A arte de ser português… e europeu

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É já um clássico: quanto mais estamos fora do país, mais gostamos dele e mais o valorizamos. Não sou um saudosista, embora reconheça qualidades em imagens do passado que apreciem a nossa história e os nossos feitos, agora tão esquecidos e maltratados pelas gerações actuais à procura de uma identidade. Portugal é um país extraordinário e com uma história fora do vulgar. E, apesar de tantas atrocidades arquitectónicas, tem zonas únicas e de uma beleza rara.

Um país com uma marca própria. Mas, acredito, é também um país perfeitamente integrado numa lógica europeia, numa visão de longo prazo em que a cultura, os cidadãos e a sua identidade nacional, se completam na procura do bem comum.
Nas muitas palestras que dou sobre a Europa e sobre a construção de um modelo que permita aos povos a sua união na diversidade, falo invariavelmente nos custos da “não-Europa”. Isso mesmo: onde estaríamos todos se não houvesse este conceito excepcional com mais de 60 anos e que, com maiores ou menores “dores de crescimento”, nos trouxe aqui? Um projecto que se baseou na procura da paz entre as nações e no desenvolvimento harmonioso dos povos. Não tenho dúvidas que os custos da não existência Europa seriam enormes. E, teremos infelizmente a prova disso mesmo, muito brevemente, com a saída da Reino Unido.

Os nossos amigos britânicos, particularmente os ingleses, estão
já a sentir que a saída da Europa é um erro de consequências imprevisíveis, mas, já muito… visíveis…
Não nego que o que aconteceu no Reino Unido poderia acontecer noutro Estado Membro. Falo da desinformação que intoxica os cidadãos, assente em meias verdades e com uma visão distorcida  da realidade. Falo também de uma inabilidade para comunicar o que é que a “Europa” enquanto ideia de crescimento, tem feito pelos cidadãos.

É verdade que os líderes europeus, nos últimos anos, desvalorizaram o caminho que os adversários ideológicos de uma Europa unida fizeram. É um facto que muitos Estados Membros se  enredar pela narrativa de culpar “Bruxelas” por tudo o que de mau acontecia no “terreno”. É também fácil de sustentar que, se os cidadãos não souberem que são os projectos europeus que apoiam e financiam as descobertas científicas que procuram a cura para o cancro, ou que foi a Comissão Europeia que “obrigou” as operadoras de telecomunicações a terminarem com o “roaming” ou ainda, que são os fundos europeus de apoio à inovação que estão na base de criação de novos empregos e de novas empresas – dificilmente o cidadão comum valoriza a Europa enquanto projecto de crescimento e bem estar. Mas é este mercado interno que permite estes avanços na sociedade.
O caso de Portugal é paradigmático nestas matérias de apoio e crescimento: o país muito deve à sua integração europeia. E não falo de apenas de estradas ou infraestruturas que mudaram definitivamente a face de Portugal e permitem que este crescimento económico e bem-estar das populações esteja a fazer o seu caminho.


Falo da mudança de mentalidades, da forma como encaramos a nossa responsabilidade enquanto cidadãos, na construção contínua de uma Europa para todos. Poderá dizer-se que estou influenciado por uma vida de trabalho mais recentemente, dedicada ao projecto Europeu. Será verdade, mas como não posso estar agradecido (eu e muitos outros!) uma vez que toda a minha história enquanto estudante e como profissional começa com o projecto ERASMUS? O projecto europeu que vale por todos as campanhas de promoção da Europa! Um programa que promove uma ideia de Europa para todos, em que se valorizam todas as culturas dos Estados Membros e se proporciona a milhares de estudantes a oportunidade de alargar horizontes, é uma realização formidável. E de tal maneira tem impacto que, não só se tem aumentado a participação e dotação orçamental, como se tem alargado o horizonte de aplicação – não só a estudantes, mas também permitindo a mobilização de trabalhadores.


O projecto Europeu não está, no entanto, isento de erros e de perigos. E o que vamos vendo em alguns Estados Membros leva-nos a dizer que a construção europeia é um projecto diário e contínuo. Os extremismos e o descontentamento são uma realidade que não podemos ignorar. Mas mais uma vez sinto que Portugal poderá desempenhar um papel crucial na história. Enquanto país com uma cultura e identidade próprias, mas sempre disponível para participar num conceito para o qual pode contribuir mais e retribuir tudo o que tem beneficiado, com orgulho e com a legitimidade de mais de 700 anos de história. Saibamos, pois, valorizar Portugal e a Europa e o papel que cada um de nós pode desempenhar na construção europeia. Estou certo que estaremos mais uma vez à altura do nosso passado com olhos no futuro. Que assim seja!
*Vice-Presidente do Comité Económico e Social Europeu

 

Por: Gonçalo Lobo Xavier

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