A NAMÍBIA NO MEU DESTINO

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Ao fim do dia, com o pó que sacas da garganta construías um muro de argamassa para a tua casa. E com as pedras em que tropeçaste levantavas um molhe de protecção de uma barra de litoral. E com as montanhas que te delinearam o horizonte protegias melhor um império que qualquer Grande Muralha. E com a beleza que te encheu a alma já não precisas de acreditar em mais nenhuma eternidade senão a do teu olhar. Enquanto houver a Namíbia para ser viajada, nenhum Homem se sentirá um estranho no Universo.
As cores são infantis e isoladas, espalham-se pela distância em grandes lençóis monocromáticos como se fosse um menino deus a colorir desajeitadamente estes espaços com pinceladas hesitantes. Uma faixa ali de um amarelo-enxofre de vegetação rasteira a definhar, outra faixa depois de um cinzento esverdeado de pequenos arbustos redondos que resistem, mais longe ainda a montanha ocre que com os primeiros raios de sol pode ficar ao rubro, a brilhar.
As horas passam e a paisagem é sempre a mesma mas não te parece teres jamais visto nada assim antes. Cada vez que olhas para fora da janela do autocarro sentes que acabas de chegar, que nunca estiveste aqui. Tudo muda para que tudo fique na mesma, mas és tu quem nunca mais será o mesmo. A Namíbia move-te, só ela sabe onde te há-de levar. O destino dentro de ti é uma incógnita, mas tu deixas-te ir porque foi para isso que vieste. Para seres mudado.
In “Um Lugar Dentro de Nós” (Clube do Autor, 2012)
Por: Gonçalo Cadilhe
https://www.facebook.com/goncalocadilhe

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