CARTOGRAFIAS#4 – Para além dos textos do corpo

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Cartografias é um projecto do Forum Dança que visa construir e apresentar mapas de  possibilidade para a dança contemporânea na era da performance. Tem curadoria de Ezequiel Santos e concretiza-se numa mostra anual que este ano vai decorrer entre 29  de abril e 28 de maio, no Espaço da Penha, em Lisboa. 

Cartografias#4 desenvolve-se tendo como conceito atractor o texto escrito enquanto massa  potencial para além dos textos do corpo. O pretexto foi o de convocar trabalhos de artistas  que se apoiam na produção dramatúrgica, ou literária, recuperando ou traçando novas  propostas cénicas que se constroem ou desconstroem através de uma linha tríplice entre o  som, a palavra, o sentido.  

O programa remete para a recuperação de obras produzidas nas últimas duas décadas, em  revisitação nos casos de João Fiadeiro, Lígia Soares e Maurícia | Neves. Outras criações, em  estreia ou em processo continuado, têm como fontes a literatura e a poesia em língua  portuguesa, como são os casos de Maria Varbanova e de Daniel Pizamiglio, ou os ensaios  em torno de uma dramaturgia colectiva, evidentes nas propostas de Filipa Duarte e de  Carolina Campos e Márcia Lança, as quais partem de narrativas de subjectividade enquanto  dispositivo de resistência a um confinamento declarado.  

Dando expressão a este desejo de resistência, a última semana desta mostra incorpora as  criações de Sónia Baptista e de Vânia Rovisco, programadas inicialmente para o encerramento da edição anterior do Cartografias.

PROGRAMA 

A decorrer no Espaço da Penha Travessa do Calado, nº 26B, 1170-070 LisboaSempre a partir das 19h

29 e 30 Abril 

19h_ Daniel Pizamiglio  

Diálogos Concretos com Salette Tavares – Performance (60’); m/16 

Performance e criação: Daniel Pizamiglio; Objecto: Bruno Bogarim; Fotografias: Matheus Martins; Acompanhamento: Miguel Oliva Teles. 

SINOPSE: É um projecto de aproximação à poeta Salette Tavares. Como os seus “Diálogos  Criativos”, parte de um procedimento de criação feito a partir do que se encontra, sejam objectos  encontrados num passeio, o lixo de uma praia ou um livro de poemas emprestado por um amigo.  Diálogos Concretos é fazer a partir dos restos e do rastro de uma outridade. É criar e, na volta, ser  criado. É materializar o diálogo e o encontro com Salette: ela – a sua poesia – e os seus objectos – verbivocovisualizados.  

20h15_ João Fiadeiro 

I Was Here Conferência-performance (50’); m/6 

Conceito e performance: João Fiadeiro; Espaço cénico: João Fiadeiro, a partir do desenho original de Walter Lauterer; Desenho luz: João Fiadeiro, a partir do desenho original de Daniel Demont; Obras de Helena Almeida citadas: “Ouve-me” 1979, “Desenho Habitado” 1975, “Pintura Habitada” 1975, “Sem Título” 1995, “Dentro de Mim” 2000, “Voar” 2001, “Estou aqui” 2004; Fotografias de Patrícia Almeida a partir da obra I Am Here; Excerto de ensaios de I Am Here em que aparecem Tiago Guedes, Ana Borralho e João Galante, colaboradores artísticos do projecto; Excerto do filme documentário “Pintura Habitada” de Joana Ascensão. 

SINOPSE: I Was Here revisita a peça I Am Here criada em 2003 e que, por sua vez, visita o universo da artista plástica Helena Almeida. Este “hábito” de re-visitar, re-habitar, viver a mesma coisa, mas de um outro prisma, de uma outra perspectiva, acompanha desde sempre o modus operandi de João Fiadeiro. O dispositivo da “conferencia-performance”, lugar híbrido entre a apresentação e a representação, entre a performance e o documento, amplifica ainda mais esse modo de operar, possibilitando a experiência simultânea do estar “presente-ausente”, tão caro ao pensamento de Fiadeiro. 

6 e 7 Maio 

19h_ Lígia Soares 

Às Origens da Crise – Performance (50’); m/12 

Concepção e interpretação: Lígia Soares; Texto: Lígia Soares e Thierry Decottignies; Vídeo: Andresa  Soares e Thierry Decottignies; Actor vídeo: Giancarlo Pia-Mangione; Voz-off: Rita Só, Lígia Soares,  Thierry Decottignies. Peça criada em residência artística na TanzFabrik-Berlin com o apoio da  Fundação Calouste Gulbenkian.  

20h15_ Ar ao Vento – Conferência-performance (25’); m/12 

Conceito, texto e interpretação: Lígia Soares; Música: excerto de Musique pour Cordes, Percussion  et Celesta, de Béla Bartók, pela Detroit Symphony, dirigida por Antal Dorati. 

SINOPSE: Os meus trabalhos a solo, Às Origens da Crise (2005) e Ar ao Vento (2008) partilham um  forte questionamento da acção na performance. Nestes projectos procurei negar a representação  como ponto de partida para poder assistir à sua construção, consciente da sua artificialidade. O  espaço teatral deixou assim de ser representativo para se confrontar com a realidade do seu vazio  primordial, a partir do qual qualquer discurso criado é apenas uma expectativa e uma tentativa de  drama. O palco em si não é dramático, a ação não é dramática, a personagem idem, o drama torna se apenas um jogo de atribuições voluntárias do discurso. Esta apreensão de um acto simplesmente

como um acto (que perdeu um poder representativo intrínseco) desloca a qualidade dramática de um  nível representativo para a confrontar directamente com a ausência de sentido no momento  presente. A expectativa torna-se deste modo um dos principais motores da imaginação e um dos  principais veículos de tensão, drama.

13 e 14 Maio 

19h_ Maurícia | Neves 

This is not for sale e é um manifesto! – Performance (37’); m/16 – Falado em inglês 

Ideia, coreografia, texto, edição musical, design de iluminação e performer: Maurícia | Neves; Aconselhamento: Joana Castro; Residências Artísticas: Forum Dança, LINOTIP, O Espaço do  Tempo e A22. 

SINOPSE: This is not for sale e é um manifesto! [2018] surge de um manifesto que escrevi em 2013,  durante a TROIKA, quando Portugal atravessava uma crise económica. Este espetáculo está entre a  performance, concerto, noticiário de televisão surrealista e dj set. Continuo sem saber para onde vou,  mas acima de tudo, continuo à procura do Coelho. 

20h15_ Maria Varbanova 

Enquanto tento fundir-me – Dança (45’); m/6 

Criação e interpretação: Maria Varbanova; Aconselhamento artístico: Helena Martos Ramirez;  Dramaturgia: Filipe Pereira; Fotografia: Gonçalo Fernandes; Figurinos: Paula Geleia e Joana Leal;  Desenho e técnica de luz: Joana Mário Rodrigues; Apoios: Fundação Calouste Gulbenkian, Câmara  Municipal de Lisboa / Polo Cultural Gaivotas | Boavista; Apoio com Residência: CAPa DeVIR,  Estúdios Victor Córdon, Companhia Olga Roriz; Apoio à Produção: Chão de Oliva. 

SINOPSE: Com o narrador de Água Viva, de Clarice Lispector, investigo o momento de emergência  das formas/linguagem/dança, enquanto emissários da matriz de onde surgem. Eles aparecem e  desfazem-se continuamente. Este solo procura manter-se depois da dissolução do instante anterior,  e antes da emergência do instante seguinte. Esta fenda no tempo escapa ao nosso controle  consciente e impossibilita a definição da nossa experiência. Construir ferramentas, para deixar de  conhecer o meu corpo e o seu ambiente, e conseguir vê-los pela primeira vez, em cada momento,  como uma imensidão de possibilidades. 

20 e 21 Maio 

19h_ Filipa Duarte 

Bleak – Dança/performance (50’); m/16 

Concepção e interpretação: Filipa Duarte; Composição visual e cenário: José Giro; Composição  musical: Fábio Musqueira; Registo audiovisual: Pablo Koury; Apoio financeiro: Fundação Calouste  Gulbenkian; Apoio à residência: Estúdio B, Forum Dança, Estúdios Victor Córdon, Espaço T. Local de estreia (on-line): MxM ArtCenter, 25 Fev 2021. 

SINOPSE: Um caminho com infinitas possibilidades. Um trajecto já existente que se vai activando à  medida que se percorre, possibilitando a surpresa, o diferente, o inusitado. Assente na ideia de  progresso como utopia, observa-se o desejo de continuar a caminhar sem parar, sem saber se  caminhamos na direção correcta ou as coordenadas em que nos encontramos. Somos encorajados a  seguir por caminhos estreitos, a não preferir sempre os atalhos. Os caminhos mais seguros são  aqueles que, cautelosos, desbravamos; que se tornam mais frágeis e (in)completos a cada vez que  os percorremos. Assiste-se à distopia em que se transformam as utopias, desafiando os limites  invisíveis do livre-arbítrio. Quanto mais será necessário caminhar se, ao chegar, se entende que há  algo mais a se alcançar? 

20h15_ Carolina Campos e Márcia Lança 

Outro Lado é um Dia – Performance (60’); m/16 

Criação e performance: Carolina Campos & Márcia Lança; Apoio à criação: Daniel Pizamiglio; Espaço, luz e direcção técnica: Santiago Tricot; Música: Cigarra; Apoio à publicação online: Alex  Cassal; Criação do site para publicação: Rafael Frazão; Direção de produção: Lysandra Domingues; Produção: VAGAR; Apoios: Fundação Calouste Gulbenkian e DGArtes. 

SINOPSE: Outro Lado é um Dia parte de gestos que não param de acabar, ações que começam ou  terminam, palavras, frases, danças sem fim ou início, situações apanhadas no meio, acontecimentos  descontextualizados, vidas fictícias perdidas numa história maior, sem referência de tempo e espaço.  Em Outro Lado é um Dia, verdade e mentira tocam-se e confundem-se, o tempo não é linear, é um  emaranhado de tempos e situações que não param de terminar e começar.

27 e 28 Maio 

19h_ Sónia Baptista 

E Hoje, é um Esquilo? – Conferência-performance (30’); m/6 

Escrita, criação e interpretação: Sónia Baptista 

SINOPSE: E Hoje, é um Esquilo? nasceu como uma conferência/performance num contexto  académico de reflexão sobre a prática artística como investigação filosófica e poética e vice-versa. Três acções comuns, Ler, Caminhar e Escrever transformam-se em actos poéticos com alicerces na  história pessoal e na memória de um passado mais recente, mas com ecos de um reviver proustiano. 

19h45_ Vânia Rovisco 

Sem Título (####) – Performance (90’); m/6 

Concepção e interpretação: Vânia Rovisco; Assistente de figurino: Mafalda Fialho. 

SINOPSE: Um fractal é um padrão sem fim. Fractais são padrões infinitamente complexos, similares  a si próprios em diferentes escalas. São criados repetindo um processo simples num loop de  feedback contínuo. Impulsionados por uma repetição infinita, os fractais são imagens de sistemas  dinâmicos – imagens do Caos. Existem, enquanto formas geométricas na nossa dimensão mais  familiar. Os padrões fractais são extremamente habituais, uma vez que a Natureza está cheia de  fractais. Por exemplo: árvores, rios, linhas costeiras, montanhas, nuvens, conchas do mar, furacões,  etc. Existem também fractais abstratos, como o Mandelbrot Set, gerados por computador, que  calculam uma equação simples repetidas vezes. 

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INFORMAÇÕES ÚTEIS 

Entrada sujeita à lotação do espaço e mediante marcação prévia para o email:  forumdanca@forumdanca.pt (até 48h antes do início das apresentações). 

Preços: 3€ uma apresentação / 5 € duas apresentações, no mesmo dia. 

Serão cumpridas as normas emitidas pela DGS 

Mais informação: https://www.forumdanca.pt/cartografias-4/ 

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SOBRE O FORUM DANÇA 

O Forum Dança é uma associação cultural, criada em 1990. A sua missão é a promoção da dança  enquanto forma de arte, um bem humano e uma área do conhecimento. Tem tido uma actividade  indissociável do progresso da dança no nosso país, tendo sido uma estrutura fundamental no  desenvolvimento e no reconhecimento da Nova Dança portuguesa, nacional e internacionalmente. Ao  longo do seu historial, através dos cursos que promove, formou largas centenas de profissionais e  criadores que se encontram actualmente activos em diversas instituições e estruturas por todo o país.  Para além das suas acções de formação e de curadoria em artes do espectáculo, apoia a criação e a  edição de obras. Tem vindo a trabalhar e a estabelecer parcerias, quer em Portugal quer no  estrangeiro, com mais de cem organizações em quatro continentes.  

Mais informação em: www.forumdanca.pt / www.facebook.com/forumdancalx / www.instagram.com/forumdanca 

 

Créditos fotografia: João Fiadeiro, I Was Here © José Frade 

 

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