Marinho Ponci

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Retrato de um Brasileiro do Porto para o Mundo

 

Mario Ponci Neto, conhecido como Marinho Ponci, 50 anos, brasileiro a viver no Porto. A família Ponci mudou-se para lá em 2016 em busca de um luxo que neste momento não se encontra no Brasil: “a segurança e a tranquilidade de poder sair para trabalhar sabendo que a família está bem”. Este movimento para o norte de Portugal afigura-se como uma tendência. Dizem os brasileiros, que o Porto, Braga ou Guimarães, correspondem a uma ideia romântica que tinham de Portugal. A contribuir também para isso a qualidade de vida e os preços das casas incomparavelmente mais baixos que os de Lisboa.

No Brasil o Marinho Ponci é uma figura conhecida, principalmente pelo seu trabalho como Diretor de Expansão da icónica marca Chilli Beans, pelas palestras que dá na área de franchising, mas, também como músico. Cofundador e guitarrista da Reverendo Franklin, «fizemos o Rock in Rio, fizemos o Bourbon Festival, Parati, junto com milhões de bandas em New Orleans, só lugares bacanas. Somos doze no palco, com metais e tudo mais, agora com essa minha vinda pra cá a minha banda na verdade ficou um pouco no Brasil». Uma banda que se apresenta como Soul, mas que nos presenteia com swing, arranjos de metais, teclados e vozes poderosas, todas femininas. Planeia refazê- -la cá, mas com uma outra abordagem «com um conceito muito mais legal, com uma menina que canta na rua com um violão, ela é disruptiva e tem uma voz incrível. Já tenho um guitarrista chegando do Brasil, já tenho um baixista, então vamos começar a lapidar isso tudo p’ra poder lançar no ano que vem.»

A isso junta-se a imagem muito única e pessoal deste homem que chegou a Portugal há somente dois anos mas que também aqui já marcou presença. É parado na rua por pessoas que o reconhecem pelos vídeos onde conta da sua experiência em Portugal – «hei, você não é aquele brasileiro que tem um canal no youtube? Cara, vi todos os seus vídeos antes de me mudar!» – neles partilha a experiência da mudança, de como se (re)começa num outro continente, entre outros conselhos e assuntos de quem já passou e ainda está ou irá passar por isso. Nas palestras e em todas as outras participações públicas, o Marinho fala como que com os amigos, e isso inclui palavrões e opiniões que a maior parte de nós calaria. Fala tudo o que lhe apetece, de modo que as caixas de comentários estão também inundadas de comentários de pessoas mais “sensíveis”. No entanto, a grande maioria elogia o seu despretensiosismo, «Até agora os comentários e informações sobre Portugal, vindas de um Brasileiro, mais verdadeiros e reais que eu assisti», pode ler-se num dos inúmeros comentários.

Desde que chegou trabalha como mentor na internacionalização de marcas e tornouse recentemente empresário de uma marca de franchising, como sócio e diretor, com o convite de uns amigos de longa data, proprietários da Magic Bavarian Nuts no Brasil. Este projeto ambicioso que começou recentemente no Porto tens planos de expansão para toda a Europa.

Descreve-se como um músico que “virou” executivo «sou filho de pai Italiano nascido no Brasil e sempre sonhei ser músico», e vive uma dualidade que os anos lhe ensinaram ser complementar. «É engraçado. Sempre deixo a vida ir-me mostrando as coisas e fico prestando atenção nela» termina.

E, no entanto, é executivo há trinta anos. «Sabe, sou um cara que tem que estar apaixonado. E, acreditando num projeto, me atiro, eu me jogo. Então há muitos anos que estou neste papel e há muitos anos que faço isso com uma paixão tremenda, tremenda!”

Em Portugal procura encontrar o equilíbrio que não conseguia ter no Brasil «é preciso tempo para tudo. Você tem que ter tempo para fazer tudo o que você ama na sua vida. Se você ama a música, se você ama o futebol, não importa o que você ama, naquele tempo você tem que estar a 100%. E tem de saber desligar! Você não pode estar tocando preocupado em controlar se o seu filho está bem, ou se chegou a casa… Você tem que saber desligar e se conectar. Você tem que ter o tempo para essas coisas na sua vida, porque se descompensa uma delas, acabas culpando o que mais te rouba tempo e aí passas a vida a reclamar”.

Essa descompensação fez com que não estivesse «realmente presente» no crescimento da filha mais velha. É que essa vida mais materialista de trocar o tempo em família pelo alto salário a deixou em segundo plano. «A primeira coisa que coloquei na minha cabeça foi: eu não quero trazer o Brasil para Portugal, eu quero viver Portugal.”

O que se ganha em Portugal é bastante inferior ao que um executivo como ele ganharia em São Paulo, mas o que ganha por viver em terras lusas é «infinitamente maior do que estou perdendo. O que eu estou perdendo são coisas, talvez materiais, porque saí de um país onde se ganha muito bem. [Onde] tinha uma posição muito boa, morava numa casa de 700, 600 m2 e tudo mais. Mas não vi a minha filha mais velha crescer».

Já aqui, com casas (muito) mais pequenas e maior presença junto da família descobriu o que é realmente ser «um homem no meio de 3 mulheres e uma cachorra. É calcinha para todo o lado, entendeu? É TPM mais não sei o quê, o que para nós homens pode ser irritante e por isso reclamo muito, mas no final até que é engraçado», ri-se.

Gosta de todo tipo de musica «desde que seja boa», diz, e odeia Samba, ou odeia as variações do Samba, «o que eu não gosto é daquele samba que vocês começam a falar isso é samba Rock, samba não sei o quê. Não tem como casar Samba com Rock, é como eu casar com uma zebra, entendeu?».

Na sua opinião a ânsia de tentar reproduzir a vida de brasileiro, tal como procurar restaurantes brasileiros, não faz sentido até porque para encontrar comida e vida brasileira no verdadeiro sentido da palavra teria de o fazer na Amazónia profunda, «no Brasil você não vai muito a restaurantes brasileiros. Você vai a árabes, vai a chineses, vai a japoneses, vai a italianos, quer dizer, o Brasil é tão grande, é tão… é tão tudo!».

Apaixonado confesso por Portugal, país de que já fala como seu, diz que a mudança foi a coisa mais certa que fez na vida, “gosto das pessoas, gosto do modo como me relaciono, gosto das oportunidades, acho que Portugal é um país riquíssimo”. Ainda assim, aponta que o país e as pessoas se deviam “vender” melhor para o mundo “nós temos um país maravilhoso, onde eu moro tem o rio, tenho praia perto, estou a uma hora-e-pouco de Espanha, tenho tudo o que possa querer aqui tão próximo.»

«E sim, a cidade é minha! A cidade é minha e é engraçado, quando estou voltando (depois de um fim de semana, ou de um final de semana com reuniões fora de Porto) tenho a sensação de estar voltando p’ra minha casa.» Para esse Porto de contrastes «riquíssimos» entre o novo e o antigo. O cuidado e o carinho com que se restaura um edifício, o custo dessas obras de revitalização são uma recente descoberta que Marinho valoriza muito «eles estão segurando história, isso é maravilhoso! Sabe, você “pega” [vê] as casas que já estão revitalizadas, andando pela Rua das Flores, cheio de flores, [com] os azulejos… tudo bem limpinho, bem brilhando, é como entrar numa casa de boneca. É demais, adoro isso!»

 

por: Marta Gonzaga

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