Entrevista Maria Ana Pimenta

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Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel Directora Internacional

A Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel não precisa de apresentações no plano da cena artística internacional, nem a mudança de nome em 2016 de Fortes Vilaça, herança do seu icónico fundador, para a actual Fortes D’Aloia & Gabriel, fez com que não se associe este nome aos vários espaços de mostra e dinamização de arte com grande impacto no Brasil e não só. Muitos coleccionadores brasileiros, têm orgulho na produção artística dos seus pares e as suas colecções de arte são desde os anos 30 do século passado, formadas por uma sólida base de produção artística nacional. O coleccionador brasileiro é sofisticado nas suas escolhas e tem um lugar importante no posicionamento global. A Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel sabe disso.

Maria Ana Pimenta, a sua directora internacional, está de volta a Lisboa e traz a galeria Fortes D’Aloia & Gabriel com ela. Pimenta concluiu história de arte em St. Andrews, na Escócia, e como primeiro trabalho fez pesquisa na Tate Modern, quer o destino que vá para o Brasil e trabalhe na galeria Fortes Vilaça, durante 6 anos, tempo que lhe permitiu compreender bem o papel que a galeria poderia vir a ter, fixando um novo espaço com carácter de escritório em Lisboa.

Lisboa está em mudança, muito acontece na capital portuguesa e muito também falta acontecer, a cena artística institucional tem ainda um largo percurso a trilhar, mas o caminho está aí e o panorama transforma-se. Falámos de tudo um pouco, falámos do campo artístico fora dos cânones, como tantos non-profit e espaços de mostra e também de investigação, que estão a fazer de Lisboa uma plataforma atlântica de arte. Unindo caminhos entre África e América do Sul, a cidade de Lisboa transforma-se.

A vontade que me levou a entrevistar Maria Ana, partiu da intenção de reflectir sobre esta chegada de uma galeria com o peso e a história da Fortes D’Aloia & Gabriel a Lisboa, de perceber como funciona esta nova morada de tantos brasileiros e estrangeiros na capital portuguesa, e de compreender, pelos olhos de quem regressa, a nova Lisboa de hoje.

 

Depois de 12 anos fora de Portugal, qual é a tua visão de Lisboa e da sua cena artística?

Vejo grandes mudanças na cidade, existe um interesse enorme no país e claro que isso se reflecte na cena artística também. Temos assistido a um fluxo de artistas, curadores e coleccionadores que se mudaram ou passam muito tempo aqui, e essa troca é muito enriquecedora. Considero exemplar a actuação de algumas instituições de modelos alternativos, que oferecem uma programação de grande qualidade. Por outro lado, vejo que grandes instituições como o Museu do Chiado ou o Museu Berardo têm ainda muito potencial por explorar.

 

Qual a história da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel? Como se dá o início da galeria?

A Fortes D’Aloia & Gabriel nasce sobre o que era a Galeria Fortes Vilaça, fundada há 17 anos por Márcia Fortes e Alessandra D’Aloia – na época Alessandra Vilaça. A nova identidade veio, portanto com o nome da Alessandra, assim como com a entrada de Alexandre Gabriel, director de longa data que se torna sócio. Ao longo dos anos os objectivos sempre foram os mesmos: oferecer uma programação dinâmica tanto de artistas brasileiros como internacionais, jovens e consagrados, buscando sempre contribuir para o cenário cultural brasileiro. A galeria tem desde o seu início uma grande actuação internacional e é essa troca que nos interessa, tanto mostrar exposições ambiciosas de artistas internacionais no Brasil como trabalhar o reconhecimento de artistas brasileiros fora.

A Fortes D’Aloia & Gabriel tem a Galeria e o Galpão em São Paulo, a Carpintaria no Rio de Janeiro e o Escritório em Lisboa. Como funciona cada espaço e qual a relação entre os quatro?

A galeria começa a sua história na Rua Fradique Coutinho, espaço expositivo desde de 1992, onde era a Camargo Vilaça. Há 10 anos inaugurou-se o Galpão, que, graças à sua escala, permite desenvolver exposições desafiadoras e ambiciosas, especialmente pensadas para as características desse espaço. Há dois anos abrimos a Carpintaria, onde procuramos ventilar novas ideias e criar diálogos mais amplos entre várias expressões artísticas. Por fim, o escritório surgiu de forma absolutamente orgânica com a minha mudança para Lisboa. Mas acontece que sempre procurámos uma forte presença na Europa para os nossos artistas, seja com participações em exposições institucionais ou em galerias parceiras, seja integrando coleções particulares. Portanto, abrimos este escritório como um gesto de proximidade maior. A relação entre os quatro espaços é o mais integrada possível. Uma postura que sempre admirei muito na forma como a galeria foi construída é que, apesar da sua escala, estamos sempre muito próximos dos nossos artistas, equipa e valores.

“Tudo está a olhar para aqui [Lisboa]”. Qual foi a reacção dos coleccionadores brasileiros, portugueses e do resto da Europa à abertura deste novo espaço da Galeria em Lisboa?

Muito positiva. Inaugurámos o espaço com uma pequena exposição colectiva e senti que a recepção foi excelente, tanto de coleccionadores como dos nossos colegas e parceiros. Em pouco mais de um mês já recebemos não só coleccionadores de vários lugares como grupos de museus e fundações que visitam a cidade. É um momento propício para estar aqui, além dos brasileiros que procuram residência cá e já têm uma relação com a galeria, sentimos que é o lugar certo para estar mais próximo do público internacional.

Dos 41 artistas que a galeria representa, 10 são europeus. Pensas que a relação com eles irá mudar com a proximidade da galeria, através deste escritório?

Poderemos ver os artistas representados pela FDAG na capital portuguesa? Claro, procuro estar mais próxima dos que estão cá e sempre com o objectivo de criar pontes. Acreditamos que desta forma podemos trabalhar melhor pelos nossos artistas e o alcance das suas obras. Gostaria muito de ver os nossos artistas a expor mais em Lisboa, e não só!

Quais os planos para o futuro e que projectos a Fortes D’Aloia & Gabriel gostaria de desenvolver no escritório da Praça Luís de Camões?

Ainda estamos a chegar e a desenvolver qual o modelo que queremos construir aqui. Sabemos que não temos a intenção de abrir uma galeria, mas que o nosso desejo é fazer acções pontuais e manter uma base operacional aqui. Por agora temos este charmoso escritório com uma biblioteca farta e um pequeno viewing room, onde mostramos trabalhos dos nossos artistas.

 

Por: Veronica Mello

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