15 ANOS DE CINEMA LIVRE

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Ao atingir a sua 15ª edição, o IndieLisboa aproveitou para reflectir sobre o percurso realizado até aqui e sobre os caminhos que deseja percorrer nos próximos anos. Se fazemos um balanço muito positivo pela forma consolidada como o IndieLisboa integra desde há muito o grupo dos principais festivais nacionais e tem um papel relevante também no circuito internacional de festivais mais atentos à renovação das formas do cinema, não deixamos igualmente de sentir que as mudanças e os desafios actuais que se colocam aos festivais de cinema são enormes e obrigam-nos a um trabalho permanente de questionamento das nossas ideias e modelos, o que se exprime de forma evidente e de várias maneiras na presente edição.

Sem sentirmos a necessidade de assinalar o 15º aniversário com iniciativas celebrativas específicas, esta edição foi preparada com o objectivo de continuar a fazer do IndieLisboa uma grande festa à volta de um cinema permanentemente aberto à descoberta formal, à singularidade autoral e às convulsões do mundo contemporâneo. Mantendo-se sem alteração o desenho de secções do festival, e repetindo-se o mapa de salas dos últimos anos, a principal novidade desta edição está no significativo reforço da vertente mais vocacionada para o público profissional nacional e estrangeiro. Este ano, as actividades de indústria vão estar concentradas num novo Festival Center sediado na renovada Biblioteca Palácio Galveias. Aí estarão centralizados os principais serviços destinados aos participantes de indústria, desde a videoteca, às conferências e aos encontros entre profissionais, reforçando uma componente que assume cada vez maior importância na identidade do IndieLisboa enquanto espaço onde não apenas se pode ver um retrato do que há de mais estimulante no ano cinematográfico em curso, como se ajuda a começar o que se há de ver num futuro próximo. Relativamente à sua programação, o IndieLisboa volta a apostar numa selecção que tanto promove o contacto com os filmes mais recentes de nomes consagrados do cinema de autor mundial, como se ocupa de revelar um conjunto muito alargado de mais novos e promissores autores (no fundo a mistura que constitui uma das características mais salientes do festival desde a sua origem tal como a igual importância dada a longas e curtas metragens e à abolição de quaisquer fronteiras de género). Entre os primeiros, há curiosamente vários nomes em comum com os realizadores apresentados na primeira edição (Eugène Green, Sérgio Tréfaut, Teresa Villaverde), mas um deles tem que ser destacado. Tendo estado presente na Competição Internacional inaugural de 2004 com La niña santa, a realizadora argentina Lucrecia Martel vai ser este ano  homenageada pelo IndieLisboa na secção Herói Independente com uma retrospectiva alargada do seu trabalho desde o início com a primeira curta metragem até ao aclamadíssimo Zama (por sinal, uma co-produção portuguesa).
Sendo hoje eventualmente o mais relevante nome do cinema argentino, Martel irá partilhar a sua visão do cinema com o público numa masterclass em que também participa a cineasta Cláudia Varejão.

O outro Herói Independente desta edição é uma referência incontornável da modernidade cinematográfica europeia. Parte essencial da Nouvelle Vague, Jacques Rozier é porventura o menos conhecido dos realizadores centrais do movimento e o que mais justificava o prazer e o dever de uma (re)descoberta. Em colaboração com a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, vamos poder apresentar a mais completa retrospectiva da obra de Jacques Rozier alguma vez organizada fora de França e contar com a sua presença para esta celebração do alegria de filmar e de
viver numa obra que atravessa mais de meio século de cinema e que permanece ainda em aberto.

O forte compromisso do IndieLisboa com o cinema português vem desde a sua primeira edição e nunca deixou de tentar encontrar novas formas de apoiar a produção e a divulgação da nossa produção. A edição com que celebramos o 15º aniversário do IndieLisboa acontece num momento em que uma nova lei do cinema que ditará muito do futuro do cinema português tem sido objecto de intensa e pertinente contestação no que respeita ao processo de nomeação dos júris. Solidarizando-se com a defesa intransigente do principal legado do cinema português (a sua liberdade e autonomia face aos constrangimentos comerciais permitida pelo continuado apoio de políticas culturais públicas), o IndieLisboa vai pela primeira vez na sua história abrir e encerrar o festival com obras portuguesas. Entre uma e outra, haverá quase cinco dezenas de novos filmes portugueses para ver espalhados pelas várias secções do festival.
A estes soma-se o conjunto de uma dezena de projectos que irão ser discutidos no âmbito do Fundo de Apoio ao Cinema e tantos outros filmes ainda inacabados que poderão ser vistos durante as Lisbon Screenings por uma plateia de programadores e distribuidores internacionais convidados e que esperamos venham a ter ao longo de 2018 ou já em 2019 a sua primeira apresentação mundial

Por:Miguel Valverde, Nuno Sena e Carlos Ramos

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