#SAL

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Nadando em uma praia da Ilha Grande, Rio de Janeiro, vi uma família fazendo churrasco em um veleiro. Então descobri que gostaria de fazer churrasco ali também, naquele lugar. Talvez tenha sido uma das formas mais idiotas de alguém entrar no mundo da vela que já se viu, mas de qualquer maneira quando comecei a aprender a pilotar a minha churrasqueira autopropelida algo me atingiu. Descobri algo novo: Um mundo inusitado que misturava algo de contracultura, abrindo mão de convenções e rediscutindo a forma que vivemos, mas que também te torna um pouco renascentista, onde é comum em uma mesa ouvir conversas sobre mecânica de fluidos, meteorologia, eletrônica e receitas de pão.

Foi um impacto tão forte que senti necessidade de mostrar isto para o mundo. Enxergava ali mais do que um esporte ou uma forma de lazer, era uma forma de olhar o mundo por outro ângulo, tanto metaforicamente quanto literalmente. No Brasil ao falar que você mora em um barco causa quase sempre uma reação de espanto e muitas vezes perguntas como: Mas e de noite? E o que vocês comem? É sempre divertido ver esta total falta de conhecimento, mas é um paradoxo, pois somos um país descoberto pelo mar e infelizmente demos as costas para ele. Curiosamente as maiores diferenças não estão nestas perguntas rasas, mas sim na forma como as pessoas se relacionam, em como a sua personalidade se molda em um ambiente onde sempre se vê o horizonte, onde não há pedaços de terra em seu nome, nem nada que impeça você de levar tudo o que é seu para outro lugar.

Hoje vivo quase que inteiramente para mostrar este universo, tenho um canal com 800.000 minutos assistidos todo mês no Youtube, mais outros tantos na TV e noto que há uma cultura evoluindo. Não é algo que surgiu agora e muito menos que eu tenha feito sozinho, acho que é a coincidência de fatores tecnológicos e sociais que está fazendo com que muitas pessoas venham morar em veleiros no Brasil. Não acho que vamos ter números suficientes para entrar nas estatísticas nacionais, mas enxergo um estilo de vida que tem força para influenciar a sociedade em certa medida. Assim como o surf fez a partir das décadas de 1950 e 1960, afetando a moda, as artes e a linguagem de grande parte da população mundial.

Pode ser que eu esteja vendo apenas uma miragem, mas se vier a acontecer não será nenhuma novidade a luz da história. As velas já foram um grande catalisador de inovações tecnológicas e um caldeirão de culturas que transformou o mundo, muitas delas carregando a Cruz da Ordem de Cristo e fazendo sombra a marinheiros que liam Camões.

Texto e fotografia por Adriano Plotzki

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