de Florianópolis, que largou tudo para viver a vida em um veleiro. Nos conhecemos em Floripa em 2014 e Andreas já tinha o sonho de viver a bordo de um veleiro. Andreas, dentista, 41 anos, trabalhava 8h por dia em vários consultórios e eu, Fernanda, 32 anos, bióloga, trabalhava como pesquisadora em uma empresa de biotecnologia e depois em uma farmacêutica.

Tínhamos uma vida estável, casa própria, carros, bons empregos, morávamos num lugar incrível perto do mar, mas já cansados daquela rotina massacrante de trabalhar para pagar contas, de horas no trânsito para poder chegar em casa, tendo apenas 30 dias de férias para poder realmente viajar e conhecer algo diferente, decidimos mudar o rumo de nossas vidas. Dessa forma, embarquei no sonho do Andreas, afinal, amava o mar, a natureza, e viver livre seria uma grande realização. Baixamos a cabeça e trabalhamos duro por 3 anos a fim de juntarmos dinheiro e irmos embora do país para comprar um Catamarã a vela e morarmos a bordo. Durante este período compramos um veleirinho para irmos nos acostumando com o balanço do mar, Andreas fez as provas para mestre e capitão amador e aos poucos fomos ganhando experiência no mundo da vela.

No final de 2017, resolvemos seguir os nossos corações e vendemos tudo, carros, apartamentos, nosso pequeno veleirinho, pedimos demissão e criamos coragem de soltar as amarras de vez. Não podíamos mais adiar esse desejo tão forte de viver a vela, de viver a bordo, de viver o mar e sermos livres – freedom. E em meio a muitas críticas da família e amigos, que nos chamavam de loucos: imagina largar tudo? nossa estabilidade, nossos empregos e arriscar-se vivendo num veleiro no meio do oceano?! Mas o desejo de sair da nossa zona de conforto e realmente viver a vida, gritava mais alto, jogamos tudo para o alto e saímos do nosso país para comprar um catamarã a vela no México. Fomos para Guaymas, uma cidadezinha no deserto de Sonora, que nada tem, banhada pelo maravilhoso Mar de Cortez, onde encontramos um catamarã de 35 pés exatamente como queríamos. Com 4 cabines, 2 banheiros, uma ampla sala e cozinha com vista de 360 graus para o mar. Ele tinha um ótimo espaço externo e um cockpit incrível para reunir os amigos e trabalhar com charter (recebendo as pessoas para viver essa experiência conosco). Assim, arregaçamos as mangas e no meio de poeira e muito calor, reformamos todo o veleiro – uma trabalheira – viajamos de ônibus num bate volta para os EUA comprar algumas coisas para o barco,

mas tudo era uma aventura para nós, afinal, estávamos livres. Queríamos finalizar o mais rápido possível e colocá-lo na água, e em 1 mês estava tudo resolvido. Tudo pronto, ficamos por 3 meses nos aventurando pela Baja Califórnia, precisávamos pegar o jeito do barco e foram dias incríveis, de muitos aprendizados, medos e superação, afinal, tudo era novo para gente, o catamarã era grande perto do nosso outro veleirinho e tudo muito diferente. A cada dia íamos nos familiarizando com a vida no mar, conhecendo a fundo os lugares, mergulhando, pegando muitos peixes, dormindo a luz das estrelas, velejando com golfinhos, curtindo pores do sol inesquecíveis, passando a valorizar ainda mais as pequenas coisas e os gestos mais simples. Estávamos felizes realizando o nosso grande sonho, e as vezes nos beliscávamos para ver se era mesmo verdade tudo aquilo. Íamos percebendo a natureza e o quanto regia as nossas vidas, era ela que determinava quando e para onde íamos o tempo todo, as vezes mares calmos outros nem tanto, oras dormindo em águas paradas, oras num balanço sem fim. O ouvido já ia ficando sensível aos pequenos ruídos, e uma simples brisa já nos despertava no meio da noite. Ao mesmo tempo, fomos percebendo que a vida a bordo não era para qualquer um, exigia muito esforço, o tempo todo tinha que arrumar uma coisa ou outra que não funcionava mais direito, conviver com alguns apuros, como a adrenalina de ver sua âncora soltando no meio de uma ventania, e percebemos que a liberdade de ir e vir não dependia só de nós, o clima, a intensidade dos ventos, das ondulações eram que ditavam os nossos planos. As vezes tínhamos que ficar semanas num mesmo lugar aguardando melhorar o tempo para seguir. E foi assim que decidimos que a nossa vida iria mudar novamente.

Avaliamos muito e decidimos que queríamos ainda mais liberdade, poder pensar: quero ir para tal lugar, e logo estar lá; e então, tomamos a decisão de vender o barco e recomeçar. Que loucura!

Muitos pensaram novamente, como assim? Largaram tudo e investiram num barco e agora não querem mais? Sim, isso mesmo! Aprendemos a sermos desapegados e se não era o que imaginávamos, não fazia sentido continuarmos por comodidade ou medo. Assim, a época de furacões no Pacífico começou, e para nosso desespero, o segundo da temporada veio em nossa direção, talvez chegasse até onde estávamos com o barco, mas não queríamos pagar para ver. Em uma semana decidimos tirar o veleiro da água, e o levamos para a marina seca. Mais uma vez o clima determinava o nosso destino. Resolvemos imediatamente deixar o barco a venda no México e por segurança sair de perto dos furacões.

O próximo passo foi realizar outro sonho, conhecer o Caribe. Embarcamos para as Ilhas ABCs, fora da rota de furacões, primeiro para Aruba, depois Bonaire e Curaçao. Nos demos um tempo para reprogramar nossos planos naquele paraíso. Recarregamos nossas energias com fabulosos pores do sol em Aruba e realizando mergulhos inesquecíveis em Bonaire. Então, com a mente leve, decidimos voltar para o Brasil e aguardar a venda do barco, seria a melhor estratégia de fazer o nosso dinheiro render, já que o dólar estava bem em alta em relação ao real. Embarcamos em Curaçao, paramos um dia no Panamá para umas comprinhas, e o destino final foi a Bahia, ainda queríamos lugares quentes e com praias lindas, infelizmente chegamos no inverno no Brasil, e matar as saudades da família que vive no sul – no frio – ficou inviável naquele momento. Não aguentaríamos voltar para o frio e nem roupas quentes tínhamos mais. Quando decidimos sair de Floripa, estávamos decididos a não termos mais invernos frios em nossas vidas. Chegamos de surpresa no nosso país, família e amigos ficaram felizes com o nosso retorno, apesar de apreensivos com as mudanças nos planos. Ninguém entendia direito o que passava nas nossas cabeças, e muitos se perguntavam: como ainda tínhamos dinheiro sem trabalhar e ainda aproveitando tanto? Pois é, essa foi uma grande sacada nossa, quando o dólar ainda estava sendo vendido à um preço mais acessível, vendemos logo tudo e fomos enviando dinheiro aos poucos para uma conta que abrimos a distância nos EUA, agora, depois de 6 meses, vivendo todas essas aventuras, passando pelo México, EUA, Aruba, Bonaire, Curaçao e Panamá, voltamos para o Brasil com o dólar nas alturas, e só com isso, conseguimos recuperar toda a grana que havíamos levado e ainda conseguir lucrar um pouco em cima. Era fantástico, tivemos muita sorte e a situação ruim no nosso país acabou nos ajudando e nos fortalecendo, assim, podíamos voltar tranquilos e repensar a vida com calma.

Queríamos continuar vivendo a vida, tendo nossa liberdade, e encontramos na Bahia um lugar fantástico para planejar e traçar os novos planos em meio a praias lindas, de areia branca e muitos coqueiros. Como a ideia de morar em um veleiro não caiu muito bem para nós, precisávamos repensar tudo, afinal, com um barco tudo ficava mais fácil para ficarmos lá fora. Quando o visto de permanência acabava, era só seguir velejando, o barco era o nosso meio de locomoção, nossa casa, e seria o nosso trabalho, já que pensávamos em fazer charter com o veleiro. Sem isso, tudo ficou mais difícil, teríamos que tentar um visto de residente em algum país, entrar com documentação para permissão de trabalho a fim de ganhar dinheiro de alguma forma (nosso dinheiro não iria durar para sempre). Ao mesmo tempo, não queríamos mais ter um trabalho convencional, ficar 8h trancados, trabalhando para alguém. Então, a decisão de voltar para o Brasil foi a nossa melhor opção, lá podíamos ficar sem stress de visto e nosso dinheiro renderia mais até vendermos o veleiro e realizar um outro sonho – ter o nosso próprio negócio, algo que nos desse prazer, mas não tirasse a nossa liberdade. O que viria pela frente? Ainda não sabíamos, disso a vida e o universo se encarregariam, vivemos o presente, um dia de cada vez… e se for para melhor, que venha.

Nosso espírito aventureiro e corajoso agora grita dentro da gente, a adrenalina que sentimos ao realizar um sonho é tanta, que queremos mais e mais, assim, nos permitimos sonhar, mas ousamos ainda mais realizar – esse é o nosso maior triunfo no momento.

 

 

 

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