“E se falássemos a sério de azeites?”

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“Os azeites nacionais são apresentados nos concursos internacionais e ganham medalhas, mas cá dentro nada disso é reconhecido e eu apercebi-me que esta é uma riqueza demasiado grande para ser desperdiçada e decidi que, enquanto jornalista, tinha obrigação de dar a conhecer esses azeites. Daí nasceu o livro. Foi um grito de revolta!”

No momento em que escrevo as oliveiras que avisto da janela de casa começam a limpar (queda natural das flores após a fecundação), preparando-se para a chegada do fruto. Daqui a dias, cumprindo um ritual apenas interrompido durante as minhas longas ausências da Beira, vou passear pelos olivais com o meu pai, partilhando com ele a alegria da antevisão de um ano que se espera bom d’azeite, não resolva São Pedro pregar alguma partida. É assim desde que me lembro. Se alguma árvore marcou a minha infância foi a oliveira. Espalhadas um pouco por toda a quinta, cercando as vinhas ou inundando o horizonte para os lados do Caramulo, as oliveiras fazem parte do meu imaginário infantil, que envolvia trabalhos cuidados durante boa parte do ano. Não tantos como os da vinha, mas competindo com esta em dedicação.

Lembro-me de participar das podas, de atirar boro ao tronco e de passear pelos olivais por alturas da floração, encantado com uma espécie de neve que caía das árvores e manchava o chão de branco. Mal as aulas do 1º período terminavam e o Natal começava a bater à porta, lá ia eu catar as azeitonas que teimavam em fugir ao toldo durante a vareja, corpo dobrado e mãos encarquilhadas pela geada e pelo vento cortante das madrugadas do Inverno beirão, num esforço compensado pela autorização de participação na lagarada, ouvindo histórias só de homens regadas a muito vinho, que ia bebendo à socapa com o beneplácito do Senhor António, lagareiro de uma vida, que preparava o bacalhau que debicávamos gulosos madrugada fora, enquanto os alqueires de azeitona eram transformados em azeite.

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