As mulheres vão à Índia!

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Depois de descobrir novos caminhos de vida em contato com a tradição hindu, coach brasileira guia outras mulheres numa experiência de autoconhecimento pelos roteiros mais fascinantes do país de Mahatma Gandhi.

Há gente que, movida por tensões interiores, busca a ajuda dos médicos do corpo ou da mente para resolver frustrações e vazios interiores, muitas vezes gatilhos para toda uma gama de sofrimentos e desequilíbrios emocionais. Para aplacar esse mal-estar, outros preferem o confessionário de um padre ou ainda acabam recorrendo ao consolo de homens de todo tipo de fé. Numa dessas crises disparadas pela ânsia de dar um sentido mais realizador à vida, Cristiana da Luz decidiu embarcar num avião, atravessar meio mundo e buscar respostas num país milenar e fantasticamente singular. Hoje com 44 anos, a professora de língua inglesa e especializada em formação em processos de coaching não só é uma visitante recorrente desse país exótico – para nossos padrões ocidentais – como é também uma anfitriã para brasileiras curiosas pela cultura ancestral da Índia. A chapecoense, hoje radicada na capital de Santa Catarina, desde 2012 leva grupos de mulheres para explorar destinos fascinantes e inspiradores desse país, instigadas pela possibilidade de encontrar na quebra de paradigmas e na visão de mundo hindu uma resposta para sua sede de autoconhecimento. Conversamos pelas redes sociais com Cristiana da Luz sobre os impulsos interiores que a levaram até a Índia, sobre a experiência das dezenas de mulheres a quem ela já apresentou esse intrigante país e, para encerrar, pedimos uma indicação dos melhores roteiros para quem deseja se aventurar numa viagem cheia de descobertas.

 

Em que momento da sua vida surgiu o interesse pela Índia? Foi uma curiosidade ou uma necessidade de busca interior?

Acredito que os grandes passos que damos na vida, aqueles que dão sentido à nossa existência, sempre nascem de uma busca interior. Busca essa em ampliar nossa compreensão sobre nossas escolhas em uma interpretação mais profunda de quem somos. A Índia pulsou em mim em um momento que me desafiava a ir ao encontro com a mulher que eu havia me tornado até ali e principalmente com a que teria espaço para existir em um futuro próximo.  Eu buscava olhar melhor para mim, queria entender melhor meu fluxo, minha natureza íntima. Queria ressignificar sentimentos como a mágoa e também potencializar minha energia feminina. Queria pisar em um país que, apesar da sua longa existência, mantinha suas raízes e continuava a surpreender visitantes do mundo. Queria me desafiar a estar no “caos organizado” como é também chamada a Índia e identificar em mim o que precisava ir para o lugar. Queria compreender o que sustentava aqueles sorrisos largos apesar da precariedade financeira. Queria interpretar o brilho dos olhos dos indianos ao se conectar com quem cruzasse meu caminho. Bem, eu até tinha vários “quereres” mas admito que mergulhei na ideia praticamente sem expectativas para que pudesse ser surpreendida por cada detalhe. E por fim: penso que o jeito “exótico” da Índia era uma externalização de tudo em que eu não me enquadrava no “padrão social”, o que gerava em mim uma sensação de liberdade.

Quais foram as suas primeiras impressões?

Impressões sensoriais. O movimento incessante de rostos que me olhavam, o cheiro de incenso que se misturava aos temperos, o som dos mantras que se destacavam em meio a tanta buzina e palavras soltas e a cor do céu encoberta pela poluição.  Pisar na Índia é tocar um solo sagrado, porque na pele você sente a energia mesmo sem acreditar nela. Estar entre os indianos é se comunicar mais com o coração do que com o conteúdo das tuas questões. Também nasceu em mim a falta de compreensão, chegando até a não aceitar a quantidade de lixo, o que serviu para eu me auto questionar, buscando argumentos suficientes que me explicassem tudo aquilo que carregava na vida sem fazer sentido algum: relações tóxicas, bens materiais supérfluos, meu ego que preenchia parte das minhas preciosas horas diárias e muitos outros lixos de sentimentos e comportamentos insignificantes.

O que a fascinou nessa primeira experiência?

O que ainda me fascina hoje e todas as demais vezes; a pureza.

A Cristiana identificou imediatamente ali uma oportunidade de vida?

Identifiquei minha busca pessoal na direção do equilíbrio, na direção do simples, e principalmente do espiritual. Assim, tomei a decisão de continuar me permitindo nessa evolução e oportunizar isso para mais mulheres; no entanto essas experiências se desenharam em viagens sabáticas com um roteiro escolhido a partir de minhas vivências e encontros. Há anos que a viagem da Índia é uma jornada com propósito, com um roteiro inteligente, acompanhado por mim e por uma guia local e juntas entregamos nosso melhor com sutileza e respeito ao processo individual de cada viajante.

O que buscam as pessoas que você leva para a Índia? Qual é o perfil dos viajantes?

Buscam um tempo para elas, buscam vivências que engrandeçam seu caminho e façam sentido; buscam pedir pouco e receber o necessário e, acima de tudo, buscam aprendizados que reflitam em suas vidas e na vida de quem amam.

As expectativas delas se confirmam? Ou elas têm uma visão estereotipada ou fantasiosa da Índia?

Cada uma no seu processo tem também uma visão única e individual. A grande maioria se apaixona e quer voltar, mas há também aquelas que retornam com mais perguntas do que quando foram. Sobre fantasiar, claro que isso também acontece e aí mais uma vez cabe a maturidade para traduzir a real Índia que se apresenta. Eu, particularmente, acredito que isso é o incrível nas viagens, as diversas percepções, os diferentes sentimentos que afloram ao olhar o mesmo cenário.

A Índia é desaconselhável para algum tipo de pessoa?

Acredito que todo país é aconselhável para todos, pois – ou vai potencializar o que já se acredita e espera, ou mexer com algo que não estamos preparados e aí vem a oportunidade de amadurecer, de transcender. Estar de frente com o que te gera desconforto é ter a oportunidade de visitar uma “parte tua” mal resolvida.

Que traço cultural ou comportamento social dos indianos mais lhe causa estranheza mesmo depois de todas as viagens? 

O desapego.

Que roteiros são imperdíveis? Quais seriam os destinos Top 5?

Ridhikesh é a capital espiritual da Índia! Foi lá que os Beatles ficaram por um bom tempo e escreveram alguns sucessos; lá também é o destino para quem busca meditação, ayurveda, ioga e paz! O melhor para aproveitar esse local é ficar em um ashram (hotéis espirituais) para viver a simplicidade da Índia, como mostram as cenas do filme “Comer, rezar e amar”, com a Julia Roberts. Ah, se você vai a Rishikesh vá de trem e entenderá o quão surreal é esse trajeto… O famoso “chai” sendo servido durante a viagem, meninos que passam vendendo livros usados nos vagões e as montanhas do Himalaia que te entregam uma vista reflexiva!

Agra tem muito mais do que Taj, que é considerado o maior símbolo de amor do planeta. A viagem de ônibus de Dehli até lá é imperdível pelo que se vê no caminho!

Jaipur, se conseguir vá para o Diwali (Festival de Luz), que acontece no final de outubro. Você pode celebrar o festival que marca o início desse novo ciclo em um palácio junto a uma família real! Lá também tem o caminho até o palácio real onde você chega sendo levado por um elefante… Tatuagem de henna, óleos, festas noturnas …tudo com muita luz e velas que enfeitam e dão vida ao festival!

Dehli é o caos organizado. Os templos antigos exigem que você, além de tirar o calçado, ainda passe por um córrego de água pra limpar sua energia. Tem castelos, mercados públicos para você comprar aquelas roupas bemmmm coloridas, gente sorrindo por todo lado, muita poluição que às vezes impede até os voos, um trânsito que merece ser estudado. Tem a velha Dehli pra te surpreender, baladas, macacos e muita coisa para prender teu olhar!

Varanasi é um dos lugares mais questionadores que já pisei! Muitos corpos sendo levados em meio a multidão para a cremação na beira do Ganges (em macas, arrastados por bicicleta em folhas, sob os carros). Foi lá que Buda alcançou o Nirvana e suas cinzas foram jogadas no rio Ganges que passa por lá! Muita, mas muita fumaça das cremações que são milhares, o que faz com que você encontre restos de corpos ao fazer o passeio para ver o sol nascer. Rituais, flor de lótus, lojas incríveis e uma experiência única!

por Luiz Garcia 

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