Sabe-se que no extenso e rico panorama do teatro quinhentista português há ainda muito por descobrir. Contribuindo para que parte dessa descoberta possa chegar ao grande público, e não se limitar aos corredores da academia, o Teatro Maizum (fundado há precisamente 40 anos) e a encenadora e investigadora Silvina Pereira vão assumindo um papel primordial e inigualável na divulgação do teatro clássico português.

Este verão, no cenário deslumbrante do Convento da Graça, a companhia regressa a esse vulto imenso e insistentemente esquecido chamado Jorge Ferreira de Vasconcelos, com a sua Comédia Aulegrafia ou, textualmente, “escrita sobre o Paço”. E é esse mesmo Paço de Lisboa, em pleno reinado de D. João III, que é “apresentado como um mundo falso e desolador, reduzido às trevas pelo fado, pela má fortuna e pela força destruidora da detração”, que destrói o amor entre o cortesão Grasidel de Abreu e a jovem cortesã Filomena, submetidos que são às intrigas urdidas pela alcoviteira Aulegrafia, interessada em favorecer outro pretendente.

Divertida e acutilante, esta comédia de costumes reúne, como sublinha a encenadora, “uma galeria de personagens bem portugueses, como galantes, moços fidalgos, damas da corte, donzelas, escudeiros pobres, criados, mulatos, cortesãos, e também castelhanos aventureiros ou criados fanfarrões”. FB