No início, a Fotografia conduziu-me à descoberta da Arte-Xávega na Costa da Caparica. Fascinei-me pelas cores do céu espelhado na areia molhada ao entardecer. Ver e ouvir manobras que não entendia aumentou o desejo de escutar sem perguntar, pois o importante era estar e sentir, trocar retratos por peixes e voltar para casa salgado e feliz. Com o passar dos anos e das safras surgiram as perguntas, respondidas por quem tem orgulho na arte que pratica, gosta de contar histórias do passado e de ensinar a receita para cozinhar aquele peixe em particular. As fotografias continuaram a surgir, nascidas de uma proximidade conquistada e que transpirava também dificuldades e queixas: o peixe que escasseia, o preço baixo na Lota, as leis com que querem proibir aquela Arte tão antiga, que matou e mata a fome a tanta gente.
Ao fim de mais algumas safras decidi usar a fotografia e o vídeo como forma de documentar as cadeias operatórias da Arte-Xávega na Costa da Caparica, desde a construção das redes até à sua utilização na pesca. Dez anos após o primeiro embarque, com a ajuda dos mestres arrais e camaradas, defini um objetivo: divulgar e promover a Arte-Xávega da Costa da Caparica enquanto manifestação de património cultural imaterial. Dessa forma enviesada podia atrair a atenção para os problemas e dificuldades que atingem os pescadores desta Arte de pesca, que está na origem do povoamento da Costa da Caparica.
A divulgação da Arte-Xávega tem trazido alguma visibilidade à atividade, reconhecida pelos pescadores. A fotografia passou a ser um pretexto. Conviver com as companhas, esperar que o saco chegue à praia e escolher o peixe ainda vivo, são as sensações que hoje me levam para junto do mar.
Texto e fotografia por Francisco Silva