Canadá presta homenagem a derradeiro fundador do movimento Surrealista português

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João Artur da Silva (nascido em 1928) artista multidisciplinar de origem portuguesa, com cidadania britânica e canadiana que, aos 95 anos, se mantém artisticamente ativo, e a viver na Colúmbia Britânica desde 1991, será homenageado, entre 11 e 14 de abril, na feira de arte contemporânea internacional Art Vancouver, com um projeto exclusivo da Perve Galeria.

Entre obras fundamentais do seu extraordinário percurso, muitas delas inéditas, é dada a oportunidade ao público internacional de descobrir a obra plástica deste artista fundamental, cuja escolha de operar à margem do sistema artístico nas últimas três décadas resultou num sub-reconhecimento do seu trabalho. A Perve Galeria procura agora corrigir essa lacuna com um programa internacional em homenagem ao artista, visando garantir que o mesmo receba, em vida, o devido reconhecimento da sua obra e percurso.

É neste contexto que se dá a homenagem nesta feira de arte em Vancouver que, realizada perto da atual residência de João Artur da Silva, permitirá que o mesmo tenha a possibilidade de lá se deslocar, testemunhando presencialmente a sua obra ser novamente exposta e devidamente celebrada.

Esta será a estreia numa feira de arte internacional de João Artur da Silva, derradeiro fundador do anti-grupo “Os Surrealistas”, com Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, e demais companheiros. De facto, ainda que, em 2020, quando Cruzeiro Seixas faleceu, se tenha noticiado a morte do último surrealista, João Artur da Silva continua, aos 95 anos, artisticamente ativo e a viver no Canadá.

Como recorda Carlos Cabral Nunes, curador e diretor da Perve Galeria, que desenvolveu, ao longo de dois anos, um trabalho intenso de pesquisa em torno da vida e obra de João Artur da Silva, «quando Cesariny faleceu, seguido, mais tarde, por Fernando José Francisco, há uma década, Carlos Calvet, e, há quatro anos, Cruzeiro Seixas, presumi que já não existiriam, activos, quaisquer outros fundadores de ‘Os Surrealistas’. Para meu espanto, fui contactado por um casal canadiano, colecionadores bastante singulares, que procuravam saber se eu teria interesse em desenvolver algum trabalho com ele. Esse artista, de seu nome João Artur da Silva, residia há mais de três décadas no Canadá e tinha sido membro fundador do afamado anti-grupo surrealista português, liderado por Cesariny».

Aos 18 anos, após uma cirurgia na Inglaterra para corrigir a sua sindactilia, rara malformação congénita que causa a união visível dos dedos, João Artur da Silva optou por seguir o seu interesse pelo desenho e pela pintura. No final dos anos 1940, após participar em várias exposições coletivas em Lisboa, e embora fosse muito jovem na altura, o mesmo foi apresentado a “Os Surrealistas” por Mário-Henrique Leiria, participando nas exposições de 1949, na Pathé Baby, e de 1950, Galeria-Livraria Bibliófila. Apesar do desejo de sair do país, a sua afiliação ao grupo, onde alguns dos membros eram abertamente críticos da ditadura em Portugal, dificultou-lhe a obtenção de passaporte, até 1958, ano em que fixou residência em Inglaterra. Aí teve a oportunidade de desenvolver novas técnicas e explorar diferentes meios artísticos, como a fotografia, a cerâmica, e a pintura de lenços de seda que, sob a marca “Da Silva”, foram vendidos nos armazéns de luxo Harrod’s e Liberty’s.

Expondo em diversas galerias e instituições londrinas, João Artur da Silva reuniu o apreço de artistas como Henry Moore e Lynn Chadwick, e de outras figuras proeminentes do mundo da arte, incluindo o diretor da Tate Gallery na altura, Sir John Rothenstein, James Laver, curador do Victoria and Albert Museum, o crítico de arte Eric Newton, ou o colecionador de arte Lord Amulree.

Posteriormente, após um período de residência em Portugal, o artista volta a deixar o país em 1991, fixando residência na Colúmbia Britânica, Canadá. Aí, não tendo cessado a produção artística, optou por se retirar da atividade expositiva e do mercado da arte, interrompendo o processo de reconhecimento da sua obra, que havia desenvolvido em Inglaterra e Portugal.

Em 2023, tomou a decisão de retomar esse processo, interrompido em 1991, e, no final desse ano, começou a ser representado, em exclusivo, pela Perve Galeria.

Atualmente, aos 95 anos, apesar de ter enfrentado problemas de saúde, João Artur da Silva mantém-se artisticamente ativo, tendo vindo a produzir consistentemente uma série de obras de arte em papel, entre 2022 e 2023, que apresentam várias formas geométricas engenhosamente entrelaçadas, e que foram recentemente mostradas na Casa da Liberdade – Mário Cesariny, naquela que foi a primeira exposição antológica do artista desde os anos 1990, intitulada “Regresso, Desocultação e Vida”.

Essa mostra assinalou o início de um programa especial de divulgação da obra deste fundamental autor português, desenvolvido pela Perve Galeria, que encontra agora em Vancouver o seu segundo momento, e se estenderá a outros países, para além de Portugal e Canadá, com exposições a ocorrer também nos Estados Unidos da América e Inglaterra, ainda em 2024. A organização dessas iniciativas pretende assim colmatar o desconhecimento, transversal ao público das artes e às instituições correlacionadas, sobre João Artur da Silva, o seu percurso e a sua obra, celebrando-o enquanto artista verdadeiramente singular.

Mais informações e catálogos das exposições estão disponíveis no site www.pervegaleria.eu.

Fotos: Inês Rego

Fonte:perveglobal.com

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