Programa abre a 18 de Janeiro com um colóquio e uma exposição na Gulbenkian; no dia do centenário (19 de Novembro), será estreada a peça O Pecado de João Agonia no Teatro da Trindade, também em Lisboa.
O centenário de Bernardo Santareno (1920-1980) vai ser assinalado ao longo do próximo ano com uma série de iniciativas por todo o país, que passam pela estreia da sua peça O Pecado de João Agonia no Teatro da Trindade, em Lisboa.
Iniciativa da actriz e encenadora Fernanda Lapa e da sua Escola de Mulheres, o programa de comemorações começa no dia 18 de Janeiro de 2020 com um colóquio e uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, organizados pela fundação em parceria com a Associação Portuguesa de Escritores e pela Escola de Mulheres – Oficina de Teatro.
Um dos pontos altos das celebrações é a estreia da peça O Pecado de João Agonia, da autoria do dramaturgo, uma obra de 1960 em que é abordada a homossexualidade e a repressão social, que se estreará no Teatro da Trindade, encenada por Fernanda Lapa, numa co-produção com esta sala de espectáculos. A peça estreia-se a 19 de Novembro, dia em que o dramaturgo faria 100 anos, e fica em cena até 20 de Dezembro, a par de uma exposição biobibliográfica sobre Bernardo Santareno, segundo o programa divulgado por Fernanda Lapa.
No dia 21 de Novembro será exibido o documentário de Luís Filipe Costa Bernardo Santareno Português Escritor Médico; a 5 de Dezembro será exibido o vídeo Bernardo Bernarda, uma produção da Escola de Mulheres (2005) com encenação de Nuno Carinhas; e a 12 de Dezembro serão exibidos extractos de A Promessa, com encenação de João Cardoso, que a apresentou no Teatro Nacional São João, no Porto, em 2017. Todos estes visionamentos serão seguidos de colóquios.
Para 19 de Dezembro está prevista uma mesa-redonda com intérpretes de obras de Santareno ainda em vida dele: Eunice Muñoz, Lurdes Norberto, Henriqueta Maia, Estrela Novais, João Mota, Paula Guedes, Joel Branco, Manuel Marcelino, Ruy de Carvalho e Glória de Matos.
No Espaço Escola de Mulheres haverá uma “maratona Santareno”, que consiste em sessões de leitura de obras de teatro e poesia do autor de O Lugre, por actores profissionais e voluntários do público. Esta é uma iniciativa em colaboração com o Teatro Meridional, que terá lugar aos sábados, durante os meses de Fevereiro a Agosto.
A Seiva Trupe, em Matosinhos, leva à cena em Março a estreia de O Crime de Aldeia Velha, com encenação de Júlio Cardoso, o teatro A Barraca, em Lisboa, vai abrir portas para a leitura encenada de O Lugre, pela voz da actriz Maria do Céu Guerra, e o Centro Dramático de Viana – Teatro de Noroeste apresenta em Junho O Lugre, com encenação de João Mota.
Ainda em volta dos livros de Bernardo Santareno vão andar outras companhias de teatro, como a Comuna, que terá sessões de leitura de poesia, escolas, como a Escola Superior Artística do Porto, onde será feita a leitura comparada do Édipo Rei e António Marinheiro (Édipo de Alfama), e a Cinemateca Portuguesa, que dedicará um ciclo a filmes a partir de obras de Santareno.
A Sociedade Portuguesa de Autores vai organizar uma exposição biobibliográfica em co-produção com o Museu do Teatro e da Dança, e vai instituir o Prémio de Teatro Bernardo Santareno.
No campo editorial, a E-Primatur vai continuar a reeditar a obra de Bernardo Santareno – já publicou Nos Mares do Fim do Mundo, O Inferno, O Crime de Aldeia Velha, O Judeu, O Lugre –, estando previsto para 2020 o primeiro volume das obras completas. Por outro lado, o Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa vai editar um volume de estudos internacionais sobre a obra de Santareno.
Nascido António Martinho do Rosário, em Santarém, formou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria, mas foi com o pseudónimo literário Bernardo Santareno que se tornou conhecido fora dos consultórios onde trabalhou. Bernardo Santareno viria a revelar-se como autor de teatro só depois de publicar três livros de poesia: Morte na Raiz (1954), Romances do Mar (1955) e Os Olhos da Víbora (1957).
Foi a sua experiência a bordo dos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e navio-hospital Gil Eanes, onde, entre 1957 e 1958, acompanhou as campanhas de pesca do bacalhau como médico, que lhe serviria de inspiração a muitas das suas obras, como O Lugre e o volume de narrativas Nos Mares do Fim do Mundo. Considerado um dos maiores dramaturgos portugueses do século XX, Bernardo Santareno morreu a 29 de Agosto de 1980, com 59 anos de idade, tendo deixado inédito um dos seus mais vigorosos dramas, O Punho, cuja acção se passa no quadro revolucionário da Reforma Agrária, no Alentejo.
Fonte: Público