ITAMAR VIEIRA JÚNIOR – PRÉMIO LEYA 2018

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“Foi assim que cheguei a um lugar, um lugar muito quieto, muito sereno, um lugar sem cercas, sem casas, um lugar com árvores secas, mas um lugar, com bichos andando soltos, com a serra ao seu redor, com um monte no seu centro, fui erguendo de mim mesma uma vontade, como se fosse uma montanha, ia erguendo de mim mesma, ia serenando coisas boas, meus pés estavam dormentes, minha pele tinha muitas feridas, meu cabelo carregava o barro do mundo por onde passei, mas erguia em mim uma vontade muito bonita…”

Itamar Vieira Júnior – Excerto de “A Oração do Carrasco”, Edição Mondrongo, 2017

Itamar Vieira Júnior, 39 anos, tem um rosto de menino e uma timidez que denuncia o ligeiro desconforto diante do, ainda, surpreendente anúncio da conquista do Prémio Leya, deste ano, com “Torto Arado”, um romance de formação que conta a história de duas irmãs no interior do sertão baiano. 

Encontramo-nos em Copacabana, no dia seguinte à vitória de Jair Bolsonaro, na segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, e, enquanto caminhamos pelo calçadão, Itamar não esconde o desagrado pela actual situação política do Brasil. – “Vamos iniciar um período muito difícil, no qual será necessária uma enorme mobilização de todos os democratas, em torno da defesa da Constituição e dos direitos conquistados nas últimas décadas.” 

O vencedor do Prémio Leya fala como se cantasse, com uma voz doce e cadenciada, sem grandes inflexões, mas com uma determinação contagiante. É como se estivéssemos a ouvir João Gilberto cantando “Chega de Saudade”, ou não fosse também ele baiano. 

Itamar está no Rio de Janeiro para receber o Prémio Humberto de Campos, da União Brasileira de Escritores, pelo seu livro de contos “A Oração do Carrasco”. Finalista do mais cobiçado prémio literário brasileiro, o Jabuti, aceitou conversar, a propósito do seu inédito romance “Torto Arado”, dos dramas das comunidades quilombolas e da actual situação política do Brasil.

Foi uma surpresa, que “Torto Arado” fosse o vencedor do Prémio Leya?

Foi uma grande surpresa, porque se trata de um prémio internacional. O prémio mais importante da língua portuguesa para um livro inédito, com ampla cobertura em todos os países onde se fala português. Eu concorri e ganhei. E isso deixou-me mesmo surpreso, porque a gente concorre como quem decide apostar na loteria. Digo isso, não por não acreditar no meu trabalho, mas pela qualidade dos trabalhos que o prémio recebe. Como é um prémio com alto valor monetário, recebe escritores de renome, que concorrem anonimamente. Então, esse é, também, um motivo de orgulho para mim, e de surpresa.

Acha que este prémio vai mudar a sua vida, no sentido de permitir uma dedicação exclusiva à escrita?

Esse é o meu grande projecto. Penso que o prémio dá uma visibilidade única ao escritor. Monetariamente é importante, porque permite uma liberdade que você nunca teria, mas é um prémio que, sobretudo, dá projecção e abre portas à publicação, nos países de expressão portuguesa, e a traduções. Falo isso pelo que conheço do histórico do Prémio Leya. (risos).

Essa tranquilidade é importante para a sua escrita?

Muito importante. Para você ter uma ideia, tinha um projecto para iniciar em Agosto, um novo trabalho, que já investigo há muito tempo, e que tive de adiar por causa desse período bem conturbado, que exigiu de nós, cidadãos brasileiros, uma grande mobilização. Era um ambiente impraticável para qualquer actividade intelectual. Por isso, só agora, vou retomar esse projecto. 

Vamos falar um pouco sobre “Torto Arado”. O facto de ser doutorado em Antropologia foi importante para a criação da ambiência do romance e para a intensidade que coloca nas personagens, em particular nas duas irmãs que, de certa forma, representam todo o sofrimento da mulher nordestina do meio rural?

Foi muito importante. No ano passado, eu defendi uma tese de doutoramento, que é uma etnografia sobre uma comunidade quilombola, do interior do sertão da Bahia. Enquanto escrevia essa tese, e você vai escrevendo numa linguagem académica, científica, que tem uma série de travas e limitações, fui imaginando-a como se pudesse ser literatura, que é a minha grande paixão. Embora a linguagem, académica e científica, seja importante em determinados contextos, a literatura tem uma forma de comunicar que é universal. Dificilmente um matemático vai ler um texto antropológico com a empatia com que lerá um texto literário. É difícil conciliar…

Embora o Brasil tenha alguma tradição nessa conciliação. Darcy Ribeiro, por exemplo.

É verdade. Mas a literatura te dá uma liberdade diferente. (Sorriso rasgado).

Sabe, eu já acalento esse projecto há muito tempo, há mais de vinte anos, mas não tinha maturidade para escrevê-lo.

Isso é tanto mais curioso quanto uma das notas realçadas pelo júri, na atribuição do prémio, a surpresa de um romance com esta densidade ser escrito por alguém tão novo.

(Risos). Essa maturidade foi chegando com a minha pesquisa. O núcleo duro da história foi imaginado há vinte anos, inspirado nos grandes romances regionalistas de autores brasileiros, como Guimarães Rosa, Jorge Amado, Rachel de Queiroz…

…Raduan Nassar.

“Lavoura Arcaica” é, para mim, o grande romance do século XX, do Brasil. Inclusive, em “Torto Arado”, a epígrafe do livro é um trecho de “Lavoura Arcaica”. 

Então, eu tinha essa vontade de escrever o romance, mas não tinha maturidade. E foi a minha experiência de trabalho no campo brasileiro, durante os últimos doze anos, que me deu o arsenal que eu precisava para efectivar esse projecto. A etnografia, dentro da antropologia, é um campo que se aproxima muito da literatura. Porque a forma como você escreve, como você narra a vida daquelas pessoas, vai dar-te a possibilidade de alcançar um nível de apresentação que demanda muito do autor, algum conhecimento de literatura, de como apresentar um texto, de como contar uma história. Então, durante essa pesquisa, o livro surgiu naturalmente, e, embora sendo um trabalho de ficção, aquelas experiências de vida, que fui presenciando e acompanhando, foram acrescentando à minha história. A forma como eles vivem, o valor que a terra tem para eles, o valor que o trabalho tem para eles, os dramas que as comunidades rurais no Brasil ainda enfrentam, com a espoliação dos seus territórios em pleno século XXI… Após o impeachment de Dilma houve uma escalada na violência, no campo brasileiro, e eu vi lideranças, que conhecia, morrerem assassinadas. Um dos que mais me chocou foi o assassinato de Binho do Quilombo, em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, por conta de conflitos de terras, uma semana depois de uma reunião que teve comigo. O Brasil tem uma dívida histórica para com a população negra. Quando foi editada a Lei Áurea, não foram dadas as condições necessárias para que os negros libertados garantissem a sua subsistência. Então, sem terra e sem trabalho, muitos deles permaneceram escravos ou viraram errantes. “Torto Arado” fala sobre isso. Sobre uma população que vai permanecer na fazenda e que, em pleno século XXI, ainda permanece cativa, em regime de servidão, e que realmente tem uma necessidade de transgredir, de tomar as coisas que lhe são de direito. 

A Constituição de 1988 é uma constituição muito avançada para o tempo que hoje vivemos. E nela está previsto que toda a terra destinada às comunidades indígenas, às comunidades quilombolas, lhes é de direito, e cabe ao Estado, apenas, fazer a regularização fundiária. Isso nunca foi feito. Avançámos muito pouco em relação aos direitos dessas populações, que continuam a sofrer e a viver em condições de extrema desigualdade. 

“Torto Arado” é um romance de formação, porque vai da infância à maturidade, e é protagonizado por duas irmãs que moram numa fazenda, em regime de servidão, e, com a sua vivência, vão aprendendo a transgredir. 

A estrutura do romance estava pensada desde o início, ou foi evoluindo à medida que foi escrevendo?

O núcleo principal, a história das duas irmãs e a relação que elas têm com o pai, sempre existiu, mas a estrutura só amadureceu há pouco tempo, à medida que fui escrevendo. Quando comecei, não tinha, ainda, a estrutura que esse romance iria tomar. Só sabia o que queria narrar.

Fale-nos um pouco sobre essas duas irmãs, sobretudo sobre esse olhar feminino e sobre o que representou e representa “ser mulher” no interior do sertão baiano.

Eu sou homem e vivo numa sociedade patriarcal, mas fui criado numa família em que as mulheres têm o protagonismo. 

Eu diria que em toda a Bahia.

Verdade. Em toda a Bahia. A gente tem uma experiência maravilhosa de Ruth Landes, uma etnóloga americana que chegou a Salvador, na década de 40, e ficou deslumbrada com o poder que as mulheres tinham na Bahia. Ela fez um trabalho sobre os candomblés baianos, e no livro dela, que se chama “A Cidade das Mulheres”, fala da relação de poder que as mulheres estabeleceram dentro do candomblé, dentro da família, dentro da sociedade. Eu cresci numa família de mulheres fortes, que, mesmo assim, eram vítimas da sociedade patriarcal. Muitas delas sofriam violência dos maridos, muitas delas sofriam violência no trabalho, e não tinha como ser diferente. E aquilo tudo, desde a minha infância, sempre me machucou, sempre me provocou emoção, me instigou a falar sobre isso. Então, esse núcleo da trama do romance pode dizer-se que vem da minha infância. Claro que foi ganhando profundidade e complexidade, porque assim como eu me apercebi do sofrimento das mulheres da minha família, ao longo desses doze anos de trabalho no campo, fui encontrando mulheres que vivem em situações muito mais adversas, em situações de extrema pobreza. E o poder que elas têm de liderança, de capacidade de mobilização, de capacidade de transformação, é uma coisa admirável. Essa pesquisa forneceu-me elementos incríveis para escrever um romance forte sobre esse tema. É curioso, porque eu li nas notícias que o júri tinha uma dúvida, sobre se quem tinha escrito o romance era um homem ou uma mulher. E quando eu escolhi o pseudónimo, que era a inicial de um nome, com o sobrenome Terra, A. Terra, eu tinha isso em mente. Na verdade, eu queria que essa dúvida existisse. 

E resultou.

Resultou. (Risos). O livro foi escrito na primeira pessoa. A primeira parte, narrada por uma irmã, a segunda parte, narrada pela outra irmã, e a terceira parte é narrada por um espírito que atravessou os séculos de escravidão e servidão no Brasil. E deve ter sido esse facto, de quase todo o livro ter sido escrito na primeira pessoa, que causou a dúvida no júri. 

Mas o facto do olhar ser bastante feminino, ser o olhar da mulher baiana, pesou ainda mais.  

Isso foi algo que eu fiz com muita tranquilidade, porque a antropologia nos dá essa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Então, a gente tenta entender o mundo, não pelos nossos olhos, mas pelos olhos do outro, pelos olhos do quilombola, pelos olhos do indígena. O trabalho da etnografia é esse, ? E eu pensei: que maravilhoso, se a literatura puder dar esses olhos às pessoas para entenderem o mundo, a partir das personagens. (Quase emocionado). Foi isso que tentei, e acho que o Prémio Leya veio corroborar que acabei conseguindo. 

Essa dúvida acerca do género do autor, que acabou por constituir uma surpresa para alguns membros do júri, ganha ainda mais relevância pelo facto de todos os grandes autores ruralistas brasileiros nunca terem conseguido abstrair-se da sua condição. Mesmo Raduan Nassar retrata uma classe média rural.  

Quando escrevi o livro, só pensava num trabalho que tivesse a capacidade de comunicar a experiência humana dessas pessoas. E se você for olhar, na literatura brasileira, esses personagens, como você bem referiu, permanecem invisíveis. Tem muitos trabalhos sólidos, mas poucos tratam da comunidade quilombola e dos indígenas, a partir da perspectiva deles. Há um grande romance, “Um Defeito de Cor”, publicado, há mais de 10 anos, pela Ana Maria Gonçalves, que trata da vida da mãe de Luís Gama, Luísa Mahin, que veio de África para o Brasil, que foi dos primeiros romances em que eu vi uma mulher escravizada, que depois é alforriada, protagonizar um romance brasileiro. Existe a “Escrava Isaura”, do século XIX, mas é uma mulher branca, com ascendência negra, mas que é tratada como branca. Nunca foi para o tronco, nunca precisou de fazer os trabalhos pesados. Então, “Torto Arado” acaba dando protagonismo a esses personagens, que sempre foram secundários na literatura brasileira.

“Torto Arado” é o seu primeiro romance? 

Eu publiquei um romance, há 10 anos, com edição de autor e uma tiragem bem pequenininha, mas é um romance de que me afastei tanto, que não falo mais nele, porque já não me reconheço naquela forma de escrita. 

No entanto, tem dois livros de contos publicados, com enorme reconhecimento por parte da crítica: “Dias”, de 2012, vencedor do XI Prémio Arte e Cultura da Bahia, e, mais recentemente, “A Oração do Carrasco”, finalista do Prémio Jabuti, na categoria “contos”, e vencedor do Prémio Humberto de Campos, da União Brasileira de Escritores,que, aliás, vai receber, hoje à tarde, na Academia Brasileira de Letras, aqui no Rio de Janeiro.

É verdade. Com “Dias”, eu, também, concorri anonimamente, e acabei vencendo esse importante prémio literário, na Bahia, que permitiu a publicação do livro, mas acabou tendo uma repercussão tímida, porque logo, em seguida, entrei no doutoramento e afastei-me da escrita. Achava que “vida de escritor” era uma coisa muito de sonho. Era preciso ter o “pé no chão”, ter um trabalho, ter um emprego, mas a verdade é que a literatura nunca me abandonou. Durante o doutoramento, como estava cansado da tese e precisava parar um pouco, respirar, pensar em outras coisas, escrevi “A Oração do Carrasco”, que submeti ao edital de publicação do Governo do Estado e consegui financiamento para publicar. Acabou sendo uma grata surpresa, porque o livro teve uma acolhida muito boa, tanto do público como da crítica. Ainda ontem, durante a votação, havia uma campanha que era “Vote com Livro”, não leve arma, leve livro. E algumas pessoas postaram fotos, nas redes sociais, com o meu livro na mão, gente que não conheço, de Goiás, e isso, emocionou-me profundamente. 

Durante esses 12 anos de pesquisa etnográfica para a sua tese, mudou alguma coisa nesse interior do sertão baiano, ou tudo se mantém inalterado para as comunidades quilombolas?

Houve uma transformação, principalmente nos últimos anos, e o livro aborda isso, que foi, sobretudo, a da conscientização dessas pessoas, dos seus direitos. A constituição dessa rede de comunidades quilombolas e indígenas, que luta pelo direito, desses povos, aos seus territórios, está cada vez mais forte, e isso modifica essas comunidades e faz com que as pessoas transgridam e saiam da letargia serviçal, em que viviam. O interior do Nordeste era muito conhecido, há trinta anos, pelas grandes calamidades, a seca e a fome, que são dramas cada vez menos presentes, hoje em dia, porque existiu um grande investimento, dos governos estaduais e da Federação, principalmente durante os governos do PT, que permitiu a distribuição de água canalizada e energia elétrica, às populações do interior. Hoje, é difícil chegar a uma casa nordestina que não tenha uma cisterna para guardar a água da chuva. E isso, não só ajudou a diminuir as dificuldades dessas comunidades como ajudou a fixar as pessoas no interior. Por outro lado, todos os planos de fomento instituídos, desde o Bolsa Família aos apoios à produção, à agricultura familiar, permitiram que muitas famílias se negassem a continuar a servir nas grandes fazendas, em troca de quase nada. O que não mudou foi a estrutura fundiária, embora as pessoas tenham mais consciência sobre esse problema. E isso é algo que terá de ser alterado, embora saibamos que essa será uma mudança muito lenta. Mas terá de acontecer, inevitavelmente, de forma a permitir que essas comunidades tenham direito aos seus territórios. Muitas delas vivem em áreas de fazenda, sobrepostas ao território em que viveram ancestralmente. Quando não existia legislação, como a Constituição de 88, que passou a proteger essas pessoas, tiveram os seus territórios ocupados, e muitos conflitos advêm daí. Então, essa mudança na estrutura fundiária é essencial. Mas eu tenho uma esperança muito grande nesse sentido, porque vejo as pessoas mobilizadas para isso.    

O facto de ser baiano foi determinante para a forma como escreve?

A Bahia deu-nos grandes poetas, Gregório de Matos e tantos outros, e grandes músicos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto. Então, existe uma musicalidade própria na Bahia. Mas o facto de viver numa cidade, Salvador, em que a maioria da população é negra, alertou-me para os problemas com que essa população se depara, do racismo à nossa relação com a escravidão, que nunca foi resolvida. Então, viver em Salvador, pensar nos meus antepassados negros e no que eles sofreram, trabalhar directamente com comunidades quilombolas e perceber o que ainda perdura de mentalidade esclavagista e de racismo, quase me obrigou a enveredar por este caminho. E quando penso na minha carreira, quando penso no futuro, sei que esse será um tema a que irei voltar. Mas, nesse momento, era obrigatório, para mim, escrever sobre esta temática.

Hoje, confirmada a vitória de Jair Bolsonaro, tem receio que as conquistas conseguidas, nas últimas décadas, por algumas minorias, nomeadamente negros e indígenas, possam ser colocadas em causa, ou considera que as instituições democráticas brasileiras, o Supremo Tribunal e o Legislativo, serão garantia da defesa desses direitos?

Eu acho que a ascensão de Bolsonaro, sem qualquer alteração legislativa, já autoriza inúmeros tipos de violência, porque o discurso dele, ao longo de 30 anos, foi sempre um discurso de ódio contra as minorias. Então, eu penso que esse tipo de discurso, por si só, já autoriza. Quando você fala nas instituições, eu penso na democracia americana, que tem séculos de história e está bem firmada, e lá assumiu um candidato que flerta com a extrema-direita. Mas tem tido dificuldades em avançar em determinadas pautas, porque as instituições são sólidas e existe um equilíbrio na democracia americana. A democracia brasileira é um neném, de trinta anos. Por isso, tenho dúvidas que as nossas instituições tenham força para barrar as pautas de violência, de racismo, de ódio, de supressão de direitos. Só o tempo nos vai dizer se esta minha desconfiança tem sentido. Mas a verdade é que eu não tenho essa confiança nas instituições democráticas do meu país. Durante a campanha, eu e muitos amigos, colegas de faculdade e outros escritores, estávamos assustados com o clima de medo que estava sendo criado, até pelas manifestações públicas do candidato. Mas a verdade é que ele foi eleito, e em nenhum momento nos passou pela cabeça contestar o resultado dessa eleição. Foi o que o povo decidiu. Mas a democracia vai exigir muito de nós, muita mobilização, muita consciência, até da comunidade internacional, que terá de estar de olhos bem abertos para o que vai acontecer, aqui. Por outro lado, apesar da vitória, Bolsonaro não foi aclamado. O segundo colocado teve uma votação muito expressiva. Então, ele terá de governar com cautela, e para todos os brasileiros. Por isso, eu, que ontem tinha muito medo, sinto-me muito corajoso para enfrentar o que vem por aí. 

O Nordeste é o reduto dessa mobilização?

O Nordeste é o reduto dessa luta. É o nosso quilombo. Se aquilombar significa recolher-se, em determinada área, para se firmar enquanto grupo e resistir às investidas dos adversários. Então, nós vamo-nos aquilombar no Nordeste, e onde houver espaço no Brasil, para enfrentar, de forma democrática, o que vem por aí. Exigiremos, dentro do Estado de Direito Democrático e no respeito pela Constituição, o nosso direito de fazer oposição e de criticar o Governo. Não abriremos mão da nossa liberdade.

Para terminar, já tem o próximo romance na cabeça?

Já tenho o próximo romance na cabeça, e, agora que passou esse período eleitoral, acho que vou conseguir dedicar-me a ele. 

Dá para levantar, um pouco, o véu?

É uma história sobre dois homens, que se conhecem e têm um passado nebuloso por trás deles, e que fala sobre a Igreja, e… não vou falar mais. (Risos).

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