Somos levados para a roda. À roda da mesa, estão quinze músicos sentados, a tocar quinze
instrumentos. Cícero Mateus senta-se à cabeceira, Betinho sorri para o irmão do outro lado
da mesa. E os dois tocam e sorriem a cantar. Todos sorriem na roda.
Nem sempre se sentam os quinze. Mas ali, à beira do Tejo, a roda reúne a família. Como já era na infância, em casa dos irmãos Mateus. Imbuídos nessa lembrança e na vontade de mostrar o samba a Portugal, criaram o “Projecto Viva o Samba”, há três anos, no Bairro Alto, primeiro na Associação Arte Pura, passando pelo Tacão Grande e mais tarde no espaço Arte Casa, na Bica. Hoje, o samba toca no bar Titanic Sur Mer, no Cais do Sodré, todos os domingos.
Na roda, que é um convívio, há sempre lugar para mais um: para mais um pandeiro, mais um cavaquinho, mais uma guitarra. Basta levar o talento e o coração. E por isso o grupo tem crescido, ano após ano. Assim chegou Madalena, com a cor do sol no cabelo, a claridade na pele e o calor na alma dela. Abraça-nos com um abraço e com o sorriso. Ao lado de Cícero, na roda, a menina portuguesa com sotaque do Brasil, tem o samba à flor da pele. E esta família, que é casa, deu-lhe a bela roda à vida. Ali, ela é feliz.
À roda dos músicos o público vai pulando e rodando os pés no samba. As pessoas vão chegando. Despem os casacos, pedem uma cerveja ou uma caipirinha no balcão do bar e ficam a dançar e a cantar um sambinha atrás do outro. É difícil definir um padrão: há jovens, menos jovens, brasileiros, portugueses, estrangeiros curiosos. Há manga curta, mini-saia, há blusão de cabedal, há até fato e camisa. Portugal quer sambar e acolheu este samba com a alegria necessária. “É preciso desmistificar o samba”, diz-nos Cícero, e a avaliar pela casa cada vez mais cheia de domingo para domingo, os portugueses parecem começar a entender o conceito. Porque o samba não é só o Carnaval, o “samba é um estado de espírito!”
Há ideias e ambição, o projecto quer crescer. A cada nova roda, há um novo convidado, uma nova voz, um novo instrumento. E Cícero conta-nos que sonha chamar para cantar vozes da nossa praça, como Raquel Tavares ou Carminho. Pelo caminho, um álbum de originais. Vai acontecer, acredita.
A bola de espelhos roda no tecto e faz rodar as luzes vermelhas nas paredes e nas caras da gente. Ali dentro, é sempre Verão, é “o dia da Alegria, e a tristeza nem pode pensar em chegar!!!”, determinam os mentores do projecto.
Por: Sílvia Duarte
Foto: Hugo Macedo